domingo, 19 de junho de 2011

DIÁRIO DE BORDO: HÁ UMA FLORESTA NO CORAÇÃO DA SEMENTE....

                                                   Jorge Bichuetti

Lua cheia. Lobos e corujas borboleteiam nos miasmas do luar. No quintal, um clarão... Os álamos espiam, de longe, a vida lá fora que parece sempre interminável. A magia da madrugada é tecida no silêncio do luar que enfeitiça, aditiva e enternece corpos e olhares. Há na lua cheia um intenso e voraz desejo pairando no ar. A roseira sente e gostaria de ser especial na noite; a sinto me pedindo um poema que a recorde do que foi a sua vida quando o homem não temia mergulhar no romantismo da paixão. As samambaias andam indígenas... Queriam uma roda, uma fogueira e um chacoalhar das melodias tribais que lhes dessem um pouco dos seus sonhos de estar na floresta.
Há uma floresta no coração da semente...
Há uma multidão indignada nos ecos de um grito de rebeldia...
A vida é insurgente; move-se, transmuta-se e seguir, buscando na intimidade da aurora as cores de um novo tempo, tempo de ternura e liberdade.
A Luinha , menina faceira, sonha... pressinto: cavalos andaluzes e guapos rapazes... Anda peralta e namoradeira. 
O ser humano nunca busca perceber além do que vê, objetivamente. Nos atolamos nos pântanos da racionalidade.
E a objetividade é matemática, geometria atemporal.
A vida é caminho, movimento, devir... Em cada ato singelo e em cada molécula, existe uma nova humanidade.
Tudo nos leva a questionar os valores que nos guiam no dia-a-dia...
Acumulamos o que não consumimos...
Desprezamos o singelo e a simplicidade que revelam e ocultam as epopéias da humanidade.
Um sorriso não , por si só, a alegria; mas detém as chaves que abre os territórios dioníosicos da felicidade.
Um abraço, não é plenitude da solidariedade, mas institui o carinho que no caminho procria e gera ternura e generosidade, um devir solidário.
Muitos sentem o tédio e a angústia , esperando grandes e monumentais acontecimentos... e, assim, perdem os rodopios e bailados da vida que acontece no singelo e no molecular...
Um poemeto, uma cantiga de roda, uma pipa nas nuvens, uma palavra de carinho, uma canção de protesto, o luar, o canto dos passarinhos, as flores e seus perfumes, as folhagens, as árvores, o amigo, o encontro... são moléculas que compõem a vida e a vida caminhando move-se e busca o horizonte.
A vida pulsa e brilha...
A vida caminha e voa...
A vida ama e procria... novas vidas, novas intensidades...
Viver é etecetera - dizia Guimarães Rosa.
Descobrir no singelo das pequenas coisas o etecetera é descobrir a vida na intensidade da sua maquinação de produzir, com valentia e teimosia, o amanhã.
Há uma floresta no coração da semente...
Há um novo século na fugacidade de um segundo...
Assim, somente, os que degustam a vida singela descobrem a imensidão e o infinito...

2 comentários:

Mila Pires disse...

Jorge querido...e que haja muita sementeira para fertlizar o amor!
Bom dia...fico feliz ao passar por aqui!
Beijos...com carinho...

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Mila: o amor semeia horizontes e caminhos, voos na imensidão. Ai, a vida fecunda e perpetua o amor.Abraços com carinho, jorge