sábado, 10 de setembro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: QUE PAÍS É ESTE?...

                              Jorge Bichuetti

As badaladas dos sinos madrugaram a vida; a vida anda ávida de aurora... No quintal, o vento que ontem na noite era refrigério, hoje já não está... O tempo seco castiga; me castiga... Contudo, nada persiste incômodo, quando ergo os olhos e miro o horizonte azul e deixo o canto dos passarinhos ritmarem meu acordar... Acordo com sonhos azuis...
Minha pequena Luínha não consegue sair do lugar de vigilante dos meus passos... Anda do meu lado: no café, na escrita... Observa-me... depois, que me vê lépido, volta ao seu ninho de repouso e sonhos...
O Grito dos Excluídos - no dia 07 de Setembro - e a Universidade Popular hoje, dia 10, me conduzem por vielas do pensamento e o mundo desnudo me chama a atenção...
Há um mundo vestido, travestido, que vemos na mídia... E há um outro mundo, o mundo de dores e esperanças, lágrimas e sonhos, mundo vivo, feito de gente, que sentimos nas lutas e trabalhos populares.
O mundo das aparências é maquiado, dissimulado, segue o script das velhas idealizações: mundo colorido e feliz... Feliz no grito de gol, nos risos triviais, na banalização da vida de miséria e exclusão que persiste como denúncia viva de uma realidade de exploração, opressão e mistificação...
Este mundo maquiado diz que ser feliz é uma questão de esforço pessoal, de valentia individual; ou seja, afirma que os que possuem valor vencem...
O mundo real conta a história da vida negada, mortificada, dilacerada: revela a realidade da exclusão...
Não somos iguais nos direitos, nem nas oportunidades...
Não há lugar para os que na sua singularidade fogem dos padrões codificados como vida de normalidade...
Um pequena exemplificação, dura e cruel: se alguém sofre de transtorno depressivo, já não é  considerado pelo sistema, no Brasil, como alguém com direito à aposentadoria... Todavia, se alguém passa num concurso público, deste nosso mesmo Brasil, não ingressará nas fileiras do trabalho, se o seu exame mental é um informante de que ele padece de um sofrimento que, contraditoriamente, quando requerido os benefícios é negado como causa de incapacidade para o trabalho; só que no cenário das contratações este sofrimento é motivo de não-admissão do trabalhador que legitimamente conseguiu sua vaga sendo vitorioso no concurso... Um estado esquizofrênico... tendencioso, autoritário e excludente...
Vivemos num Estado de Direito?...
A democracia é cidadania respeitada?...
Para se trabalhar, exige-se um atestado de sanidade mental: nele, as neurose, os transtornos psicossomáticos são incapacitantes... uma vez, que fecham as portas do mundo do trabalho...
Contudo, uma multidão de deprimidos, ansiosos, panicados, e portadores de outros sofrimentos mentais, não considerados aptos ao trabalho; vêem suas petições de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez negadas... Nem mesmo pesam o grau de medicação que estes são obrigados a usar para lograrem manter seu cotidiano...
Esta é uma reflexão sobre a vida real... Um desnudamento da ação pública nas idiossincracias que a situa como ação de normatização excludente; negação do estado de direitos e poluição ética incrustada nos protocolos que regem a vida pública...
Que país é este?...
Se abordamos , neste início de dia, tal temática... o fizemos no sentido de se pensar que não podemos deixar de ver que somos cúmplices da realidade e do que tempo que habitamos...
Um mundo de ternura e compaixão, justiça social e liberdade, solidariedade e cidadania... não é um mundo onde o estado é um ente de vida dupla, um esquizofrênico e um travesti...
Lutemos por um mundo includente.... de direitos humanos e direito à diferença... Lutemos por um Estado ético... por um estado que não necessite ser terapeutizado pela condição de portador lúcido de múltiplas persionalidades...


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