quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

AMOR: HÁ ESPINHOS NA ROSA; HÁ UMA ROSA NOS ESPINHOS...

                                                                      Jorge Bichuetti

Uma festa. Amigos... Corpos livres; corações ardentes... Um olhar trocado; uma carícia... Um beijo roubado; uma flor...
Encantados, nasce o amor... Amor-vínculo ganha forma e contorno... Um modo de funcionar... Um modo de caminhar na geografia do amor.
Sabemos da dor que emerge no vínculo e na história amorosa, marcado pela simbiose, pelo que, normalmente, chamamos co-dependência.
Se somos livres e amantes da liberdade, o que nos levam a vínculos de dominação-submissão, de dependência e servidão?
Sinteticamente, diríamos: os pressupostos que podemos driblar a vida e negá-la na sua própria essência... Queremos infinitude e eternidade; não toleramos a incompletude e, assim, ansiamos por um absoluto... Somos vítimas de nós mesmos, da nossa onipotência e do nosso narcisismo.
Tudo passa e se renova... Os ventos trazem novas sementes; e o sol reaparece espontâneo... Para que surja um novo dia, ninguém necessita aprisionar o astro-rei.
Por que?... Agora, nomeemos as forças da vida, operando no nossa subjetividade com a simplicidade da suas aparições...
Por que, desprezando a liberdade, buscamos relações simbióticas de co-dependência?
- insegurança pessoal;
- vazio existencial;
- incapacidade de estar, suportar e gostar de si mesmo e da própria companhia;
- ilusão de que é possível o prazer oceânico, e uma vida sem angústia e tédio;
- ânsia de completude, nenhum buraco ou fissura;
- medo da solidão;
-  o ideal do amor romântico, tipo casal fatal;
- vida esvaziada, com todo investimento focalizado no amor e na relação;
- excesso de projeções e identificações, negando-se á afirmação da singularidade e alteridade de si mesmo e do outro;
- falsa compreensão do amor como martírio, renúncia e auto-flagelação; no esquecimento e que amor é partilha, cuidado mútuo, prazer e alegria, dores divididas, doação , ternura compartilhada e elos de comunhão na diversidade e carícia e diálogo numa reluzente suavidade e numa dialética união;
- enfim, o próprio medo de amar e não ser amado; de saber-se, necessário, para que se mantenha viva a chama do amor e da com-paixão que ele seja cultivado, reinventado e construido no jardim do dia-a-dia, onde brotam, naturalmente, rosas e espinhos...
Há na rosa um espinho...
Há no espinho uma rosa...
Amor não graça divina, nem magia zoodiacal... O amor é trabalho e sonho de laboriosos jardineiros que cuidam da florescência e capinam as ervas-daninhas que se relegadas ao tempo, logo, vira um  matagal...


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