Longe, o ruído dos carros me dizem da vida madrugadeira... Fábricas, escolas... A noite de chuva... me parece tão sedutora. Os pássaros estão em festa: cantoria alegre; celebração... A roseira, podada recentemente, orgulha de seus novos brotos... A Luinha dorme sossegada...
Logo, irei começar meu trabalho... O ofício de cuidador no campo da saúde mental me coloca, cara a cara, com a dura realidade do nosso mundo, deste nosso tempo de cinzas e amarguras...
Na semana passada, um portador de sofrimento mental foi abordado por uma viatura policial... Levava a medicação da semana... lhe domaram; disseram que era drogas... Lhe espancaram e se foram para a rotina do trabalho de preservar a segurança e os direitos de cidadania...
Ouvi de uma portadora de crises de pânico, que as crises lhe apavora; porém, lhe dói muito mais ver seus familiares e amigos, dizendo: seja forte... isso é frescura... você não tem nada, é só fingimento...
Nesta mesma semana, alguém me perguntou: você não tem medo?... Eles são tão loucos!...
Recordei da minha amiga Aparecida que assim definiu: " A loucura é o vazio da solidão de quem ama..."
Ecoou o Rosa, asseverando: "Qualquer amar já é um cadinho de saúde, um descanso na loucura"...
Pensei, que horrível é este mundo de preconceitos, marginalização e desamor...
Mundo intolerante... Mundo paranóico... de acusações e incompreensões...
Não escutamos... Desclassificamos a dor falada dos que não se enquadram na nossa ditadura de normalidade e felicidade...
Antes excluíamos, isolando, segregando fisicamente... Hoje, modernizamos os mecanismos de segregação e exclusão...
Culpabilizamos, criamos esteriotipos, humilhamos, desclassificamos... Desvalorizamos, silenciamos o outro, negando o seu clamor... e negamos, codificando, negativamente...
Não toleramos a singularidade, não convivemos bem com aquilo que extrapola os anais das regras instituídas no cotidiano...
O portador de sofrimento mental usa medicamentos facilmente identificáveis... confundi-los com as drogas de uso prevalente na nossa sociedade é um atestado de ignorância, má fé e preconceito... ato de violência física, constrangimento, bullyng...
Desclassificar os transtornos mentais, como fingimento ou falta de fibra, é violência psíquica, coação, bullyng...
O bullyng é uma palavra moderna para designar o processo de estigmatização e suas consequências... é, inegavelmente, uma violência aos direitos humanos...
O que faremos do século XXI?...
Os microfascismos que permeiam o tecido social apontam uma tendência de medievalizá-lo, na sutileza dos constrangimentos, da humilhação, da violência física e psíquica que agora já não são exercidas em nome de entidade maligna, mas, sim, dadas pelo senso comum que se ergue como guardião de uma nova inquisição...
A luta dos direitos humanos inclui, necessariamente, o direito à diferença...
A cidadania não realiza como cidadania plena na exclusão efetuada pelos microfascismos que operam na capilaridade da vida social...
Busquemos um mundo de inclusão e solidariedade... Antes que vida dos que operam norteados pelo fascismo apoderem-se dos tronos e ergam um mundo de destrutividade e morte...
6 comentários:
Muita, muita indignação com este acontecimento.
Já estou muito cansada, desanimada e doente, com atitudes desumanas e tão violentas(e ultimamente, vivo aqui no hospital estes comportamentos agressivos, arrogantes, irônicos; outras vezes ouço ou vejo absurdos inacreditáveis) É assustador...
Abraços.
Eu...
O direito à diferença, por um mundo melhor e mais justo. Compreenção, respeito e aceitação.
Gostei muito de ler o seu texto.
abraço
oa.s
Meu Maestro,
Vontade de lhe dar um abraço.
Acho que é saudades.
Tambem um beijoooooooooooo,
Denise
Denise, meu carinho com desejo de alegria e paz; abraços ternos, jorge
OA.S: uma luta pela vida, o amor includente... abs ternos, jorge
A arrogância e as injustiças dilaceram nossa alma... Sofremos; mas com perseverança e luta venceremos.. Abraços e beijinhos da lua, Jorge
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