terça-feira, 6 de setembro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: UM CANTO DE PAZ...

                                  Jorge Bichuetti

No quintal, tudo era como sempre: encanto e magia... O vento, o céu entre o estrelado da madrugada e os primeiros raios do sol, o orvalho... o verde... Os passarinhos e sua cantoria... Entre olhares e reflexões, um passarinho trina uma melodia suave e terna: era um canto de paz... Emocionado, acaricio minha Luínha, tentando dizer-lhe do valor daquela canção... Ela adormece... irá sonhar sonhos azuis...
Eu retoma o trabalho do blog... Um espaço entre a poesia e a luta, entre as dores da vida e os sonhos que sustentam no meu caminho a esperança viva numa Utopia Ativa...
... Era um canto de paz.
Respiro e sopro o ar... impregnando o tempo com meus pensamentos: o mundo anda sedento de paz...
Não há paz dissimulada da vida aniquilada no chão, agonizante... Silêncio de morte...
Mas, a paz nascida da comunhão, da ternura, da compaixão e da solidariedade... Silêncio de vida...
A violência é na contemporaneidade um fato incrustado no dia-a-dia da vida social...
Há guerras... Há violência na rua... Há violência doméstica... Há violência policial... Há violências...
Somos violentos; somos violentados...
Muitos acreditam que a violência é uma expressão da natureza humana... Ela é histórica, é social, é psíquica...
A violência enraiza-se na exclusão da ternura, da compaixão, da solidariedade, do amor... excluídos da estrutura sócio-histórica que é uma estrutura de exploração e dominação... excluídos das subjetividades que são formatadas num funcionamento agressivo - individualista, competitivo, consumista, paranóico, narcisista...
O canto de paz não é um canto entranhado no socius; ele é insurgente... Clama por vida nova e novo mundo...
Não existe paz no marasmo nascido da tirania e da dominação: não é paz, é silêncio, vidas amordaçadas pela opressão...
Hoje, a violência já não vigora via um estado policialesco... A introjetamos e a reproduzimos... 
Ontem, ela estava nos porões da Ditadura Militar... Hoje, ela ergue-se e se impõe na capilaridade das relações entre os indivíduos no espaço da da vida social...
É autoritarismo, é microfascismo... Um cotidiano onde a liberdade é liberdade dissimulada; e os direitos, são sempre desiguais...
A cidadania plena não se instala fora da paz...
E a paz não existe longe da igualdade...
Os que glorificam a pseudo-paz do silêncio dos corpos submissos e servis... nomeiam de paz o mutismo dos corpos danificados que não conseguem ainda perceber que para além deste mundo de desamor é possível inventar um mundo de amor, onde a paz floresça como frutificação da árvore da vida cultivada na liberdade de existir ampliada para todos...
O canto de paz pede que resgatemos a potência da ternura e da compaixão, do amor e da solidariedade...
Somente mudando nosso paradigma existencial , fertilizamos no caminho as florescências da paz...
O individualismo não é uma assepética valorização do indivíduo; é a afirmação de que a vida de uns podem e devem se sobrepor a vida da grande maioria dos excluídos...
O narcisismo não é somente um psiquismo centrado na hipertrofia do eu; é um eu que se realiza na atrofia do outro...
Eis porque é inegável o cáracter includente e revolucionário do amor...
Reich afirmou que o Cristo foi crucificado por ser um projeto de amor incomensurável, incondicional...
E é o amor o verdadeiro e autêntico útero da paz... Na intimidade das nossas vidas; e no caminho da história de luta e sonhos da nossas coletividades...

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