domingo, 4 de setembro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: VIVER VERDEJANDO

                                         Jorge Bichuetti

No meu quintal, as estrelas brilhavam com tamanho encanto que eu podia ouvi-las... são as bailarinas e as poetisas da imensidão... e se o luar é o senhor da paixão e da compaixão, elas são as divas da ternura e da suavidade, uma transcendência incrustada na nossa mundaneidade... O vento forte e vigoroso me contava no ruflar dos álamos das matas ... e, o sentindo, embalei minha pequena Luínha e dançamos na escuridão da noite... silenciosos, ritmando os passos na musicalidade da própria vida... Recordei meus estudos sobre os povos indígenas e minha paixão ma luta... Uma lágrima caiu lamentando os perigos que correm o Xingu e o Código Florestal... Muita coisas venho aprendendo com os nossos índios: mitos, costumes, a jovialidade, o esp´´irito guerreiro...
Aqui, escrevendo escuto "A Floresta do Amazonas"... 
Antigamente, todo problema ou dúvida, me angustiava e, ansiosamente, buscava uma fórmula matemática para que velozmente pudesse achar uma solução... Nunca deu muito certo: quando encontrava a solução, me descobria incapaz de me apoderar dela... ou nada conseguia e permanecia na ansiedade...
Os povos indígenas não se escravizam ao imediatismo... Se uma questão se ergue... esperam o sinal... a resposta da vida... Escutam a natureza; dão vida aos seus sonhos... e esperando, serenos e calmos, podem quando descobrem uma saída, dar-lhe vida, transformá-la em caminho e em horizonte... No silêncio da espera, eles amadureceram para a mudança que todo questionamento verdadeiro exige...
Fabricamos muitas questões... mas, quase nunca, desejamos as mudanças que cada um dos questionamentos provocam quando assumidos na sua radicalidade...
Escuto o vento... e ele me responde... o escuto...
Lhe pergunto qual a velocidade dos passos de uma caminhada...  Ele fala: se desejo limpar, varrer, transformar, acelero meu passo e me faço ventania... já quando sinto que devo asserenar e suavizar, lentifico-me, acaricio e me faço brisa... Dialogo mais e aprendo: nossa força na ação precisa de ser regulada... o vendaval limpa o ar... a brisa refresca a germinação e a maturação dos que necessitam crescer...
Lhe agradeço, e aqui estou, refletindo sobre a velocidade da nossa vida...
Estressados na ganância e nos compromissos da rotina... Lerdos, vagarosos na execução das tarefas de construção de uma vida de ternura e paz...
Relembro as palavras do vento e elas me levam ao meu desejo de viver verdejando, e, neste desejo, ressoa outras sábias palavras...
Perguntado sobre a velocidade dos sonhos, contesta o Insurgente Subcomandante Marcos: " A velocidade do sonho não sei... aqui, na selva, entre crianças desnutridas e velhos tuberculosos, entre perigos e fragilidades... perseguidos... a velocidade do sonho, eu não sei... Mas a velocidade do pesadelo é o tempo que se gasta para cruzar os braços, abaixar os olhos, acomodar-se, acovardar-se.... esta é a velocidade do pesadelo..."
Escuto num canto do meu coração, a voz majestosa de Mercedes Sosa: " Só peço a Deus... que a dor não me seja indiferente... e que morte não me encontre vazia e só, sem ter feito o suficiente..."
A floresta canta...
Reafirmo meu desejo de viver verdejando... um sonho, uma meta... uma tarefa... um projeto...
E neste desejo, volto ao texto do grande guerreiro Zapatista:" Nesta cabana, de onde vejo um montão de estrelas me espiando, talvez, possa dizer que a velocidade do sonho é a mesma velocidade com que em meu sonho... deitada nas coxas da mulher amada... desenho nos seus pés palavras de infinito amor..."


2 comentários:

Adilson Shiva - Rio de Janeiro - Brazil disse...

Amém ... meu amigo ... que o verde recubra de esperanças tantas desesperanças ... e que a máxima baconiana nunca se cumpra ...
abraços

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Adilson: seu carinho é vida e força na caminhada... abs ternos, jorge