quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

BONS ENCONTROS: SOBRE A ALEGRIA E A DEPRESSÃO

                                       
                      REFLEXÕES

- "Aquele que nunca viu a tristeza, nunca reconhecerá a alegria." Khalill Gibran

- "A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e não na vitoria propriamente dita." Gandhi

- "Por detrás da Alegria e do Riso, pode haver uma natureza vulgar, dura e insensível. Mas, por detrás do Sofrimento, há sempre Sofrimento. Ao contrário do Prazer , a Dor não tem máscara." Oscar Wilde

_ "Deus nos dá pessoas e coisas,
para aprendermos a alegria...
Depois, retoma coisas e pessoas
para ver se já somos capazes da alegria
sozinhos...
Essa... a alegria que ele quer" Guimarães Rosa

- "A angústia de ter perdido, não supera a alegria de ter um dia possuído" Santo Agostinho

- "Te amo, beijo em tua boca a alegria." Pablp Neruda

- "Deus é alegria. Uma criança é alegria. Deus e uma criança têm isso em comum: ambos sabem que o universo é uma caixa de brinquedos. Deus vê o mundo com os olhos de uma criança.Está sempre à procura de companheiros para brincar." Rubem Alves

_ "A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria." Paulo Freire

- "A todos os que sofrem e estão sós, dai sempre um sorriso de alegria. Não lhes proporciones apenas os vossos cuidados, mas também o vosso coração." Madre Tereza de Calcutá

                Depressão 

                         AMAURI FERREIRA

O maior valor da depressão é que ela expõe a necessidade de uma grande mudança no percurso de uma vida. Mudança mesmo, ruptura. Somos honestos com nós mesmos quando não desejamos mais o engodo das distrações enlatadas, porque percebemos que elas não servem para dar conta de uma dor crescente, sufocante, uma sensação do nada, do vazio, de um “para quê a existência?” que insiste em cutucar nas horas do café, do trabalho, no cotidiano que foi banalizado, tornado insosso, enfadonho – o mundo, as pessoas, a história pessoal parecem ser erros, embustes, que bloqueiam alguma coisa que sentimos ser realmente maior, que é verdadeiramente nossa, porém ainda sem força suficiente para vir à tona e mudar um percurso que parece não ter mais saída alguma. No mínimo o deprimido expõe à sociedade o erro da conservação das obrigações que apenas reproduzem fantasmas resignados com as migalhas distribuídas por quem precisa farejar a impotência alheia para extrair vantagens – desse modo, cada sofredor entrega a sua própria vida aos tubarões famintos. Mas, para os tubarões, a depressão pode ser uma séria ameaça à permanência das suas leis. Os moralistas agem rápido quando querem impedir que alguém se afunde na tristeza, e por isso recorrem ao seu método mais usual para “corrigir” o comportamento de todos que ousam desviar-se do “bom” caminho: o julgamento. Eles dizem, com o tom de uma “inteligência suprema”, que o deprimido só pode ser um doente ou louco. Mas comparado com esses funcionários de reprodução dos valores de uma moral utilitária, o deprimido está muito mais vivo, muito mais próximo de um autêntico renascimento. A depressão pode nos ensinar que o abandono do que nos esmaga é a condição para respirarmos um ar absolutamente renovado, de modo que, ao virarmos para trás, olhamos para tudo que se desprendeu de nós, tudo aquilo que foi maravilhosamente desprezado (todo sentimento de dever, de culpa, entre outras prisões), e nos alegramos pela passagem, pela conquista da autonomia, do querer, do nosso querer, curados de toda doença que uma sociedade fraca quer nos contaminar, e, por isso, vibramos em cada músculo, em cada pensamento – e assim seguimos adiante, mas mudados. Certamente, isso não é um processo simples e rápido, pois envolve muita paciência, disfarce, aliança, querer, sobretudo um querer que a vida passe mais intensa, de outro jeito, do nosso jeito. Mas antes que tudo isso seja, de fato, experimentado, o nosso maior perigo são as muitas opções oferecidas para uma fuga cada vez mais rápida da depressão: “nada de tristeza, isso é coisa de preguiçoso!”, gritam os catequizadores. O reino de Deus”, a “alma gêmea”, a “profissão ideal”: tais opções reforçam o conformismo, e vemos, desse modo, “o mundinho encantado” ser novamente objeto de crença... e a ação passa a ser adiada, mais uma vez – o que, com certeza, faz um parasita festejar... O entretenimento e o trabalho utilitário são apenas alguns remédios para que a massa não seja muito incomodada pela depressão, mantendo-a submetida aos compromissos que, evidentemente, continuam a esmagá-la. A imagem de um indivíduo que deseja a mentira por medo de assumir aquilo que, nele mesmo, não cessa de exigir, que o incomoda, que continua a gritar, é que é deplorável. Como ele não sabe o que fazer quando o ritmo que o mantém distraído de si é momentaneamente suspenso, gostaria que essa suspensão fosse embora rapidamente. O domingo é o seu grande dia dedicado ao descanso, mas que é também o dia do seu grande tédio, de um sentimento de desperdício de vida, de uma dor que será apaziguada com qualquer coisa que tenha que preencher esse vazio (as horas dedicadas à televisão, distrações, dormir em excesso para não sentir o tempo passar). Mais uma vez: isso é que é deplorável.


2 comentários:

Tânia Marques disse...

Jorge, certamente tu és muito importante em nossas vidas. O que escreveste era tudo o que eu precisava ouvir, ler, entender. Também li o teu texto em voz alta para o meu filho Vitáli. Nós, eu pelo menos, leiga no assunto, até certo ponto, inferi que acabo reproduzindo o sistema no momento em que penso que a depressão pode ser distraída com o trabalho, com o estudo, etc. Muito obrigada por tuas palavras, por teres aparecido em minha vida, tu és um anjo que me protege, sem ter a noção disso, tu és um amigo "tudo de bom", inteligente, sensível, fraterno, sincero, verdadeiro, amável, revolucionário...por aí, eu imagino o que o teus pacientes sentem em relação a ti, imagino até quanta transferência não acontece. Você é o "colinho" virtual de que eu necessitava. Muito obrigada por existires em minha vida e na vida de todos que te amam. Jorge, postei em muitos dos meus blogs e gostaria de uma atenção especial tua parte, quando tiveres um tempinho,para os seguintes:
http://wwwestudosculturaisemeducacao.blogspot.com
http://wwwumanovaesteticahumana.blogspot.com
http://www.degraucultural.blogspot.com
http://wwwpalavraseimagens.blogspot.com
Um lindo dia de luz para ti e beijos com imensa ternura e amizade.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Tânia, assim que terminar meus atendimentos, irei ver suas postagens com alegria e sabendo que me dará energias novas e novas ideias... A vida vai nos ensinando a caminhar e caminhando, descobrimos sonhos que nos dignificam e renovam. Nossas trocas me enriquecem e me humanizam... Ontem, estive organizando com o pessoal o "carnaval da inclusão"... Cada ano, aumenta o número dos que desejam alegrar-se e alegrar a vida. As universidades este ano estão mais protagonistas, antes eram, mas agora, estão mais vivos... Os portadores de sofrimento mental amam as fantasias e se querem belos. Antes, no rpimeiro desfile, como não tinhamos tempo e dinheiro, a estética era um pouco esquecida, eles não se contagiavam tanto: agora, com fantasias, maquiagem, adereços e samba próprio, eles estão cheios de vida e animação.
Eu, também, hoje, porém, descansarei a noite... Visitarei os blogs amigos... Me alimenta...
Um carinhoso abraço, jorge