sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

MESTRES DO CAMINHO: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

As sem-razões do amor
          CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.










A UM AUSENTE
                 CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste

2 comentários:

Eliana f.v. - Li Andorinha - disse...

Ola Jorge...Feliz Natal!
Que Maravilhosa postagem!
Um Lindo presente de Natal para mim!
As poesias do nosso querido Poeta Carlos Drummond de Andrade toca fundo
a alma e a sensação que fica é de
pura magia!
Grata pela deliciosa leitura!
Parabéns por esse teu espaço!

Abraço com carinho da Eliana

Maria Alice disse...

Dr Jorge, envelhecer é esvaziar-se de desejos?

Abraço.
maria alice