Vi o adeus da última estrela... partia tranquila, talvez, porque crê com radicalidade no novo dia que virá... Minhas rosa, tão pequeninas, multiplicaram-se e enchem de perfume e vida os caminhos singelos do meu quintal... Ali, conecto-me com a vida: despido de razão, sou tão-só um coração, dialogando com a poética do infinito na grandiloqüente imensidão e nas vidas miúdinhas que igualmente traduzem o movimento de permanente recriação da vida e do mundo...
Luinha, agora desperta, me acaricia... Lhe contarei da beleza da aurora, mesmo nos dias cinzentos... Ela dormiu e sonhou... os sonhos a distraiu e ela nem viu... meus passos pelo quintal...
O ser humano e o mundo insituído preferem as grandes coisas, não valorizam as pedrinhas miúdinhas do caminho, as flores anônimas que margeiam rios e trilhas, os pássaros vadios... a brisa e o orvalho...
Vivemos num tempo de espetáculos: preferimos as grandes tragédias às miúdinhas manifestações da vida...
A música eletrônica dos carros exuberantes calaram o canto vital das cigarras; as grandes fábricas ofuscaram as laboriosas abelhas e as perseverantes formigas...
Os sinos das catedrais... assinalam o tempo do silêncio, da meditação, da contemplação...
No meu quintal, pode-se ver o infinito nas folhas secas... da vida descalça; ali, viceja no hoje, o ontem e porvir...
Elas mergulharam no chão... para novamente emergirem no verdejante florescer de uma nova primavera...
Escuto o vento e lhe agradeço as lições diárias...
No horizonte, pressinto os desejos e sonhos da vida...
Será loucura ser assim?...
"A normalidade é a mediocridade institucionalizada" - dizia Lineu Miziara, o mestre sempre presente, com sua música, poesia e sabedoria... ternura e aconchego, amizade incondicional...
Não temo a loucura... Ela é tão-só a desrazão...
A razão é a lógica formal, a racionalidade técnico-instrumental: um modelo de pensar, de ser, estar e sentir que otimiza o mercado e a submissão humana às glórias epopéicas...
Quero a ternura e a simplicidade... lições da vida no caminho do amor e da compaixão... máquina de guerrear por um porvir de solidariedade e arte, alegria e vidas partilhadas...
Quero minhas rosas pequenininas...
Elas me subjetivam... me tecem homem novo...
Não possuem valor nas vitrines do mercado, nem alcançam o pódio na face dos vitoriosos...
Me ensinam a amar, me ensinam a ser amado...
Cantam com o pobrezinho de Assis... E choram com a poesia de Neruda... Amam o sorriso de Che... E brincam com a minha pequena Luinha...
Florescem entre espinhos e ervas daninhas...
Potentes, enfeitam a alegria dos andarilhos da vida... dos que escutam na poesia a ânsia da vida que anda louca na sua vocação parideira de gestar um outro mundo possível e necessário...
Com elas, aprendo a libertação que mora no coração da simplicidade: tempo e valores que se libertam para as vivências dionísicas...
Loucura? não, são filhas da paixão e da compaixão... irmãs do luar e da aurora... só as entendem os que se permitem corpos abertos ao amor... este sentimento revolucionário que destrói o eu e nos inclui no mundo de cidadania e solidariedade do nós... Nós, humanidade, natureza cósmica nos movimentos do devir...
2 comentários:
Lindo texto me fez refletir sobre muita coisa
Com admiraçao
clara
Clara, como é bom saber que as rosas miúdinhas encantam... Abraços graúdos e ternura eterna, jorge
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