quinta-feira, 4 de agosto de 2011

DIIÁRIO DE BORDO: ENTRE O SONHO E A REALIDADE...

                                          Jorge Bichuetti

Noite fria,, silenciosa... Talvez, pudesse dizer: Só minha Luinha está comigo... Não há luar, nem pássaros... Porém, tenho comigo tantos, mas tantos sonhos que sinto a vida povoada na quietude desta noite fria e solitária.
Tomo meu café quente... e o conforto que sinto me leva a pensar na noite lá fora... O inverno é um tempo difícil para muitos que vivem com a vida congelada na desvalia...
Repasso meu dia e me vejo cheio de vontade de reafirmar minha vocação de ser no caminho um eco da esperança na luta diária para que a utopia subverta a realidade. 
Vivemos num mundo onde a realidade é uma crua desumanidade...
Vivemos uma realidade que é sustentação cruel da indignidade...
A ordem é atraso, é barbárie... O progresso é destrutividade, é aniquilamento da vida...
Agasalhado e no conforto da minha casa, não me permito a comodidade de não ver, não sentir, não pensar... que esta realidade de poesia e sonhos, cantigas e noites enluaradas que me acalentam é um valor que tenho...
mas, que não me acomoda no mundo; pois esta realidade também é feita de perversidades que me machucam o coração e a pele.
Ah! como não sonhar? como não lutar?...
A Lua que brilha no céu não é minha, me acalenta por pura bondade... ela é da vida: do povo da rua , dos travestis, das prostitutas, dos meninos de rua, dos povos indígenas, dos dependentes químicos, dos oprimidos e dos que carregam a pele ferida pelas chagas da desvalia...
A ternura que anima nossa poesia e nossas cantigas é ternura sonhada; mas, igualmente, ternura negada no dia-a-dia da vida que exclui e oprime... É ternura de sonho, sonho que quando caminha na luta a torna ternura viva, pura e indignada cólera... Indignação e cólera diante dos mulheres espancadas, da prostituição infantil, das vítimas do abuso sexual, de Belo Monte, das mutilações no Código Florestal, das dores do mundo... mundo de justiça e paz que ternamente sonhamos, mas que é no cotidiano ainda mundo negado, violado, mutilado...
Como dói o medo que me assombra quando penso que a estrela da esperança possa, um dia, se apagar...
Como me dói o medo de um dia viver num mundo onde a mais-valia e desvalia estejam tão incorporadas que já não acha espaço para a utopia...
Muitos passam a vida resignados... Mas resignação passiva é cumplicidade...
Muitos preferem a desistência da luta em nome da paz... Mas não lhes passam pelo pensamento que ninguém tem o direito de negociar a paz pessoal e particular, usando como moeda de troca a morte e o sofrimento das multidões dos que perambulam pela vida oprimidos e explorados... Calar o grito dos excluídos não é bondade... não é amor... não é solidariedade...
A realidade da vida é que a vida clama pelo direito de ser vida de todos e para todos;e se vivemos num mundo onde a realidade é a morte, a ganância e a exclusão... a realidade que precisa ser honrada e experenciada é o sonho insurgente e colérico que ousa ser caminho para um outro mundo possível e necessário...
Paro e penso.. por que desta reflexão?...
Recordo Guattari...    e penso que como ele sinto necessidade de afirmar que  a esquizoanálise e a luta pelo direito à diferença, a compreensão do devir e do acontecimento nunca me afastaram de Marx nem de Sartre... Nem nunca desisti do socialismo... Nem compreendo os que em nome do devir e do rizoma negam a potência revolucionária e a dignidade ética do ser humano no seu agir coletivo como sujeito da história...
Pra mim, a história não morreu...  Anda nublada pelas mesmas trinta moedas que um dia criaram o calvário e a crucificação do homem que sonhava com um  mundo de amor e paz...


2 comentários:

Preludios do Infinito Particular disse...

Adoro ler as frases de Sartre, ele escreveu alguns poemas que me encantam. Texto envolvente que nos remete ao existtencialismo, socialismo libertário, utopias... Olha, o meu Hermeneuticas de Lou sempre recebeu você com muito carinho... Por isso, venho aqui retribuir todas aquelas suas considerações algumas vezes ditas por lá. Meu carinhoso abraço Jorge da amiga... Lou Moonrise.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Lou: meu carinho e minha ternura; no frio, sinto-me no calor das amizades... e veja vamos qualquer fazer uma parceria para tecer uma ode a Sartre. Abraços ternos, jorge