quinta-feira, 30 de setembro de 2010

DIÁRIO DE BORDO: SOBRE OS SONHOS E A UTOPIA ATIVA

                                                                                 JORGE BICHUETTI

"Somos do tamanho dos nossos sonhos". ( F Pessoa)
Caminho, sonhando... entre estrelas bailarinas e uma orquestra de passarinhos que me tornam o mundo encantado.
Não conheço o mundo cinzento da razão fria e matemática que subtraiu a esperança e dividiu o destino em real e irreal.
Sonho. Creio nas utopias e elas me descortinam para além da dita realidade o outro mundo possível e necessário.
 Um mundo florido de solidariedade e ternura, na alegria da seresta e na comunhão da partilha. Outro mundo, feito de pipas no ar e velas nas esquinas... Feito de amor, muito amor, tanto amor que os humanos nele se agurpam com o codinome de irmandade.
Um mundo de justiça e direitos humanos, de igualdade: a associação dos livres produtores.
E o espaço liberto da vida que se dá harmoniosa na abundância da natureza e da arte sendo movidas para o bem de todos.
Nele, todos são livres e livres vivem suas singularidades usufruindo do direito à diferença num concerto de uma cósmica multiplicidade.
Che, o valoroso guerreiro de um novo tempo, dizia: " Lutam melhor os que tem belos sonhos"
E compreendendo os desfios do destino, ousou acrescentar: " Sonha e serás livre de espírito... luta e seerás livre na vida"
É a ousadia sonhadora de quem afirmou: " prefiro morrer em pé que viver ajoelhado.
O sonho é a indignação afirmativa diante da escravidão, da opressão e da exploração.
Sonho é resistência: "o sonho encheu a noite, extravassou  pro meu dia, encheu minha vida e é dele que vou viver, porque os sonhos não morrem" ( Adélia Prado)
Sonhamos, vivemos no sonho e nele caminhamos... como quem sente no desetto o perfume inebriante das flores do óasis...
Utopia - território dos sonhos....
Utopia Ativa - o nobre e o belo que almejamos , mas deste já o buscamos, na imanência do processo desejante-processo revolucionário.
" Não é preciso conquistar o mundo, Basta fazê-lo novo. Hoje . Nós." ( Subcomandante Marcos)
Ousemos sonhar, ousemos lutar... E nas agruras do caminho, evitando a desilusão e o desespero, repitamos com Mario Quintana:
" Se as coisas são inatingíveis...ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fosse
A presença distante das estrelas."


POESIAS DA PRIMAVERA

                                                        ESTA FLOR
                                                                       JORGE BICHUETTI
Há flores no quintal da minha casa,
ora são flores de encantos amorosos,
ora se dão ao amor de Nossa Senhora...

Os pássaros as amam, como se fossem,
ora um feitiço mágica das florestas,
ora uma resposta dos Céus às suas preces...

Colhi uma, entre tantas , e a dei ao meu povo...
Esta flor, ora é pão multiplicado, flor-compaixão,
ora é somente uma flor na lapela, revelando
que nossa lágrima ostenta, espinhos que nos maltratam
e uma doce e terna esperança que nos tira o medo,
fazendo-nos a coragem da caminhada, flor -redenção

NÃO ESQUECI
JORGE BICHUETTI

Encontramo-nos e depois de tantos anos,
vendo-o meu coração não saltou, nem foi ao céu.
Falaste de tantas lembranças, que eu consenti com o olhar,
por puro respeito ou medo de perder a elegância.
Não quis ser descortés, mas nada me tocou, de nada me lembrei...
No entanto, não esqueci a flor , hoje ressecada, guardada nas páginas de um livro.
Carinho puro, ternura ousada!
... Notei, então, na diferença das recordações
que nem notaste a flor...
O único bem que sobrou do nosso eterno amor!...

                                                                            
                                                                                VOCÊ
                                                                                     JORGE BICHUETTI

Tuas promessas não me soam assobios do coração,
Galanteisas e me seduz, mas não me roubas a alma.
Sabes tudo dos encantos dos amores comuns,
mas como hei de me entregar, se nunca, nunca,
me deste na poesia do entardecer a ternura de uma flor?
                                                  
                                                                           

DIÁRIO DE BORDO : HÁ UMA FLOR NO MEIO DO CAMINHO...

                                                                                           JORGE BICHUETTI
Chão molhado. E este cheiro de terra me despertando para uum novo dia, com a memória de outros dias vividos na escuridão.
Não sei de onde vem estas lembranças... Tudo corre sereno, até a Lua, a pequena peralta, anda quieta, aninhada no entre dos meus pés e do meu coração.
Os álamos verdes, feito o verde mais brasileiro das nossas florestas, espiam esperançosos o sol que nasce tímido, feito um galã charmoso num filme de amor feliz.
Contudo, recordo: escuto como se alucinasse o anjo Cazuza , gritando " Brasil, mostra a tua cara"...
Eu já vi a cara do Brasil em tantas faces, em tantas lágrimas e tanto sangue, que talvez, estas memórias venham do choque entre o Brasil dos meus sonhos e o Brasil que já viveu tantas crueldades.
Já o vi num menino com sua navalha , negociando na esquina o pão de cada dia...
Já o vi nos portadores de sofrimento mental, castrados numa cela-forte ou contorcidos pelo nazismo de um eletrochoque...
Já o vi nas florestas abatidas, nos índios alcoolizados no lamento da terra perdida...
Já o vi no rosto cabisbaixo dos desempregados, na fome e na miséria...
Que triste cara já teve o meu país?
Hoje, o céu não chegou, porém já há dignidade e esperança e o povo caminha com cuidados que resgatam a cara de um país, o meu país, um país feito de alegria e gol, de reza e festa, de labuta e explendor...
Não estamos no céu, mas há uma flor no meio do caminho...
Uma flor profética:" podem cortar uma rosa, cortar, duas , tres rosas, não conseguirão impedir a chegada da primavera".
Há uma flor no meio do caminho... E ela é a nossa esperança de devir eternamente uma primavera florida, longe da escuridão da opressão e da exploração.
Cuidem desta flor... Esta flor é um sonho de um brasil com cara de felicidade e ternura, solidariedade e justiça.
Entre o medo e a esperança, ora: Senhor, vela pelo Brasil,; meu povo permita que esta flor se multiplique na continuidade de um jeito de governar que é a providência do cuidado para com os pobres e infelizes.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

MILITÂNCIA: INTER-VIR E AGIR NAS VEREDAS DA UTOPIA

"Que seria deste mundo sem militantes?
Como seria a condição humana se não houvesse militantes?
Não porque os militantes sejam perfeitos, porque tenham sempre a razão, porque sejam super-homens e não se equivoquem. Não é isso.
É que os militantes não vem para buscar o seu, vem entregar a alma por um punhado de sonhos.
Ao fim e ao cabo, o progresso da condição humana depende fundamentalmente de que exista gente que se sinta feliz em gastar sua vida a serviço do progresso humano.
Ser militante não é carregar uma cruz de sacrifício.
É viver a glória interior de lutar pela liberdade em seu sentido transcendente".
                                                                            PRESIDENTE MUJICA
Militar é agir - diz Guattari.
Hebe de Bonafini - madre de la plaza de mayo - conceitua que revolução,se faz ,fazendo; revolução, se faz partilhando e revolução se faz, dando-se...
Intervimos com palavras, atos e silêncios omissos e coniventes, mas sempre intervimos na vida social e na história.
Como é belo os que agem plasmando em seus corpos os sonhos coletivos de um agente que anseia e espera  por um alvorecer de paz e justiça!
Como é grandioso os que caminham partilhando solidariedade e ternura,numa maternagem que nos fazem todos "tantos irmãos, que já não os posso contar"!
Como é nobre a luta, a luta dos que indignados buscam nvos caminhos de inclusão social e direitos humanos!
Militar é partilhar caminhos, sonhos e lutas... Não é ir adiante, nem atrás, nem do lado... é se fazer na magia da fraternidade corpo coletivo em ação.
                                           jorge bichuetti












MARTA MEDEIROS - A ANATOMIA DA EXISTÊNCIA

CRÔNICA – Martha Medeiros
Os quatro fantasmas

Só convivendo amigavelmente com a finitude, a liberdade, a solidão e a falta de sentido da vida é que conseguiremos atravessar os dias de forma mais alegre
Leiga, totalmente leiga em psicanálise, é o que sou. Mas interessada como se dela dependesse minha sobrevivência. Para saciar essa minha curiosidade, costumo ler alguns livros sobre o assunto, e acabei descobrindo (não lembro através de qual autor, sinto muito) as quatro principais questões que assombram nossas vidas e que determinam nossa sanidade mental.
São elas:
1) sabemos que vamos morrer;
2) somos livres para viver como desejamos;
3) nossa solidão é intrínseca;
4) a vida não tem sentido.
Basicamente, isso. Nossas maiores angústias e dificuldades advém da maneira como lidamos com nossa finitude, com nossa liberdade, com nossa solidão e com a gratuidade da vida. Sábio é aquele que, diante dessas quatro verdades, não se desespera. Realmente, não são questões fáceis.

A consciência de que vamos morrer talvez seja a mais desestabilizadora, mas costumamos pensar nisso apenas quando há uma ameaça concreta: o diagnóstico de uma doença ou o avanço da idade. As outras perturbações são mais corriqueiras.

Somos livres para escolher o que fazer de nossas vidas, e isso é amedrontador, pois coloca a responsabilidade em nossas mãos. A solidão assusta também, mas sabemos que há como conviver com ela: basta que a gente dê conteúdo à nossa existência, que tenhamos uma vontade incessante de aprender, de saber, de se autoconhecer.
Quanto à gratuidade da vida, alguns resolvem com religião, outros com bom humor e humildade. O que estamos fazendo aqui? Estamos todos de passagem. Portanto, não aborreça os outros e nem a si próprio, trate de fazer o bem e de se divertir, que já é um grande projeto pessoal.
Volto a destacar: bom humor e humildade são essenciais para ficarmos em paz. Os arrogantes são os que menos conseguem conviver com a finitude, com a liberdade, com a solidão e com a falta de sentido da vida.
Eles se julgam imortais, eles querem ditar as regras para os outros, eles recusam o silêncio e não vivem sem aplausos e holofotes, dos quais são patéticos dependentes. A arrogância e a falta de humor conduzem muita gente a um sofrimento que poderia ser bastante minimizado: bastaria que eles tivessem mais tolerância diante das incertezas.
Tudo é incerto, a começar pela data da nossa morte. Incerto é nosso destino, pois, por mais que façamos escolhas, elas só se mostrarão acertadas ou desastrosas lá adiante, na hora do balanço final. Incertos são nossos amores, e por isso é tão importante sentir-se bem mesmo estando só.
Enfim, incerta é a vida e tudo o que ela comporta. Somos aprendizes, somos novatos, mas beneficiários de uma dádiva: nascemos. Tivemos a chance de existir. De se relacionar. De fazer tentativas. O sentido disso tudo? Fazer parte. Simplesmente fazer parte. Muitos têm uma dificuldade tremenda em aceitar essa transitoriedade. Por isso a psicoterapia é tão benéfica. Ela estende a mão e ajuda a domar nosso medo. Só convivendo amigavelmente com esses quatro fantasmas - finitude, liberdade, solidão e falta de sentido da vida - é que conseguiremos atravessar os dias de forma mais alegre e desassombrada.

POESIA: CENTELHAS TRANSVERSAIS

                                                                  Meu Povo
                                                                              jorge bichuetti

Meu povo sonha pouco,
levanta e a labuta o consome;
de tarde, maltrapilho espia
e não vê nada, pois cego
ficou com olhos inundados de suor.

... Já de noitinha, sob o céu estrelado,
ele canta seu lamento, tamborilando
numa caixa-de-fósforos suas dores...
E canta, dança e festeja, numa teimosia
que mais parece um jeito de não morrer.

Assim, é o meu povo... um povo cansado,
um povo teimoso, um povo cabisbaixo,
que vence o sangue das feridas, cantando...

Meu povo não sonha. Canta,
e Deus que o escuta
por ele sonha e clama...


                                                              Centelhas
                                                                         jorge bichuetti

Quanto frio! Não se aquece a alma,
sem as fagulhas de um abraço.
Quanto medo! O caminho é ingreme,
se não caminhamos de mãos dadas.
Quantas lágrimas! Lágrimas que nunca secarão
se me dás teu lenço, e me negas teus beijos.

O amor é um delírio que nos eleva ao paraíso,
centelhas de uma fogueira cujas cinzas,
não se dissolvem nas nuvens...
Não seria, amor, loucura, deixar o azul do alto
e me contorcer no lodo profundo do abismo?
Não quero cinzas, não te fantasiarei numa nuvem,
estou decidido: te encontrarei depois da tormenta
num novo e encantado arco-íris...

DO MANICÔMIO À CLINICA DO DEVIR

                                                                                           JORGE BICHUETTI
Na loucura, sempre enxergamos uma patologia, um defeito, uma anomalia...
Nos asilos, era ela humilhada, violentada, discriminada e excluida, como se fora uma excrescência da própria vida.
A medicina legislou, patologizando-a... E no mito de que era perigosa, pueril e improdutiva ( Foucault), a sociedade a trancafiou numa instituição total.
As intituições totais, commo o manicômio, caracterizam pelo grau zero de trocas e pelas respostas prontas, pelas barreiras arquitetônicas e pela desapropiação do espaço, do tempo e da palavra, que faz do potador de sofrimento mental um trapo autista.
Podemos romper os horreres dos hospícios e continuar manicomializando a vida.
Separando normais de anormais; desqualificando a diferença; desvalorizando a singularidade...
A clínica antimanicomial - no mundo onde a moiria pade de transtornos mentais - vem resgatar a cidadania, dando um lugar para o sofrimento que não mais é o do isolamento e da desvalis. O sofrimento compõe o humano e somente o recusamos porque vivemos na ditadura da vitória, da alegria e da beleza.
A reforma psiquiátrica desde muito já não só uma denúncia dos verdadeiros campos de concentração que é/era o hospício.
Ela afirma: somos singulares e diferentes e a normalidade foi um artefato de nivelamento do humano num processo de robotização do comportamento adequado à construção da subjetividade capitalística.
Somos diferentes e a diferença é potência que enquriquece a vida.
Assim, uma verdadeira clínica antimanicomial vê as dores humanas e as acolhe com carinho, ternura e solidariedade; e diante delas, não trabalha o recondicionamento do homem à normalidade perdida numa crise; ausculta na crise a necessidade de se reinventar uo modo de existir.
Porisso, é sempre uma clínica do devir...
Explorando nossas multiplicidades, intensificando e materializando nossa singularidade, alisamos os espaços e nos damos aos devires que nos permitem emergir do abismo de desespero e agonia, com nossos sonhos, novos projetos e um novo modo de viver e existir onde já não somos escravos da racionalidade técnico-instrumental, mas somos a diferença num vôo libertário de uma singularidade que se consubstancia entre a poesia e a magia, entre a arte e as artimanhas de ser um metamarfosente.

MARILDA RIBEIRO: DIGNIDADE E LUTA

                                                                                      JORGE BICHUETTI

Marilda Ribeiro é minha amiga, militante que corporifica uma caminhada de sonhos e solidariedade, fazendo da causa dos excluidos e oprimidos a sua própria vida. Vida na estrada, vida na luta, vida na poética viva dos que diante das lágrimas dos que sofrem, tecem lutas e se dão à construção de uma mundo novo de justiça e paz.
Professora e diretora de um colégio da periferia , Nossa Abadia, vivenciou um cotidiano de criativas mudanças. Era presente na rua, nos lares... Fazia mudanças e não via problemas; pois se estes surgiam, ela, destemida e guerreira, com imenso amor manuseava a cada um com espírito de quem une-se para junto inventar soluções.
Transparente, honesta e leal, é uma política sem máscaras. Vendo-a, vemos os sonhos de mudança, dignidade, justiça, solidariedade, inclusão social e direitos humanos, saindo do território das palvras e vivificados num corpo-vida, corpo-luta onde seu tempo e seus passos são tempos e passos da própria caminhada por um outro mundo possível.
Ela vive suas crenças, e luta sem medo. Perseverante é sempre  o amor aos desvalidos e a esperança nos direitos de igualdade e libertação do povo, do seu povo que se encontra já entranhado em suas vísceras de guerreira.
Nela, eu voto... Pois creio na justiça e na esperança, na honestidade e na transparência, na solidariedade e na partilha.
Vereadora exemplar, foi a voz dos que são silenciados pela opressão e exploração.
Agora, é a sua vez de no Congresso nacional viver , com nossos votos, a política que se faz com luta e coração, mãos e caminho partilhado.
Não é promessa, é ação...
Não é discurso, é resistência, criatividade e vida-doação.
Nela, eu voto... porque amo a vida e amo meu povo e a minha pátria.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

SOLIDÃO, SOLIDARIEDADE E DEVIRES

                                                                                 JORGE BICHUETTI
A solidão parece uma peste que vitmiza a todos, não deixando sobreviventes; escurece o cotidiano e entorpece os sonhos, transforma-nos num bando de angustiados, deprimidos e deixa a vida tediosa e anêmica.
Contudo, nunca estivemos com tanta possibilidade de contato e relações; o mundo global não aproximou o homem do homem, estamos conectados, porém solitários e com um sentimento de profundo abandono.
A solidão emerge do próprio modo de existir dominante: somos individualistas, egocêntricos e narcisistas.
O outro nunca é alguém, objetivamo-los.
Nossa vida gira e caminha , desconhecendo o outro.
Vivemos por nós mesmos: nossos desejos, nossos interesses, nossa famíla, nosso grupo, nossa propiedade, nossos lucros enossas vitórias.
Abolimos até mesmo o nós que nesta versão individualista é apenas o nosso eu hipertrofiado por projeções e identificações, e nunca um estar além de si mesmo para num verdadeiro encontro descobrir no outro o diálogo, a cumplicidade, a generosidade, a ternura e o amor.
A solidariedade é um outro modo de existir, onde a solidão é superada pela inclusão de outras vidas na nossa vida e da nossa própria amplificação num viver que ao englobar o outro, já sonha e caminha num devir humanidade, coletivos fraternos , vínculos de amizade.
Observemos até mesmo a nossa Mãe Gaia tem nos sido mero instrumento que usamos , abusamos e descartamos, não realizando com ela uma união cósmica de afirmação da vida.
Somos sós...
Embora, o sol desperta no mágico colorido de serenidade e paz; os pássaros cantam num epopéia de alegria e esperança; o céu azul nos convida a um mergulho profundo na suavidade perdida; as árvores frutificam a doçura do amor que alimenta e passa; tudo é convite a partilha e a comunhão... Só nós nos negamos e perambulamos na solidão do nosso egoísmo e ostracismo.
Não existe pílula que combata a solidão, o individualismo e o narcisismo; há um antídoto: a solidariedade...
Devir solidariedade no aprendizado diário da partilha genrosa e terna é o único caminho para que não nos apodrecemos, intoxicados de nós mesmos.
e se devimos solidariedade, ainda mesmos quando sós, não padecemos de solidão, porque podemos repetir com Deleuze: " Somos todos desertos, povoados de tribos, faunas e floras".

SOCIEDADE DE AMIGOS: NO MAR, A-MAR-ES

O MAR
Paulo Cecílio

Longe, saudade.
Juntos,
esqueço-me dele/ele de mim.
Tornamo-nos um...

ARRAIAL 24/09/2010
****
Plataforma oito
 Paulo Cecílio

Diesel, bêbados,
Chão encardido:
Mãos que ficam.
Mãos que partem.
Mãos amputadas.

Campinas,18/09/2010
****
NO COSMOS II
 Paulo Cecílio

UM NO AR/UM NO MAR.
AO  PARTIR
SALGUEI O CHÃO.
MINHA CARNE
HABITA OS PEIXES... 

ARRAIAL,25/09/2010
****
Herói(MEU POVO)
 Paulo Cecílio

Quando navio, arranque-lhe o pôrto.
Quando em sede, ofereça-lhe o deserto.
 Quando desesperado,jogue ácido em sua esperança.
Quando ferido, ponha brasa em suas carnes.
Quando em vôo, quebre-lhe as asas.
Comendo, arranque-lhe o prato.
Quando em pranto, proíba-lhe o choro.
Na solidão, negue-lhe o aconchego.
Ampute-lhe a mão que esvreve,
Seus dentes dentes escreverão:
“SOU LIVRE”!!!.

UBERABA28/09/2010

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

POESIA: abra as janelas da vida!

                                                      A JANELA
                                                                JORGE BICHUETTI

Triste e desesperado, julguei-me só e perdido;
dissequei minha casa e nada recolhi além do passado
que me assombrava com suas incontáveis recordações...

Meus pensamentos rodopiavam a litania dos naufragados
e no meu coração reverberava a lira dos desiludidos,
assim, me vi no fim do abismo, vida numa acre implosão...

Lá fora, o céu estrelado me esperava clemente e paciente,
e o silêncio, orvalhado de palavras de esperança e fé,
comingo dialogava no acalanto de um  carinho maternal...

Oh! Misterioso destino. Entre a dor infernal e o meu almejado
aconchego, estava eu mesmo e minha necesidade de decisão:
a vida só não me encontrava porque apiedade de mim,
eu chorava... e chorava... com as janelas fechadas...

A MORTE DO EGO E OS PROCESSOS DE INDIVIDUAÇÃO

                                                                               JORGE BICHUETTI
Não são poucos os autores que avaliam que o grande entrave no exercício da potência humana é o ego.
Jesus sugeria que devíamos negar a nós mesmos.
O Zen-budismo preconiza a anulação radical do eu.
E Deuleuze-Guattari dizem que tudo se trata de destroçar o ego, matá-lo.
Nós, com nosso viver individualista, cheios de lamentos pessoais, com a "nossa depressão e o nosso pânico", com a minha dor e minha frustração, ficamos perplexos. e perplexos, perguntamos: que sobraria?
Tememos a despersonalização, a nossa morte existencial...
E olhe, aqui no cantinho do fogão-de-lenha, que até admitimos nossa condição de seres sociais, contudo só admitimos nos nossos queixumes de que o meio nos oprime e condiciona.
De fato, reduzir a problemática do humano ao social não esgota a questão.
O problema é outro, é que somos sujeitos edípicos e subjetividades capitalísticas, que impõem a soberania do eu num egocentrismo que restringe a própria individualidade a uma repetição de suas matrizes fundantes, sem lugar verdadeiro para a mudança, para o novo e para os devires singularizantes e coletivizantes.
O homem é , nesta visão, uma eterna repetição dos seus complexos e das matizes formadoras de sua subjetividade.
Se há crescimento, este é quantitativo, já que as estruturas permanecem imutáveis.
Assim, o individualismo, o egoísmo, a competição, a propriedade privada, a inveja e o ressentimento, o narcisismo são da natureza do homem histórico.
Não é sem motivação que constantemente vemos que os grandes homens solidários e generosos, ternos e compasivos são rastreados na tentativa de patologizá-los.
O que se passa?
Passa que o pensamento hegemônico se norteia pela lógica da repetição e pela exclusão diabolizante de toda diferença.
Não somos nosso eu, nosso eu é somente uma partícula da nossa individualidade que é singularidade e multiplicidade, é devir , é mudanças permanentes e capacidade de se autoconstruir e se reinventar.
A singularidade é uma rede de multiplicidades.
Nossa individuação se vê composta por n devires que se dão num processo de vida que superamos as subjetividades assujeitadas e passamos a funcionar como subjetividades livres.
E é este processo que Michel Foucault nomeou de subjetivação, onde se morre o ego repetitivo e restrivo e emerge uma vida que se atualiza como obra de arte.
As subjetivações são inerentes a agenciamentos coletivos próprios de dispositivos de produção de vida libertária.
Devir criança, devir mulher, devir anjo, devir guerreiro, devir vegetal, devir mineral, devir nômade, devir imperceptível, n devires são produções radicais que caracterizam a superação do homem egóico e abre o espaço do homem novo de " Che" ou o " Sois Deuses" dos evangelhos.
... E principalmente, um mundo de coletividades suaves e solidárias que a sonhamos com o nome de " por uma nova Terra, por um povo por-vir"

MESTRES DO CAMINHO: BOFF E AS ELEIÇÕES

A mídia comercial em guerra contra Lula e Dilma

                                      LEONARDO BOFF


Sou profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o “silêncio obsequioso” pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o “Brasil Nunca Mais”, onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.
Esta história de vida me avalisa fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a mídia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de ideias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.
Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando veem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como “famiglia” mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos de O Estado de São Paulo, de A Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja, na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem desse povo. Mais que informar e fornecer material para a discussão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.
Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido a mais alta autoridade do país, ao Presidente Lula. Nele veem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.
Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.
Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma), “a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e não contemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes, nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo -Jeca Tatu-; negou seus direitos; arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação; conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que continua achando que lhe pertence (p.16)”.
Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles têm pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascendente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidente de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.
Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados, de onde vem Lula, e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coroneis e para “fazedores de cabeça” do povo. Quando Lula afirmou que “a opinião pública somos nós”, frase tão distorcida por essa mídia raivosa quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da mídia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palavra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.
O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no Governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.
Outro conceito inovador foi o desenvolvimento com inclusão social e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituídas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no Governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas, importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.
O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, ao fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela VEJA, que faz questão de não ver; protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra, mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.
O que está em jogo neste enfrentamento entre a mídia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocolonial, neoglobalizado e, no fundo, retrógrado e velhista; ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes?
Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das más vontades deste setor endurecido da mídia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construído com suor e sangue por tantas gerações de brasileiro

IX CONGRESO INTERNACIONAL DE SALUD MENTAL Y DERECHOS HUMANOS


                                                                                                   JORGE BICHUETTI

O Congresso Internacional de Saúde Mental e Direitos Humanos, que se realizará em Buenos Aires, nos dias 18, 19, 20 e 21 de novembro de 2010, aproxima-se...
Mais uma vez é hora de ir as Madres...
Este encontro se dá na perspectiva de resitência e luta, criatividade e utopia de Las Madres de Plaza de Mayo.
Ali, todo ano se pensa as dores da exclusão e as feridas dos oprimidas e se pensa num caminho de invenção de práticas libertárias de superação do homem estropiado pela vida que marginaliza, tortura, discrimina e gera miséria e abandono.
É um momento de se pensar nas trocas de experiências e nas reflexões partilhadas o que pode a solidariedade e o amor.
Muitas vezes, reproduzimos as mazelas do mundo no nosso trabalho, não percebendo que elas clamam por um novo cuidado.
Asilamos, sobrecodificamos, reprimimos e normatizamos...
Geramos espaços de troca zero e respostas prontas, roubando a voz e o desejo, e, também, a própria história dos que sofrem.
O congresso é um momento de se pensar o novo e a libertação, a dignidade e os direitos humanos.
É uma denuncia, um convite e uma profecia: podemos agir e intervir de forma instituinte, produzindo a vida livre que se afirma nos encontros de humanização do próprio mundo: um outro mundo é possível e necessário.
Vamos... estejamos lá... Construindo esta alvorada de dignificação da vida e de renovação do nosso lugar no mundo, que nos verá renascer aliados de uma caminhada por justiça e paz.
Repitamos com las madres: O OUTRO SOU EU...

domingo, 26 de setembro de 2010

OUSADIA E PRUDÊNCIA: É PRECISO SABER VIVER...

                                                                                       JORGE BICHUETTI

Existe uma receita milagrosa para se alcançar a felicidade e paz? Como levar a vida e levâ-la com harmonia e sossego?
Todos gostaríamos de um manual que nos evitassem os erros, os equívocos, as escolhas idiotas e os caminhos tempestuosos...
Contudo, viver é aprender, experimentando e descobrindo no balanço dos risos e das lágrimas o valor e o peso de cada ato.
Sejamos misericordiosos conosco mesmo e nos aceitemos obras inacabadas: estamos em construção!...
O que nos leva a nos responsabizar pelo rumo do nosso destino.
Nosso destino não mora nas estrelas, nas linhas de nossas mãos, nem nas conchas dos búzios...
Construimos, somos nosso próprio arquiteto.
E nada aprendemos verdareiramente fora das experimentações que nos permite devir-se corpo-"sapiência".
Para experimentar e se experimentar, sem covardia dos medrosos e a inconsequ~encia dos desatinados, parece oportuno aliar ousadia  com prudência.
E na verificação de como anda nossas vidas, do que temos feito de nós, observemos...
Nos permitimos ver o sol se pôr e nele asserenar nossso ânimo, ou gastamos todo nosso tempo na correria da acumulação de valores materiais que a finitude nos pedirá de volta no eterno quimismo do tempo que não para e não parando, voa sem que possamos dominar os minutos?
Quantas vezes rompemos nossa rotina e nos abrimos para novas experiências?
Conhecemos gente nova ou simplesmente parasitamos os nossos velhos conhecidos?
Escutamos  novas canções, lemos novos livros, vivemos novas experiências ou repetimos o velho scripit precodificado do nosso dia-a-dia, montado muitas vezes sem escutar nossos desejos e sonhos e que foi feito valorizando apenas o que socialmente normatizado?
Observemos o tempo. Como o consumimos? Qual a lógica deste consumo?
Muitas vezes, não percebemos no tempo uma infinidade de oportunidades de experimentações e vivências, e o consumimos sendo por ele consumido.
Ver o sol nascer, escutar os pardais na sua sinfonia matinal, visitar um amigo, conversar com a criança que na rua perumbula nos territórios de ninguém, colher uma flor e dá-la a um amigo, degustar um doce saboroso com a leveza de um menino idolatrando suas guloseimas, andar sem rumo somente sentindo o frescor do vento, mirar o céu estrelado e conversar com Deus/infinito sem palavras, sorrir por sorrrir num ato de multiplicação da alegria ainda que esta seja uma sonhada virtualidade, ou ainda, deitar numa rede e nada fazer, simplesmente saboreando a vida que plena nos afeta e nos convoca ao viver.
Tanto... Tantas coisas... Inumeráveis...
Igualmente, qualquer um de nós, inumeraríamos infinitas coisas desnecessárias que nos aborrecem, e mesmo assim seguimos fazendo-as, por pura submissão à nossa aborrecida rotina.
Cristo, um grande homem, quando chamado a avaliar o peso de uma vida, perguntar: Que fazeis de especial?
Que fazemos de especial?
A folha da árvore que rodopia no vento é um bailado especial que diz da suavidade, rompendo distância e gerando fuidez é especial.
E o homem que carrega a cruz da sua labuta com a alegria de um samba em que canta a beleza di dia é especial...
Em que somos especiais?
A honestidade nos levaria a afirmar que nos falta ousadia e prudência para ser um ser especial, mas que o que nos impede é a nossa dolorosa e tediosa adesão aos mecanismos dominantes de acomodação.
A semente paciente no seu trabalho de na obscuridade gerar uma nova vida é espeial

MESTRES DO CAMINHO: DIGNIDADE E POLÍTICA

                                     POESIAS DE FÉ NA LUTA E ESPERANÇA NO AMANHÃ

                 Ídilica Estudantil
Nossa geração teve pouco tempo
começou pelo fim
mas foi bela a nossa procura
ah! moça, como foi bela a nossa procura
mesmo com tanta ilusão perdida
quebrada,
mesmo com tanto caco de sonho
onde até hoje
a gente se corta.
Alex Polari

 "Se não houver frutos, valeu a beleza das flores; se não houver flores, valeu a sombra das folhas; se não houver folhas, valeu a intenção da semente."
                     Henfil
                                                                                    
                                       



SÃO PAULO, OUTRA
              DOM PEDRO CASALDÁLIGA
Abismo
De cimento

Vulcão de rebeldia.

Poluída também
De liberdade.

Quando rompe uma flor em teu asfalto
Todo o Brasil acorda 


"Nada é maior do que a solidariedade            

e por ela

a gente não agradece,

se alegra." BETINHO

DIÁRIO DE BORDO: UM VOTO CONSCIENTE E ALEGRE

                                                                             JORGE BICHUETTI
Amigos votaremos... É um direito, uma responsabilidade e uma obrigação.
Mas em quem? sicrano, beltrano e fulano, todos aparecem, agora, com promessas e atá o rosto se revela mais sincero.
Somos atores por natureza, não se enganem...
Não votem em pessoas, vote no futuro que deseja para nossa Terra e para a nossa gente.
Pense: o que farão? o que defenderão?
Cuidado: Judas se vendeu por 30 moedas, e muitos dos nossos políticos inflacionaram o mercado das traições.
Não vote em canditado com ficha suja, exija ficha limpa, uma conquista popular.
Votar é um ato histórico: um dia, na empolgação dos urros  populares, o povo votou em Barrabás, condenando à morte o meigo e terno Nazareno que tinha como sonho e vida o amor na plenitudade da compaixão.
Pense... Pense...
Você estará escolhendo o pão para os famintos ou elegendo a miséria e o abandono para a maioria dos nossos irmãos.
Um dia, me perguntaram se eu não iria votar num amigo comum, e me disseram: Ele é nosso amigo. Pensei, e não tive dúvida: eleição não é um momento de escolha ou glorificação dos amigos pessoais. Disse, então: Gostaria, mas não vou votar... Ele é meu amigo, não é amigo dos famintos, dos sem-tetos, dos miseráveis que perambulam pelas ruas, das mulheres vítimas de violência doméstica, das crianças que sofrem abuso sexual, dos infelizes, dos necessitados...
Meu voto é um voto na potência da vida que deseja o sonho de justiça social e solidariedade, acolhimento e liberdade  materializados na vida do nosso país.
Voto contra o desemprego, os baixos salários, a poluição, o preconceito sexual-de raça e qualquer que seja... Voto contra o desmatamento, contra a guerra e contra as políticas de enriquecimento de poucos às custas da massacre das multidões.
SEM MEDO DE SER FELIZ - eu voto num mundo de inclusão social, de políticas públicas de cuidado dos desvalidos....
SEM MEDO DE SER FELIZ -  eu voto nos projetos de economia solidária e desenvolvimento sustentável...
SEM MEDO DE SER FELIZ -   eu voto na reforma agrária, na política internacional de apoio aos países pobres e de apoio ao direito de autonomia de todoas as nações...
Não voto... na opressão, na exploração, na mistificação...
Voto na reversão do aquecimento global,  na convivência pacífica com o pleno direito à diferença.
Voto, sim... no Plano Nacional de Direitos Humanos.
SEM MEDO DE SER FELIZ, EU VOTO NA PERMANÊNCIA DA PRIMAVERA, POIS EU NÃO VOTO EM QUEM CORTAM AS NOSSAS FLORES E NOS FEREM COM OS ACÚLEOS DA DOMINAÇÃO.

POESIA: MULTIPLICIDADE

                                                          SEM NÓ, NOS...
                                                                            JORGE BICHUETTI

Há muito me perdi de mim,
para me encontrar outros
e hoje estes já são tantos...
Num jardim, me descobri jasmim,
na aldeia, um guerreiro
e na seresta, um escravo das paixões...
Mergulhando no riacho, me soube pedra e peixe,
correnteza e remanso, samanbaia e oxum...
Ali, mesmo na lavadeira com sua lida e cantigas,
me vi mulher que quando mirava o céu
com suas aves-marias, me revelava num ato
estrelas da imensidão e luar todo encantado...
Passarinho, moleque e pipa, o galope do cavalo
e o charme do cavaleiro. Tudo e todos
me foram tecendo um multidão andarilha.
E, hoje, se um dos muitos eus que carrego
numa angústia de poder deseja tiranizar
os meus muitos eus , tão-meus,
logo, vem uma serena rebelião
e volta a tranquilidade da vida
dos eus que se emanharam
na doçura e frugalidade de uma nova conjugação,
deles se amando sem ciúme no suave do entre-nós...