quarta-feira, 13 de junho de 2012

DIÁRIO DE BORDO: EU QUERO MEU BLOCO NA RUA...

                          Jorge Bichuetti

Noite fria; estrelas saltitantes... longe, já não roçam a minha pele. Insone, as dores tentam esquartejar o meu corpo... Escrevo. Escrevo com a teimosia de quem não se rende... quero seguir: sonhando, entre poesias e canções; lutas e alvoradas...
Meu corpo contorce na procura de um jeito de estar aconchegado aos lençóis... Eu?... liberto minha alma e ela vaga... entre sambas, boleros, milongas e tangos... Sonho. O sonho não é tão-somente o retorno do recalcado; é, muito mais, a arte de antecipar a aurora. Tecê-la no desejo ardente; temperá-la na alegria que se fabrica por teimosia e coragem.
O mundo se fez cinzento e nós, submissos e servis, encaixotamos pincéis, aquarelas, a coleção de lápis coloridos... junto, engavetamos o arco-íris e o pôr-do-sol...
Entre dores e angústias, eu quero a lua e o luar...
Acostumamos a viver o léxico da medicina... Canguilhen já dizia que saúde e doença são modos de andar a vida...
Assim, voo nas asas tresloucadas dos sonhos impossíveis... Mergulho nas sombreadas águas do rio onde caiu, um dia, o cartaz que animava o coração da gente, dizendo: é proibido proibir!...
Quero a saúde dos jovens do maio de 68, que não temeram ousar exigir " a imaginação no poder"...
Agora, muitos crêem que tudo se acabou...
O sonho é a força da aurora que na cantoria dos pássaros nos convocam para arquitetar num voo de alegria o ato insurgente de "tomar o céu de assalto"...
Continuarei... seguirei...
Não quero a monotonia das CPIs, destinadas ao entreterimento das multidões...
Quero vida, liberdade... A radicalidade da ternura nos nexos rebeldes da solidariedade sem fronteiras ou freios... Quero a compaixão... preconceito zero... caminhada de partilha... festa de alegria no riso dos que da vida só recolheram, até agora, as correntezas brutais das lágrimas solitárias...
Um outro mundo é possível...
Sustentabilidade ampliou e revelou-nos que o ser humano e o a realidade social caminham gerando destrutividade, tédio, individualismo... lixo na corpo da Terra e nos nossos mundos mentais que andam corroídos pela insustentabilidade da vida banal.
Algo necessitamos fazer...
É necessário reeditar Dom Pedro Casaldáliga, para que ele, novamente, expresse seu grito: "eu creio na justiça e na esperança"...
Um dia, na escuridão da ditadura militar, o Brasil chorava a dor e a morte dos seus filhos que à revelia do poder, sonhavam e lutavam por uma vida de dignidade e paz....
Hoje, corremos o risco de aposentar os canhões e fuzis da repressão, porquanto no comodismo, na apatia, no fatalismo abandonamos os sonhos e vamos, pouco a pouco, morrendo de desilusão...
Busquemos com ousadia e bravura, alegria e amor a nossa primavera...
Resgatemos nos porões da nossa submissão e servilismo covarde o que pode a vida quando os que ousam viver, vivem a radicalidade do amor que lhes energizam o caminho de humanidade...
Fujamos da doença da pós-modernidade: a vida de (des)umanidade é caminho para o abismo...


2 comentários:

paulo cecilio disse...

Um texto pra tirar a dor! Esperança arrancada verdinha, do grito de Casaldáliga! Sabe Jorge, lendo seu texto, e conhecendo um tiquinho sua pessoa, fico pensando: quanto mais dói, mais escrevo! Pois que as palavras vieram antes da dor!E gravam,esculpem nossa resistencia, nossas esperanças, nossas luzes, no giz de estrelas que risca o firmamento! Escreva, meu amigo, escreva, pois que nós bebemos café com suas palavras quentinhas, como o pão de queijo acolhedor das madrugadas...

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

sim amigo e, assim, vamos tecendo um alvorecer de coragem e ternura... flores no caerrado em trilhas de suavidade e compaixão.Abs. jorge