sábado, 5 de fevereiro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: HÁ UMA FLOR NO DESERTO...

                                                    Jorge Bichuetti

Estamos, eu e a Lua, já despertos há muito... Vimos juntos o nascer do sol. A alegria cantante dos pássaros e a suavidade serena do orvalho matinal... Um cacho de rosas brancas nos seduziu por um bom tempo. Tempo de contemplação e silêncio.
O mundo anda muito ruidoso. Acelerado e urrante...
Todos gritam... Os carros se pensam boates ambulantes... e as pessoas imaginam que o valor da sua opinião expressa mora na altura dos seus gritos.
Errou o poeta: as rosas falam... Silenciosas, perfumam e embelezam a vida, prescindindo de um palco ou um palanque.
A natureza comunica-se... Nós é que nos submergimos na ditadura das palavras...
Já nem sabemos ler o que diz um olhar...
Desconhecemos a potência de um singelo e eloquente gesto... Eles falam... Afetam... Comovem... Acolhem... Alentam...
Sabemos muitos idiomas, porém, temos desaprendido outros...
Um olhar sereno e meigo...
Um afago terno e carinhoso...
Um sorriso sincero e contagiante...
Um abraço cálido e amoroso...
Uma flor, um bilhete de bom ânimo...
Uma mão generosa e solidária...
O mundo anda carente de expressões afirmativas da ternura e da suavidade  que necessitamos, para que possamos, superar a violência e o desamor, e vivermos todos no tempo da delicadeza.
Que é ética? há muitas éticas...
Há uma que tão-somente uma moral castradora, que nos anula os sonhos e os desejos, e nos tornam servis...
Há outras que apenas normatizam os interesses das corporações...
Outros, no entanto, falam de um novo homem e de um socius...
É a ética da solidariedade e da cidadania, a ética da amizade, a ética da inclusão social, é a ética dos bons encontros e das paixões alegres, é a ética dos direitos humanos, é a ética do direito á diferença, e a ética ecológica da nossa Mãe Gaia, é a da ternura e da suavidade, é a ética da liberdade e da vida..
Somos éticos?... Com quem?.. Como?..  E para quem?...
Que mundonasce das nossas mãos? Que mundo se inventa nos nossos sonhos? Que mundo desejamos?
Vivemos, podemos mudar... Intensificar o amor e a vida,  a ternura e compaixão...
Aí, diremos, o poeta não errou: as rosas não fala... simplesmente, as rosa exalam o perfume que roubou de cada um de nós e da própria humanidade transformada...
                                               ***
Com este pequeno escrito, nascido no amanhecer... saúdo o Fórum Social Mundial, que se inicia amanhã, em Dacar no Senegal, e irá com seus trabalhos até o dia 11 de Fevereiro...e espero que o mesmo produza novos ventos de paz e libertação...


4 comentários:

Anne M. Moor disse...

Ahhhhh Dalva de Oliveira e esta canção em especial é um delírio! Obrigada pelo presente.

beijos
Anne

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Anne, meu pai me ninava cantando esta canção... Não sabia coisas de criança, mas sabia a força da ternura como um bem universal,
Abraços Jorge

Marta Rezende disse...

Jorge obrigada pelo afago, me colocando de flor. Tudo que eu queria ser no eterno torpor do mundo vegetal. E ainda por cima colorindo o universo de vermelhos, amarelos, roxos, azuis ... Nós animais não temos o privilégio desse torpor natural, vivemos à espreita, como diz Deleuze. E ao viver à esperita, construímos metáforas. Flor no deserto. Sim há muitas flores no deserto. Você uma. Eu outra. Milhões. Jardim. Assim, o mundo torna-se jardim. Concordo com o Pierre Lévy quando diz que pelo menos 50% da humanidade puxa a corda para o lado construtivo, poético, libertário . Não fosse pelo menos pau a pau, a corda já teria estourado. Há uma força forte ativa no mundo que puxa a humanidade para devires positivos. Produção de jardins.
beijo
M

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Marta, há um encanto que vibra, pulsa e movimenta-se quando as potências de singularização da vida, de poetização da existência e de libertação de tudo, homem-humanidade-natureza, chão e céu, se manifestam...
Aí, eu penso que , talvez, devéssemos aprender com a vida: ontem, na plenária, sem perda da produção, da criatividade e do engajamento, haviam pessoas bebendo, a lua correndo, outros comendo... Era uma reunião séria, sem deixar de ser uma festa alegre..
Produção de jardins..
E você é muito importante e carrega um inegável devir-flor...
Confio no que fala Levy...
Há no Espiristimo coisas instituintes e muito instituído, uma coisa que me maravilhou, é uma pergunta num dos livros primeiros: se o mal predomina por ser maioria: a Resposta é direta, diz: Não, é porque bons são tímidos.
Beijos, Jorge