Jorge Bichuetti
Estamos, eu e a Lua, já despertos há muito... Vimos juntos o nascer do sol. A alegria cantante dos pássaros e a suavidade serena do orvalho matinal... Um cacho de rosas brancas nos seduziu por um bom tempo. Tempo de contemplação e silêncio.
O mundo anda muito ruidoso. Acelerado e urrante...
Todos gritam... Os carros se pensam boates ambulantes... e as pessoas imaginam que o valor da sua opinião expressa mora na altura dos seus gritos.
Errou o poeta: as rosas falam... Silenciosas, perfumam e embelezam a vida, prescindindo de um palco ou um palanque.
A natureza comunica-se... Nós é que nos submergimos na ditadura das palavras...
Já nem sabemos ler o que diz um olhar...
Desconhecemos a potência de um singelo e eloquente gesto... Eles falam... Afetam... Comovem... Acolhem... Alentam...
Sabemos muitos idiomas, porém, temos desaprendido outros...
Um olhar sereno e meigo...
Um afago terno e carinhoso...
Um sorriso sincero e contagiante...
Um abraço cálido e amoroso...
Uma flor, um bilhete de bom ânimo...
Uma mão generosa e solidária...
O mundo anda carente de expressões afirmativas da ternura e da suavidade que necessitamos, para que possamos, superar a violência e o desamor, e vivermos todos no tempo da delicadeza.
Que é ética? há muitas éticas...
Há uma que tão-somente uma moral castradora, que nos anula os sonhos e os desejos, e nos tornam servis...
Há outras que apenas normatizam os interesses das corporações...
Outros, no entanto, falam de um novo homem e de um socius...
É a ética da solidariedade e da cidadania, a ética da amizade, a ética da inclusão social, é a ética dos bons encontros e das paixões alegres, é a ética dos direitos humanos, é a ética do direito á diferença, e a ética ecológica da nossa Mãe Gaia, é a da ternura e da suavidade, é a ética da liberdade e da vida..
Somos éticos?... Com quem?.. Como?.. E para quem?...
Que mundonasce das nossas mãos? Que mundo se inventa nos nossos sonhos? Que mundo desejamos?
Vivemos, podemos mudar... Intensificar o amor e a vida, a ternura e compaixão...
Aí, diremos, o poeta não errou: as rosas não fala... simplesmente, as rosa exalam o perfume que roubou de cada um de nós e da própria humanidade transformada...
***
Com este pequeno escrito, nascido no amanhecer... saúdo o Fórum Social Mundial, que se inicia amanhã, em Dacar no Senegal, e irá com seus trabalhos até o dia 11 de Fevereiro...e espero que o mesmo produza novos ventos de paz e libertação...
sábado, 5 de fevereiro de 2011
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4 comentários:
Ahhhhh Dalva de Oliveira e esta canção em especial é um delírio! Obrigada pelo presente.
beijos
Anne
Anne, meu pai me ninava cantando esta canção... Não sabia coisas de criança, mas sabia a força da ternura como um bem universal,
Abraços Jorge
Jorge obrigada pelo afago, me colocando de flor. Tudo que eu queria ser no eterno torpor do mundo vegetal. E ainda por cima colorindo o universo de vermelhos, amarelos, roxos, azuis ... Nós animais não temos o privilégio desse torpor natural, vivemos à espreita, como diz Deleuze. E ao viver à esperita, construímos metáforas. Flor no deserto. Sim há muitas flores no deserto. Você uma. Eu outra. Milhões. Jardim. Assim, o mundo torna-se jardim. Concordo com o Pierre Lévy quando diz que pelo menos 50% da humanidade puxa a corda para o lado construtivo, poético, libertário . Não fosse pelo menos pau a pau, a corda já teria estourado. Há uma força forte ativa no mundo que puxa a humanidade para devires positivos. Produção de jardins.
beijo
M
Marta, há um encanto que vibra, pulsa e movimenta-se quando as potências de singularização da vida, de poetização da existência e de libertação de tudo, homem-humanidade-natureza, chão e céu, se manifestam...
Aí, eu penso que , talvez, devéssemos aprender com a vida: ontem, na plenária, sem perda da produção, da criatividade e do engajamento, haviam pessoas bebendo, a lua correndo, outros comendo... Era uma reunião séria, sem deixar de ser uma festa alegre..
Produção de jardins..
E você é muito importante e carrega um inegável devir-flor...
Confio no que fala Levy...
Há no Espiristimo coisas instituintes e muito instituído, uma coisa que me maravilhou, é uma pergunta num dos livros primeiros: se o mal predomina por ser maioria: a Resposta é direta, diz: Não, é porque bons são tímidos.
Beijos, Jorge
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