ARTE COMO DISPOSITIVO – SINGULARIDADE E CIDADANIA
jOSIANE SOUZA
Como pensar a arte enquanto dispositivo para a produção de singularidade e cidadania?
Nietzsche em “Assim Falou Zaratustra”, profere que o significado da criação se encontra na metamorfose da realidade, e alertou para o fato de que não se cria porque falte algo, e sim pelo próprio ato de doação e amor pelo que se cria.
Desta forma, não podemos reduzir a criatividade a um mero produto de processos psíquicos de recalque e sublimação ou de uma falta que gera um desejo ligado único e exclusivamente à cena primária descrita pela psicanálise.
O fato elementar que resulta em um devir ou em uma ação, é para Nietzsche a “Vontade de Potência”, entendida pelo filósofo como auto-superação da vida se projetando para além de si mesma.
Quando o mesmo filósofo disse “Deus morreu” se referindo a um acontecimento histórico ocidental marcado pela descrença no Deus cristão, desafiou-se todos os homens a pensarem se conseguiriam ocupar esse lugar de “criador” deixado pela idéia de um Deus soberano e transcendental.
Por se acreditar que a criação dos valores e sentidos da vida são atribuídos a um criador único, por uma verdade absoluta ou metafísica, o homem torna esquecida sua capacidade de criar, caindo dessa forma nas malhas do aniquilamento, de assujeitamento e mortificação.
Assim, se os valores e sentidos são criados pelos próprios homens, sendo então, passíveis de interpretação e questionamento, logo a função de criador, de artista, leva ao que Nietzsche chamou de “Afirmadores da Vida”, como cidadãos que fazem da própria existência uma ou múltiplas obras de arte.
Foucault se refere à arte como propulsora da singularidade, enfatizando que a partir do momento em que a ética moderna passa a ser esculpida pelo desaparecimento da obediência alienante aos códigos vigentes, esta passa a abarcar em seu seio a estética da existência, pois, se já não cremos em uma essência definidora da natureza humana, se não compartilhamos de uma única moral, então há de se conceber a relação consigo mesmo e com os outros a partir da auto-criação.
A estética da existência de Foucault, portanto, caminha em direção a uma ética na qual a vida seja produzida como obra de arte, em atos que dancem, em palavras que cantem ou entoem uma poesia, em pensamentos multicores que não estejam contaminados por uma fidúcia acromática, apresentando-se no palco da vida como atores/autores da própria peça, na qual possa encenar múltiplos personagens em um eterno devir.
A arte, portanto, permite-nos resgatar o que esquecemos com nossa adesão ao mundo da racionalidade, a saber, a paixão humana, na qual permanece adormecido um estróino abismo de perceptos e afetos que Deleuze e Guattari caracterizaram como sendo propulsores de devires que movem o desejo e são capazes de produzir novos agenciamentos coletivos em prol da singularidade e cidadania que afirmem a vida.
3 comentários:
Para conseguir ser um artista, é necessário dominar, controlar [no sentido de dominar o material, a técnica] e transformar a experiência em memória, a memória em expressão, a matéria em forma. A emoção para o artista não é tudo, ele precisa saber tratá-la, transmiti-la, precisa saber todas as regras, técnicas, recursos, formas e convenções com que a natureza – esta provocadora – pode ser dominada e sujeitada à concentração da arte. (FISCHER, 1983, p. 14).
Ainda quanto à necessidade ou não da Arte, Tyszler (2007) em seu artigo “Mudança social: uma arte? Empreendimentos sociais que utilizam a Arte como forma de mudança”, trata justamente da utilização da Arte em organizações como uma forma de atingir mudanças, porque a Arte possui um papel formador e transformador que desperta a cidadania, fortalece ou desenvolve a identidade cultural, interfere na educação por meio de suas diversas linguagens e expressões, potencialmente gera impacto positivo em políticas públicas, divulgam publicitariamente a organização.
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Seus comentários inovam e aprofundam, e nos fazem desejar mai;abraços jorge
Ok! Já estava construindo,... rsrsrsrs Logo eu envio.
Grande abraço
Lillian Naves
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