terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

ADULTOS MINIATURIZADOS: O TRISTE FIM DA INFÂNCIA?...

                                         Jorge Bichuetti

Agora, já nascemos pré-vestibulandos...
Fraldas de grife, papas enlatadas com selo de garantia...
Gugunamos em inglês... exercícios na academia e aulas de balé, entre o espanhol e o francês...
Nossas rabiscos são traços pós-modernos, inspirados num desenho japonês.
Internet, celular, videogame... Eletrizamos a vida e nos submergimos no nada...
Já não há  pelada... Nem na rua , nem no canto do banheiro, pois as revistas foram trocados por sites pornográficos cujos segredos guardamos da ignorância dos adultos que não sabem que para tudo há uma senha, e não mais nenhum segredo.
Nosso dia é tomado por compridas obrigações, e no mais é só o vazio da nossa triste solidão...
                                                              ***
Pipas... Bola de gude, o pique e esconde-esconde ficaram na nostalgia que não nos diz quase nada...
O piquenique... as bonecas... e o futebol de botão são, hoje, alegrias que não nos chamam a atenção...
                                                              ***
Os minutos são contados, nossa vida programada e seguimos protegidos do mal e da molecagem, das fadas e dos fantasmas que, um dia,assustavam as crianças inocentes que da vida nada sabia e que eram dadas aos jogos da fantasia... 
                                                             ***
Pés descalços? não os temos, pois se ontem se temia o Saci e a Mula sem Cabeça, hoje, nos protegemos dos vírus e bactéria que pululam no chão imundo das ruas e dos terreiros que nos são proibidos... nada passa, nada se perde, o tempo consumimos na vida colorida que nos mostra a TV...
                                                             ***
Paro. não posso mais... Este texto não é uma lamento que se escreve nos versos de uma poesia.
É a nossa realidade, crua e nua, e cruel...
Abortamos a infância, fizemos de nossos filhos adultos miniaturizados, sem a vida alegre e livre, pueril e inocente, cheia de maluquices e devaneios, tão próprios da meninice.
                                                            ***
O que se passa com o psiquismo e a subjetividade de alguém que teve sua infância abortada, roubada, subtraída?
Nos ensina José Gil que o devir criança é imprescindível para todos os outros devires...
Se anulamos ou impedimos a infância plena, bloqueamos da vida que é potência a capacidade de brincar, outrar-se, fantasiar e criar... Recursos, sem os quais, vivemos atrofiados e estropiados...
A vida não é uma história que passa na tela das nossas projeções de lazer...
"É real e não de viés..."
Sem a potência que nasce do devir criança , sobrevivemos amputados...
Sérios matemáticos... que não sabemos gerir nossa vida, nossos afetos, nossas emoções...
Sisudos técnicos que não suportamos a caminhada, pois não sabemos o que uma vida que não uma mera cópia dos registros de um computador.
Inventemos... Reivindiquemos tempo e espaço para a criança...
Não esperemos as drogas, a violência e o adoecimento, nos dizerem que nossos meninos são aprovados nos mais difíceis e exôticos vestibulares, mas que sofrem, pois não sabem disfrutar nem inventar um cadinho de alegria.

8 comentários:

CLARA disse...

Jorge, e quando temos uma mãe que nos retira todos os nossos devires que se afloram no meio de uma noite enluarada e um tempo de calor e vida? Hoje simplismente hoje tive um momento de apagado por ela um momento em que quando cheguei em casa já não era uma princesa e sim uma descuidade, desnaturada, semdo que eu estava na rua cuidado re inventando, re laxando e regando acolhendo meus amigos em cantoria, lua e luares ...estou triste meu amigo.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Clara, aceite meu carinho e o meu colo de mãe: acontece... Não é fácil, há mães que amam, competindo, outras que amam,digladiando... E algumas que quando as esperamos nossa colo de mãe, encontramo-las e a vemos crianças, necessitando que o nosso amor, carinho, compreensão e perdão as acolham em nossos braços maternais... Sigamos. Nossos caminhos são os trajetos do infinito para os voos do nosso coração... Persistit e resistir podem ser armas da vida se as usamos com ternura...
Meu carinho abraço, Jorge

CLARA disse...

Obrigada suas palavras são alento e conforto para o meu coração tão confuso e tanto infatil para minha idade. Hoje é um novo dia que pretendo me reinventar com suas palavras de carinho e amizade que aos poucos estamos cultivando; obrigada voce é um anjo me dizendo e me direcionando para uma vida melhor obrigada de coraçao Clara

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Clara, conte com minha amizade e o meu carinho... Lutemos, com alegria e ternura, vendo, na noite, as estrelas e o raiar de um novo dia.
Abraços Jorge

Michel disse...

Nas horas exauridas impostas pelo mundo adulto-capitalista, impulsionam seus medos egoicos nas crianças tão cheias de potência. Levam-as para clínicas de psicoterapia e reclamam da vida antes mesmo do agente observar aquele ser aprisionado longe da esperança de ser ele mesmo, ser mesmo ele... Então propomos uma clínica alegre, já que não deixarão de levar as crianças a esse cuidado capitalista, que descapitalizemos assim que o pequeno ser passar porta a dentro! Refazer seu trajeto de volta a criativa potência cristalina! Um devir criança e blocos de infância para os terapeutas que acompanham o Mais que Amado Mestre Jorge!

Abraços de ternura, meu precioso mestre!

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Michel, o mundo eliminou os espaços da infância... Teremos que reconstrui-los, e abrir para todos a potência do devir criança... Pois sem o brincar e o sonhar, a vida perece... Sobra , tão-somento, o mercado capitalista com suas ilusões e capturas, aprisionamentos e submissões... Ousemos, sonhar... Ousemos, amar, brincar e caminhar rumo a um tempo de amor e paz.
Abraços, com imensa ternura, Jorge.

Michel disse...

"A melhor maneira de tornar as crianças boas, é torná-las felizes." (Oscar Wilde)

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Michel, bravo! Ele parece estar cheio de razão...
A alegria é o caminho... Da criança, nosso e da vida...
Abraços. Jorge