A FISSURA (I)
JORGE BICHUETTI
Madrugada, seresta, sereno... Estrela da manhã...
Silêncio nos ruídos;
ruídos no silêncio...
Uma taça de cristal na mesa, luz vermelha...
Um corpo nu na calçada, sedução...
A vida gira e girando move-se,
não vê, nem escuta o que se dá na escuridão...
Luzes vermelhas clareiam, mas só clareiam o beijo e a conjunção...
De repente, um canto... Canto de sereia? ...
Um diabo do redemoinho? uma encruzilhada...
A sobriedade de muitos hoje não, se corrompe,,,
E a taça de cristal se quebra, caindo nua no chão...
A fissura se impôs, feito um vulcão...
***
Um homem vivendo sóbrio durante longos dias...
Um casal amando-se como se o amor fora um bem da eternidade...
Sem motivos, sem causalidade, uma fissura quebra a sobriedade e põe fim na ilusão de uma felicidade sem fim.
***
Como entender? Como cuidar?
" A fissura não é nem interior nem exterior, ela se acha na fronteira, insensível, incorporal, ideal." p 158
Se é da fronteira, pode-se inferir que é produtudo de uma desterritorialização maximizada...
Desterritorializada, mantêm relações complexas com o universo das interferências e dos cruzamentos; vivenvia junções saltitantes...onde o o direito ao risco e à liberdade são agenciadas pela idéia da da morte como acontecimento, uma morte impessoal...
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Valendo-me de Foucault, para resgatar aqui a idéia de caixa-de ferramentas, recordo Pierre Weil que identificava no desejo de autodestruição, um desejo de morte do ego e de reinvenção da vida..
***
De fato. a fissura recria a gramática e a pessoa passa a se pensar num passado composto; que é um passado que incuindo o presente permite bifurcações...
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A fissura é um vulcão...
Dela, não se pode sair retrocedendo-se... pois o cristal está fragmentado, a porcelana quebrada...
***
Que fazer?
Deleuze propõe uma contra-efetuação...
Se o canto da sereia seduziu...
Se o redemoinho do diabo nos capturou...
Se algo rompeu e se esfacelou... E se isssi ocorreu na superfície, e não nas profundidades que estamos acostumados a reprimir, Só há uma uma saída...
Ele a nomeou de psicodelismo....
Desterritorializamos tanto, que ou inventamos sem agentes deletérios e mortíferos uma nova vida, ou não sobrevivemos...
A loucura, a alegria, o prazer e a utopia sempre estão condicionados a agenciamentos químicos: e daí a fissura como morte...
Necessitamos de incorporá-los como modo de vida e horizonte de sonhos...
O cristal continuará quebrando-se, mas teremos asas para voar além dos próprios cacos.
O vulcão lançará sua chamas, mas já teremos construído uma vida para além dos ocos e abismos das toxinas vulcânicas...
Uma vez que a liberdade será um plano afirmativo construído na desterritorialização,contudo gerando uma nova territoialidade solidária , terna, meiga e psicodélica.
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4 comentários:
Oi querido Jorge! Você esta bem?
Hoje consegui iniciar a leitura da 'Série Fissura'.
Quanto havemos de apreender...
Obrigada pela oportunidade e todo seu carinho!
Beijo no coração
Sumaia
Jorge querido, bonjour!
Não sem alisar minha gostosa fissurinha por café e cigarro ao acordar, já postei esse seu belo artigo no Uzina. Gostei bastante de "brincar" com Pocelana e Vulcão. E isso acabou me remetendo a uma idéia... Vamos fazer outros "foruns" ou tributos como esse? Por exemplo, estou pensando um tributo ao Lewis Carrol. Que tal? Podíamos botar na roda. Pedir para que pessoas escrevam o "seu" Alice no país das maravilhas. Por aí... Vamos pesquisar. Estou sem tempo, mas vou fazendo alguma coisa nos intervalos. Conheço muito pouco de Carrol. Claro, uma paixão de Deleuze. E meu devir paixão, acho. Acho que vc vai delirar com Lewis Carrol... É a minha suspeita!!!!
beijo
marta
Sumaia, aprenderemos sempre. E cada lição abrirá novos horizontes de ação e vôoo. abraços jorge
Marta, viajemos com Alice...
Conheço pouco, lerei...
Cada passagem de Deleuze, é um caminho de produção de vida e de devires inomináveis. Abraços jorge
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