Jorge Bichuetti
Céu claro, Dia levemente nublado, porém, com o sol irradiando-se pródigo e acolhedor.
Os pássaros se foram... A lua já toda desperta se revela uma tentação dionísica, deseja brincar, passear, festar, borboletear pela vida.
Contudo, fiel, mantém-se deitada nos meus pés.
Ela vive plenamente seus amores...
Já eu nem sempre sei, muito corretamente, quais são meus desejos, sonhos e prioridades...
Me pego, negando meu coração, e, vivendo as encomendas do mundo.
Somos nossas opções?
Dirigimos nossa própria vida?
O que queremos de nós?
Reconheço no homem uma obra inacabada, um conjunto de tarefas, e um processo de reinvenção que se dá na própria caminhada.
Que caminhos, entretanto, escolhemos nas encruzilhadas do destino?
Onde depositamos nosso tesouro, ali, pulsa nosso coração...
Recordo, aqui, Dom Hélder: " Digo a vocês: o ideal é ter as mãos de Marta e o coração de Maria.".
Mãos: trabalho, militância, compromisso, ação, reflexão, intervenção, esforço, ofício, sacrifício, dedicação, justa medida, conviviabilidade, agir solidário e lutas libertárias...
Coração: ternura, carinho, amor, sonhos, utopias, arte e poesia, serenidade e suavidade, com-paixão, desejos, carícia essencial, generosidade e solidariedade, delírios e devires, alegria e voos na imensidão...
O homem se inventa conjugando mãos e coração.
Não conseguimos ser e viver tudo... Necessitamos selecionar caminhos e horizontes, e, então, confiando na potência da vida que se realiza na própria caminhada.
Houve um tempo que optar era, tão-somente, criticar, denunciar, indignar-se e devir-se rebeldia.
A opção é escolha... Criticidade e produção inventiva, indignação rebelde e vida renovado nas linhas e fluxos da própria utopia perseguida.
Reverbera a velha pergunta de Foucault: o que estamos fazendo de nós?
Radicalizemos nossas opções, mas, igualmente, intensifiquemos nossos processos de reinvenção de si mesmos.
Amemos, partilhemos, inovemos...
Busquemos a ternura e a poesia, a justiça e liberdade...
Coloquemos nossa vida nos territórios de paz e de alteridade...
Busquemos estar onde cantam os passarinhos...
O devir não pode ser artificialmente forjado nem ocorre nos corpos alijados das estradas e territórios dos acontecimentos que alisam a vida e a reinventam.
Sonhemos com o novo, encarnado-o no aqui e agora das nossas existências.
Suprimamos do nosso horizonte a dicotomia entre revolução fora e dentro, no mundo e em nós mesmos.
Mergulhemos na potência a vida - sonho e amor, trabalho e produção, e sejamos, então a alegria.
Segundo Merhy, o agir transformador exige agenciamentos efetuados por quem alegra e se alegra, frustra e se frustra...
Um humano novo existir...
Assim, seremos a semente, as flores e os frutos do amanhã.
E vivermos felizes no tempo da delicadeza.
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
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18 comentários:
Parabéns, suas palavras embalaram os meus sonhos.
http://deleuzefilosofia.blogspot.com/
Observa este blog.
Tânia, eu quero um dia de domingo, também... Maravilhoso.
Deleuze...Muito bom, mesmo. Já extrai uma postagem, fazendo colagem: irei divulgá-o no Urugaui, terra que eu amo...
Visitei hoje o deleuzefilosofia: espanhol, não?
Tânia, nossos sonhos nascem e cresce com os bons encontros. Espinosa tinnha razão... Lhe tenho com carinho e ternura, Abraços, Jorge
Fiz um curso na UFRGS na Filosofia das Diferenças. Fui aluna do Tomaz Tadeu da Silva, da Sandra Corazza e da Paola Zordan. Agora, quando eu iniciar o Mestrado, estarei mais perto deles, porém não estarei na esquizoanálise, como eu prometi a Sandra Corazza. Dei uma desviada da Filosofia das Diferenças para os Estudos Culturais em Educação, por ser este o meu chão, o meu território mais conhecido, ou superficialmente conhecido. Bye, bye!
Tânia, a educação é um campo fascinante... Nele,pululam encruziladas e nos, uma caminhada de investimento para se pensar e se construir uma verdadeira desintitucionalização da escola-instituição total...
É jardim carente: aduba-lo.
Abraços, com carinho, Jorge
Pois é poeta e companheiro ...mais um tema instigante ... então respondo com versos ..poderia filosofar , mas gosto da poesia , porque ela respeita as coisas nos seus mistérios ... um forte abraço ... boa tarde...
Eterno retorno...
Pássaro voando livre ao vento,
Procurando um lugar, um ninho,
Refém da solidão, voando a esmo,
Infinitas vezes, sem destino.
Perdendo suas penas no tempo,
Indagando sem respostas,
A vida e seus etéreos momentos,
Percorreu caminhos estranhos,
Dentro do silencio, nada além,
Somente pensamentos insanos,
Murmúrios e desatinos.
Sem respostas, cansado por fim,
Decidi ser eu mesmo...
Voltei para mim.
(@by Adilson S. Silva)
Jorge
Quanto mais velha fico, mais admiro a capacidade das pessoas de serem coerentes (tão poucos...). É fácil ser rebelde sem ver se meus próprios atos não são iguais aos que critico. Como disse já não sei quem, quando aponto um dedo a algo ou alguém tem 3 apontados para mim.
beijos
Anne
Adilson, a poesia é potência negada na racionalidade técnico-instrumental, que podemos manuseá-la sem tanto proximidade como os abismos: ela cura, sublima, desata nos e inventa o novo...
Sua poesia é algo de maravilhoso: tem cheiro de vida livre, mas vida humana; leva-nos às estrelas, sem nos tirar o contato com as campinas floridas do chão... Abraços, com carinho, Jorge
Anne, gosto de viver, intensamente...
Voar, borboletear... seguir com o vento.
Porém, me preocupo muito com minha ação e como afeto os outros...
Assim, penso como você: o outro vive sua experiência; tento compreendê-lo... quero e tento, nem sempre consigo, ser mais rigoroso comigo. Tento...
Critico o mundo e tento, tanto quanto consigo, não personalizar minhas críticas; e busco ver como anda meu crescimento...
Desto modo, vamos caminhando...
Carinho e ternura, com minha admiração e amizade, Jorge
Jorge
Eu não estava falando de ti :-) Estava falando da humanidade em geral.
Nos enxergar nus e crus no espelho, é um exercício de uma vida que demanda querer. Quando eu olho pra trás e vejo como eu era chega a me dar uns arrepios rsrsrs. O poetar foi e é uma "terapia" que me ajudou nesse enxergar quem e o que eu sou e o que eu faço na verdade. Com isso vi tanta coisa que eu fazia que abominava nos outros... :-( Mas, aos poucos vou me reinventando como gostaria ser (isso parece estranho, mas acho que me entendes...).
bjos
Anne
Com isso, também aprendi "to live and let live" sem fazer cobranças. Claro que não sou perfeita, graças a Deus, e as vezes me "vejo" cobrando feio!!!!! :-(
Anne, lhe senti falando do mundo, do modo como se dão os olhares, as críticas , os pequenos e grandes discursos sobre o outro.
Refleti, tentando me encontrar... Vendo como tenho feito, e por onde anda minhas lutas... Viver, sem impedir as florescências da vida...
Cobro, tabmém, muito...
Tento me desligar e viver, simplesmennte.
Com carinhp imenso e ternura de Lua e luares, Jorge
Jorge, lendo todos os depoimentos aqui deixados, eu percebo o quanto são importantes esses agenciamentos, o quanto tu és importante como agente propulsor e receptor de coisas positivas, de sentimentos nobres e o quanto provocas as narrativas de si. É nessa interação que nos percebemos iguais e diferentes ao mesmo tempo.Estamos olhando para o espelho que a nossa alma carrega e nos vemos, de certa forma, todos refletidos em cada um e com ausência narcísica. Isso nos torna pessoas especiais, não importa o quanto estejamos longe espacialmente, pois estamos muito ligados, muitos unidos por objetivos e sentimentos comuns. E o meu canto encanta o mundo, porque você faz parte também dele. Beijo grande!
Jorge, mãos de Marta.....................
b
M
Tânia, o processo do blog dá consistência ao que ocorree com toda arte ou escrito. Pronta, ela é olhada já como um rizooma e todos rizomatizam, afetados: passa a ser um rica multiplidade com a perda da autoria e povoada pela potência da multidão de olhares.
Explode linhas de diferenças e vida.... Ganha compexidade...
A vida passa , assim, Nós que tendemos a focar, fixar...
Abraços, com muita ternura, Jorge
Querida Marta recorda: as irmãs de Lázaro, o amigo de Jesus. Convidado para uma ceia. Marta limpava, cozinhava, labutava... Maria deitada no colo do Cristo ouvia suas história. Marta pede a Ele, que repreenda Maria. Ele diz: Marta, Marta, te inquietas com tantas coisas. Uma só é necessária. Maria escolheu a boa parte e esta não lhe sera tirada.
Mãos e coração era um dito de Dom Hélder. Uma sugestão de bricolagem entre Dionísio e Apolo.
Abraços, com ternura e grande amizade, Jorge
Jorge, querido, vc é mesmo um esbanjador de palavras, no melhor sentido da linguagem: a poética. Viva a poesia. Viva as mãos. Mãos de Marta. Mãos de labuta? Não havia pensada isso sobre as minhas mãos. Havia pensado outra coisa. Bem diferente. Mãos que acariciam. Mãos que amam. Mãos que curam. Meu nome não vem dos evangelhos. Meu pai se inspirou no circo (Rubia), no rebolado (Mara Rúbia), no sensual (Marta Rocha). Mulheres, Jorge. Mulheres nada bíblicas. Viva as mulheres de carne e osso e de corpo sem órgãos, máquinas desejantes.
beijo
Marta
Marta, você é dupla, múltiplas... vidas com linhas e fluxos que acariciam e acendem o fogão, tecem carinhos e escrevem sobre o sonho que desce e lhe possui num louca e terna possessão. Vida e amor e luta, alegria produção... arte-vida e vida-utopia dos devires na imensidão.
Abraços e beijos, Jorge
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