Jorge Bichuetti
Dissociamos corpo e coração, como se fossemos um duplo, diverso e incomunicável...
Os desejos são do corpo; os amores do coração...
E a vida não se fragmenta, é uma; e, isto, aumenta nossas tensões.
Não percebemos, assim: vemos os instintos carnais no corpo e as emoções celestiais no coração.
Somos dicotómicos... enamorados indecisos do que por natureza já é uno...
Na clínica, comumente, nos vemos, retratos no discurso de dor do outro:
- Não quero, mas não suporto a separação;
- Amo, mas nossos corpos não se completam;
- Desejo estar livre, mas meu corpo me mantém prisioneiro;
- Não somos mais felizes no sexo, mas o meu coração não me me permite pensar numa separação....
Corpo e coração são, assim, aparelhos da vida, distintos e autónomos?
Corpo e coração são veículos de uma subjetividade.... Deveriam ser sintonizados; se não são, algo acontece que nos leva a perpetuar ou a bloquear um impulso da vida... A vida nem sempre emerge como vida... A morte, também, aparece travestida... com complexos, bloqueios, repetições... Não é um grito de vida, são os sussurros da autodestruição... Sorrateiros, penetram e nos envolvem, dando credibilidade a desejos que , em si, são a própria negção da vida, uma aposta de ruína...um corpo no ar, lançado ao chão...
Pode o amor causar tanta dor e morte?
Não nos vinculamos, tão-somente , pela magia da sedução.
Transportamos em nós mesmos forças construtivas e destrutivas.
Não, necessariamente, procuramos, no amor, vida.
O que desejamos no e do amor?
Partilha, afeto e cuidado, cumplicidade, companhia, generosidade, ternura e suavidade...
Ou, adrenalina, explosão, tensão, realce, palco, triangulação, objeto, adereço e apêndice...
Amor é doação, vínculo, correspnsabilização, dar-se e receber, partilha, comunhão...
O prazer não é um fato orgânico... è pele, corpo e coração... Sintonia e afinidade, amor-contemplação e amor-prazer... Um só amor, fases de uma única realidade.
Há falsidades no sexo e no amor: amo, mas já não desejo... desejo muito, mas não amo...
Desejamos sempre... A comunhão amorosa envolve investimento e renúncia...
Igualmente, não há amor sem dedicação e devoção, sensualidade e ternura...
Corpo é alma, alma é corpo:indubitável experiência para crentes e ateus...
Sabendo disso, e, igualmente, sabendo que o desejo é construção... Parece sábio unir corpo e coração, apartados pela ideologia, e inventar, no desejo, um amor que não seja um artefato de luxo de autopromoção nem um fuzil de uma ou outra destruição.
Amor é vida - corpo e coração...
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
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3 comentários:
Amor
Defini-lo impossível ou no mínimo difícil.
Senti-lo um prazer deliciosamente delirante.
É pra sempre? Não. É um néctar a ser
alimentado por sentires, toques, olhares,
palavras, entrelinhas, carinhos e muita ternura.
É ter o que dizer. É saber ouvir. É querer
estar junto, é fogo em chamas! Deixar
as labaredas esmorecerem é morte lenta.
Atiçar o fogo da paixão faz parte da
dança da sedução, combustível do amor,
‘esse indizível’, girando as rodas da vida.
Experimentar as flamas do amor e da paixão é
saber-se aconchegado na concha do amado!
beijos
Anne
Anne, você me diz das coisas que penso e vivo, e como me sei pouco singular na arte de amar, creio que suas palavras dissecam a experiência humana do amor... Mel e vinagre; voo e quedas; porém , a única possibidade de se dar e se encontrar com intesidade e fogo, ternura e loucura.
...Um encontro que nossos medos e nossos comodismos não conseguuem engaiolá-lo numa prisão de pura racionalidade.
Amor , amar: a aventura humana que nos levam ao céu, dando-nos a real dimensão do chão...
Sem ele, o amor: a vida perde brilho e encanto...
Não morremos, porém, nem mesmo vivemos...
Sem o amor , somos zumbis errantes , perdidos num cinzemto cotidiano...
Como são belas as estrelas se as vemos, não num telescópio, mas, sim, pela exploxão da paixão que nos leva a elas, tanto quanto as grudam na nossa própria pele...
Beijos. Imenso carinho... Jorge
Jorge
Adoro as leituras que fazes do meu poetar. Me poetar (que começou em 2007) é algo que faço com imenso prazer e que tem sido um mel para me entender melhor!
bjos
Anne
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