quarta-feira, 30 de novembro de 2011

NO SILÊNCIO, O AMOR CANTA... NA LUTA, O DESERTO FLORESCE...

amor
um índio no coração
    flores  sonhos
      liberdade
verdes matas riachos
no corpo desejo
    a vida é amor,
o amor, compaixão...
                       jorge bichuetti



no chão, u'a flor
sangue no corpo
saliva     jorrada
     ódio
     óleo
um espinho cravado
no coração   da vida...


no céu, u'a lágrima
    cósmico     choro
deuses      de joelho
entre a dor  e a ira....


no vento,  a liberdade
       sacolejo
do tempo, o voo o véu 
      excomunga
      o bréu;
asas reluzem nas trincheiras
      do sonho
       da vida alforria
                 amor-irmão... 

                    jorge bichuetti


entre pedras, flores...
entre espinhos, sonhos...


pela vida, a liberdade
tripudia a razão...


A VIDA VOA NAS ASAS DA LIBERDADE!!!

DIÁRIO DE BORDO: QUE PAÍS É ESTE?... TEMPOS NUBLADOS...

                               Jorge Bichuetti

Amigos, dia claro... vi entre lágrimas, o alvorecer... O canto dos passarinhos, suave e terno, me acolhia com carinho, ternura e cuidado... As flores e as árvores pulsavam com u'a esperança que confesso só, lentamente, pode perceber, crer e retomar a minha crença de nós somos capazes de tecer um caminho de paz e compaixão, suavidade e partilha para o porvir da nossa humanidade...
A natureza, feito o menino Jesus do poema de Fernando Pessoa, sorria das iniquidades pueris do mundo...
Contei aos meus companheiros fiéis, os pardais das cantorias matinais, que estava triste e envergonhado; triste com o destino que percebia que foi sendo tecido, pouco a pouco, pelos que devereriam no Congresso Nacional defender nosso chão e nosso povo, nossos sonhos e nosso futuro... Como não sentir vergonha?... Querem destruir nossas florestas, nossa biodiversidade, nossa gente...
Não aprovam o PL122/06 que criminaliza a homofobia, mesmo diante de tantas mortes... querem aprovar nas sutilezas da elegância hipócrita a descriminalização do desmatamento, e o genocídio que será produzido pela Usina Belo Monte...
Não dão condições de cumprimento para a Lei Maria da Penha...economizam aqui, para, logo ali, barganhar as indulgências dos que cometeram crimes ambientais...
Expliquei-lhes, que o P_SOL, conseguiu algum tempo... A Senadora Suplicy esqueceu-se de pedir urgência... Deveria hoje ir e deitar num divã: reconhecendo no ato falho a voz da sua história, da sua luta e da sua dignidade... Mas, me parece que não o fará...
Vejo tudo e sinto... desejo de pedir que sejam coerentes e proponham que se risque da língua portuguesa a palavra dignidade... Mas, não: isso é só uma loucura minha... Porque eu vi na luta dos ambientalistas e o no olhar altivo da Senadora Marina Silva que os passarinhos estão com a verdade... Há ainda dignidade.... Há esperança...
A história da presidenta Dilma, inclusive, não lhe permite outra atitude que não a coragem digna e valente do veto presidencial... Senão, pelo menos que coloque nas mãos do povo...
Aqui, escrevendo descubro que estamos dialogando sobre as intempéries da vida... é preciso muita coragem para não perder a esperança e cair no imobilismo fatalista que nos joga no sofá das comodidades burguesas...
A esperança, canto dos passarinhos, é o partido da dignidade, da ética, do bem comum...
Não podemos ser capturados pelo desalento, pela lamúria... A hora é de rebeldia e indignação... Urge que acordemos do nosso sono profundo...
Grito aos Céus e peço, que alguém decrete o regime de urgência para o ato de dignidade de acordar e lutar... Urgência é a necessidade do país... antes que joguem no poço da podridão apocalíptica....

POESIA: VERDEJAR É FLORESCER NO CAMINHO

                  CINZAS NO VENTO
                        Jorge Bichuetti 


Como verei o luar e as estrelas,
se mãos ávidas na ganãncia estão
com o machado empunhado e já
querem derrubar o verdejante sonho
das matas que abraçam a água da vida
e a vida da ternura que vive pra florir...


Há cinzas no vento, aviso do tempo:
o lucro da queimada dá a sentença...
a vida está por um fio, será crucificada
no silêncio de u'a escura noite... onde
a multidão entorpecida pelo brilho da ilusão
só sentirá... asfixiada... sem esperança... 
quando um outro silêncio
anunciar o fim... na ausência do canto
dos anjos matinais...


Há cinzas no vento...
E nelas o fim... das manhãs
que recolherão num último ato
o choro das estrelas
no deserto silencioso,
onde um dia cantaram
bem-te-vis, sabiás e pardais...

OH! "verde que te quero verde";
oh! vida que te roubaram
o dom de florescer
na cantoria verdejante
das manhãs onde pássaros faziam
de cada árvore
u'a catedral estelar...


                           QUEM ENXUGARÁ...
                                  Jorge Bichuetti

Negociatas mercadejam a vida;
mata seus filhos... estupram seus frutos...


Alegres e vencedores, pactuam e loteiam
o riso raso das moedas acumuladas...


Porém, ninguém se ocupa da vida
que num atoleiro de cinzas morrerá...


Escuto no vento o canto dos pássaros
que piedosos perguntam, entrestecidos:


- quem enxugará o pranto dos Deuses?...

BONS ENCONTROS: PELAS MATAS VERDEJANTES, RIOS E RIACHOS, PELO POVO BRASILEIRO E PELA HUMANIDADE - DIGA NÃO AO CÓDIGO FLORESTAL QUE ASSASSINA A VIDA ; LUTE PELO VETO... LUTE PELA VIDA...

Código Florestal: sacrificar a vida em favor de lucros para poucos?

29/11/2011 20:37,  Por Adital
As companheiras e companheiros de movimentos, entidades e pastorais sociais lembram que eu não alimentei nenhuma ilusão sobre o tipo de Código Florestalque seria aprovado pelo Congresso Nacional. Nele, os deputados e senadores que não têm interesses diretos em relação ao cancelamento das dívidas com a população geradas a partir de crimes ambientais, bem como com uma flexibilização das leis existentes que beira a libertinagem, está comprometido com estes poderosos privilegiados. Há exceções, sempre honrosas, mas constituem minoria preocupante. Onde estariam os e as que foram votados por defender em propostas de esquerda, em favor de uma sociedade realmente justa e igualitária?Por que, de repente e sem consultar seus eleitores, se tornaram defensores de mudanças que beneficiam minorias?
O que dizer dos deputados e senadores que aprovaram esse tipo absurdo de Código, que mantém o apelido de florestal mas é, na realidade, instrumento legalizador da sanha predadora da biodiversidade? Que pensaram no futuro, quando está escandalosamente evidente que se aprisionaram cegamente ao passado e ao presente? Ou melhor, que abriram portas para um futuro com menos florestas,menos matas ciliares, com nada de mangues, com mais áreas desertificadas por causa da morte dos solos provocada pelo agronegócio, pela agroindústria e pela mineração exportadores de commodities?
Com bem definiu um analista: em lugar de um Código florestal, o Brasil terá um Código agrícola – ou agropecuário e minerário, acrescento eu. Como fruto,aumentará a concentração de terra e de riqueza em poucas mãos proprietárias,aumentará o envenenamento dos solos, subsolos e atmosfera, a Amazônia ficará mais nua e com entranhas rasgadas – e mais coberta por lagos artificiais,geradores de pouca energia elétrica para a mineração, muito metano para a atmosfera e mais miséria para os povos ribeirinhos e para os que para lá se transferirão como operários das grandes barragens…
Uma vez mais, a pergunta que se impõe: o que podemos fazer nós, que vivemos na planície ou nas profundezas em que ficam os cidadãos sem cargos eletivos, que não são representantes do povo? Em relação ao que se conhece como democracia representativa, ainda temos uma chance: propor, insistir, exigir que a Presidente Dilma se negue de referendar o jogo de interesses presentes no que apenas tem o título de código florestal. Podemos exigir dela como Chefe de Governo, pois ela foi eleita para governar em favor dos direitos de todos os brasileiros e brasileiras, e não para um pequeno grupo de proprietários e seus capachos. E podemos igualmente exigir dela que atue como Chefe de Estado,eleita para cuidar de tudo que constitui a Nação Brasileira, de modo especial defendendo o seu povo contra o uso do poder delegado para impor leis em favorde minorias, para legislar em causa própria e para impedir que se consulte toda a cidadania na hora de aprovar mudanças de leis que dizem respeito às condições de vida de todas as pessoas, de todos os seres vivos e de toda a Terra.
Será que a presidente Dilma ouvirá os apelos da cidadania? Pode até ouvir, mas por causa do cálculo político de quem decidiu governar através de acordos partidários-parlamentares, é praticamente certo que cederá às pressões dos interessados no novo código florestal. E aí, o que nos resta? Segundo a Constituição, podemos exigir um Referendo, isto é, uma consulta a toda a cidadania para que ela decida se aceita este novo código, ou se prefere que se fique com o existente até que se elabore uma proposta de código que defenda, de fato, todas as formas de vida. A cidadania – o nós constituído por todos os eleitores – tem, sim, o poder de derrubar uma decisão do Congresso como essa do Código, mesmo depois de sancionada pela Presidente da República. A cidadania é o poder soberano, e suas decisões expressam a soberania popular.
O que fazer? Será preciso aprofundar o diálogo entre todas as forças que fizeram de tudo para demonstrar que esse novo código será prejudicial para o Brasil e para toda a humanidade, sem ter conseguido vencer os falsos argumentos dos grupos interessados em sua aprovação. Se a decisão for a de mobilizar a cidadania em favor de um Referendo, haverá necessidade de mobilização de muitos milhões, já que a proposta deverá ser aceita pelo Congresso – pois os representantes que o compõem reservaram para si esta decisão, subordinando o poder soberano ao seu poder delegado. Mesmo assim, nem que seja para tornar pública a denúncia da antidemocracia praticada por esta decisão, sou favorável à consulta à cidadania.
E você, o que sugere?

 FONTE:
http://correiodobrasil.com.br/codigo-florestal-sacrificar-a-vida-em-favor-de-lucros-para-poucos/335242/


DILMA ROUSSEFF, NÃO LAVE AS MÃOS... TURVANDO SUA PRÓPRIA DIGNIDADE... PELA VIDA E PELA HUMANIDADE, O BRASIL ESPERA A CORAGEM E ALETRIDADE DA SUA AÇÃO: VETE... NÃO APUNHALE O CORAÇÃO DA VIDA...
VERDEJAR NO CAMINHO É A VOZ DA VIDA NO CANTO DE ESPERANÇA DAS FLORESTAS, RIOS E RIACHOS...

 


SOCIEDADE DE AMIGOS: A POESIA ESTELAR DE CONCHA ROUSIA; SOBRE O INTEMPESTIVO PULSAR DO AMOR...

            DOS DILEMAS DO AMOR
                                      Concha Rousia

O amor, esse ser vivo
com vontade própria
que decide onde quer ir
nós podemos obedecer
ou podemos desobedecer
mas ele é quem manda

Como manda o dia que
na madrugada incendeia o rio
e a noite converte-o em prata
nós podemos maravilhar-nos
podemos ver esse milagre
ou fechar os olhos e afogá-lo

Como eu que fecho os olhos
e me afogo nessa música
as paredes devolvem-me
as caricias que reteve o vento
ondas no ar e nos cabelos

A música invade meus sentidos
o amor aproveita para desatar
as minhas lembranças de ti
com as cordas da guitarra
a voz no vento fez-me voar
a outros tempos
a outros lugares
                                         a outros corpos


DO BLOG: republicadarousia.blogspot.com



MESTRES DO CAMINHO: PARADOXOS DA SOLIDÃO

                                 REFLEXÕES:


- "Quem não souber povoar a sua solidão, também não conseguirá isolar-se entre a gente." Charles Baudelaire

- " Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já..." Pablo Neruda

- "Minha solidão não tem nada a ver com a presença ou ausência de pessoas… Detesto quem me rouba a solidão, sem em troca me oferecer verdadeiramente companhia….” Friedrich Nietzsche

 - "Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um." Fernando Pessoa


terça-feira, 29 de novembro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: VIVER...

                                     Jorge Bichuetti

Agora, já estamos com o dia claro... Porém, antes do alvorecer, estive entre as flores da roseira que desabrocharam para a vida com beleza, suavidade e abundância... Nem mesmo consigo contar: u'a plêiade de rosas que perfumaram o amanhecer... como se saudassem o sol na esperança de um novo dia. Meus pensamentos bricolaram e mesclados com o canto dos passarinhos, se tornaram um silêncio reverente. A vida é bela... ( é bonita, é bonita)... Viver é ser um eterno aprendiz da arte de ser feliz... Um canto no encanto mágico da natureza que nos acolhe e nos agencia...
Viver é etecétera - diz O Rosa das Geraes... Alegria e sofrimento; sonho e desilusão; esperança e desalento... neste emaranhado paradoxal de vivências tão distintas dá-se a vida: é luta...  Lutamos por ser feliz, superando o orvalho das lágrimas... Lutamos por ser feliz, asserenando o histriônico das gargalhadas...
Viver é ser feliz, lutando impregnado de sonhos que azula de sentidos o horizonte...
O individualismo é um canto de sereia...  Ilusão, o olhar do monstro no abismo...
A felicidade é tecida no entre... no entre nós e os outros, nós e a humanidade, nós e a natureza, nós e o cosmos...
A rosa da roseira e O Rosa das Geraes... São pérolas incrustadas no coração do caminho... se os conectamos, apropriamos de um entre que se revela fecundo e germinativo dos processos de alegra-se e alegrar... que que no navegar da vida acaba por nos agenciar numa alegria, num ser feliz, para além do que nos dá nossos risos vazios que tão-somente glorificam nossos sucessos passageiros...
É possível ser feliz na tristeza?... O avesso da tristeza é a alegria inédita, revitalizante e inventiva de novos caminhos e sonhos...
Somos travessia...
Vamos nos reinventando e nos potencializando na arte de ser feliz...
Vamos...
Aprendemos a sonhar; a enraizar nossas esperanças; a partilhar nossa caminhada...
Vamos...
Aprendendo a gerar, a parir horinhas de descuido: onde a vida brota roseiral; nascente e ponte... passagens... Um desabrochar para o voo que nos liberta dos labirintos... um devir cais que nos livra dos naufrágios...
Viver é ser feliz entre o sonho e a luta... E devir-se roseiral... no formigueiro das metrópoles... e no deserto da nossa íntima e reflexiva solidão...
Ser feliz é viver... sem medo de lutar entre sonhos... sem medo de sonhar no cipoal das grandes lutas...
Muitos esperam a felicidade como quem aguarda um troféu, um trono, um brinquedo...
O x da questão é que felicidade brota é dentro da gente...
Ela é... a aurora da alegria de ser a coragem de viver nossos desejos e sonhos...
E ela é... a cantoria da passarada quando o nosso corpo desencapsulado descobre o brilho e o encanto de ser com o outro... a alegria, dignidade e justiça... Ela é a paz do bem comum; o voo da vida para além do que pode um homem...

UNIVERSIDADE POPULAR: ALEGRIA E VIDA NOS CAMINHOS DA SOLIDARIEDADE

                                      Jorge Bichuetti


Amigos, a Universidade Popular Juvenal Arduini chega em dezembro... cheia de alegria e vida... Um projeto de trocas solidárias e de reinvenção do nosso olhar sobre os caminhos e o horizonte, vem sendo um caminho onde educação-arte-política e sonhos valsam e sapateiam, tecendo u'a escola que é festa e u'a caminhada que é voo.


No dia 06/12/2011, às 19:00, teremos o Grupo de Estudos sobre o livro Ousar-para reinventar a humanidade de Juvenal Arduini... Na Capitão Domingos, 1079... Os encontros são abertos e a sua participação nos alegrará e nos enriquecerá... Juntos aprendemos, caminhando... entre sonhos e poesias.


No dia 10/12/2011, teremos o Encontro Mensal da Upop-JA. Nele, dialogaremos com a comunidade, trabalharemos os temas cuidado, ecologia, arte, ética, desintitucionalização,como trabalhar com o povo e começaremos a conversar sobre o próximo ano...


Alertamos a todos que necessitarem de comprovante - em função de carga horária de suas escolas - que entrem em contato conosco ou com o Instituto Gregorio Baremblitt de Frutal...


O Encontro Mensal ocorre na Creche Coração de Maria que se localiza na Av Nossa Senhora do Desterro, 545.


Não deixe de participar... Viver é um longa e árida caminhada... E a educação representa nesta caminhada o que são as asas para os pássaros... Educar é impregnar de sentidos...


Que na vida possamos ouvir o clamor do horizonte azul e viver a ousadia de dar novos passos... impregnando o caminho de sentido - alegria e sonho...

POESIA: SONHOS, FLORES E PASSARINHOS

   ELES CANTAM... EU SÓ ESCUTO
                                       Jorge Bichuetti    

Teço versos com flores
entre sonhos azuis e o 
canto dos passarinhos...


eles cantam, eu só
escuto; e voando, desnudo
amores proíbidos
vidas negadas e o
choro do mundo...

Mas quando me vejo,
já me perdi... entre
a ternura das manhãs 
e os espinhos do caminho;
desapareço no afã de renascer
vida e luta na poesia parida...  


                                     de manhã
                              jorge bichuetti


de manhã, a vida
cavalga no vento
baila nos sonhos
ama co'as flores
que desconhecem
o suor do dia e
a morte dos que
não voando, nunca
sabem do luar,
só conhecem a dor
do mundo de aço,
onde não cantam
os meus belos passarinhos...

de manhã, a vida
é u'a louca e sacrossanta
ilusão... um sonho
tecido por meninos
que se aninham
no coração dos passarinhos...

MESTRES DO CAMINHO: NO CAMINHO DAS LUTAS

                                REFLEXÕES:



- "Quem luta com monstros deve velar por que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti." Friedrich Nietzsche

- "A vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal." Machado de Assis

- "Sonha e serás livre de espírito... luta e serás livre na vida." Che Guevara

- "A esperança não será a prova de um sentido oculto da Existência., uma coisa que merece que se lute por ela?" Ernesto Sábato



 06/12/2011 - 19:00: GRUPO DE ESTUDOS DA OBRA DE JUVENAL ARDUINI.
PARTICIPE!!!... REINVENTEMOS NOSSO OLHAR SOBRE A VIDA COM OUSADIA E SONHO...
RUA CAPITÃO DOMINGOS, 1079. BAIRRO ABADIA - UBERABA, MG. BRASIL


 A EDUCAÇÃO NOS CAMINHOS DA LIBERTAÇÃO...


SOCIEDADE DE AMIGOS: SONHO; NA RELVA ESTELAR; A POESIA DE PAULO CECÍLIO

          SONHANDO
             Paulo Cecílio

as vezes me pego 

finalmente sonhando 
em encontrar uma só pessoa 
que cuide de mim 
ria do meu desajeito 
me ame do meu jeito 
reme um pouco pra mim, 
dizendo descansa um pouco 
veleje um pouco. 

carrego hoje as pedras tuas
e as que de quem carregas. 
me afague com ternura 
pra lembrar-me  quem sou 
que ria do meu assombro 
cuide do meu quintal 
carregue o lixo, o pus, 
ponha uma musica suave. 

espante os lobos dizendo:
fica mais um pouco vim por ti
e mais nada
apenas tu me basta. 
pusesse minhas mãos 
nos seus lábios
nas suas artérias 
sem sentir medo 
dizendo: não és um bicho. 

acalmando meus dedos 
limpando meus olhos 
dizendo: não se assuste, descanse ,
nao pode mais seguir 
porque foram-se todas as forças,
amargas doçuras, potes de mel.

rasgasse  meu álbum
de fotos enferrujadas
desse uma trégua  
nas despedidas do dia
afastasse por um minuto
este maltrapilho
que habita o espelho,

e pousasse meus cabelos num colo de sono....

BONS ENCONTROS: O QUE NECESSITAMOS PARA SER FELIZ? - UM TEXTO DE FREI BETTO


PASSEIO SOCRÁTICO
                         Frei Betto
       
Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos dependurados em telefones celulares; mostravam-se preocupados, ansiosos e, na lanchonete, comiam mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, muitos demonstravam um apetite voraz. Aquilo me fez refletir: Qual dos dois modelos produz felicidade? O dos monges ou o dos executivos?
       Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: “Não foi à aula?” Ela respondeu: “Não; minha aula é à tarde”. Comemorei: “Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir um pouco mais”. “Não”, ela retrucou, “tenho tanta coisa de manhã...” “Que tanta coisa?”, indaguei. “Aulas de inglês, balé, pintura, piscina”, e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: “Que pena, a Daniela não disse: ‘Tenho aula de meditação!’”
       A sociedade na qual vivemos constrói super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas muitos são emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram que, agora, mais importante que  o QI (Quociente Intelectual), é a IE (Inteligência Emocional). Não adianta ser um superexecutivo se  não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!
       Uma próspera cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não  tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em  relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: “Como estava o defunto?”. “Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!” Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi­nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os  valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de  abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos  virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…
A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito.  Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada  semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é ‘entretenimento’; domingo, então, é o dia nacional da imbecilidade coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é  o resultado da soma de prazeres: “Se tomar este refrigerante, vestir este  tênis,­ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!” O problema é  que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que  acaba­ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.
Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu,  que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma su­gestão.  Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele  não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si  mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento  globocolonizador, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.
 Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita  uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história  daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média,  as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil,  constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping  centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas;  neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de  missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito,  entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar,  certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer de uma cadeia transnacional de sanduíches saturados de gordura…
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: “Estou apenas fazendo um passeio socrático.” Diante de seus olhares espantados, explico: “Sócrates, filósofo grego, que morreu no ano 399 antes de Cristo, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro  comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser  feliz.”


segunda-feira, 28 de novembro de 2011

FELICIDADE É U'A FLOR... NO VENTRE DO AMOR.

ser feliz? é ser
o orvalho na pele
     amada; a flor
no caminho da aurora
      entre carícias
         êxtases
canto do     infinito no 
   germe... mão de deus
na nudez    amante dos
        poetas... 
                     jorge bichuetti



ENTRE PEDRAS, FLORES...

ENTREVISTA COM MANOEL DE BARROS; O POETA ... QUE SERPENTEAVA NA RELVA E NAS ASAS DOS PASSARINHOS...

MANOEL DE BARROS, POETA
entre o vento sussurrando segredos
e a vida desnundando-se nas pedras...


um zumbido do cosmos no coração
da árvore... fruto e flor, u'a estrela de barro
na poeira cósmica soprada pelo canto
dos pardais meninos... um rio com folhas
que já haviam sido pele... do sonhador.



ENTRE PEDRAS, FLORES...

DIÁRIO DE BORDO: AS SINGELAS LIÇÕES DO MEU QUINTAL..

                                    Jorge Bichuetti

Sentado no quintal, vejo o dia acordar... Álamos, rosas e samambaias, limoeiro e um pé de romã: minha floresta. Minha floresta é pequena e imensa: nela, moram os sonhos da imensidão... Se silencio minhas inquietações, a escuto... Seu canto é o próprio canto da vida... Ela me ensina coisas que não encontro nos livros da minha biblioteca... Um dia, me disse que para se ter uma nova vida bastava conjugar ternura e compaixão, simplicidade e solidariedade... Noutro dia, sussurrou, quase clandestina, que nada acontece de novo nos caminhos do mundo, longe do esforço perseverante e corajoso da luta... Ela gosta de exaltar o que pode o amor... Também, nunca se esquece de prevenir sobre os perigos do caminho quando seguimos despossuídos de sonhos... Um dia me argumentou que a própria tolerância já era um equívoco, que a vida é diversidade... assim, tolerar já é tentar anular a violência de uma incompreensão... E com um jeito de magistrado, explicou-me que próprio perdão era um recurso que nos tentava liberar do vício de julgar e controlar o outro, a vida na sua florescência...
Se aprende muito com a natureza...
Quando, certa vez, lhe perguntei se as estrelas não tinham ciúmes do meu imensurável amor pela Lua... A minha pequena floresta gargalhou... e disse: não, elas amam amar o amor...
Muitos acreditam, que eu perco muito tempo, contemplando e dialogando coma vida que fala e pulsa na beleza do meu quintal...
Não me importa... Aprendi ali que o próprio tempo é autoprocriativo... E que o relógio era somente uma máquina que assinalava os excrementos do tempo...
Então, comecei a tecer meu tempo...
Tempo de ler, brincar, trabalhar, cantar, cirandar, borboletear... e tempo de ser um cisco no vento, voando entre estrelas... só para ouvir as cantigas da vida que ecoam na imensidão...
Lá no meu quintal, nada consigo com ouro ou prata... A vida é permanente doação, partilha, comunhão...
Vivo feliz... eu e o meu quintal; eu a multidão dos amigos que aprendo que são também expressões singulares da vida...
Não tenho medo de estar iludido ou louco...
Um dia, sem que perceba, irei embora... partirei...
Alguns chorarão; outros, nem perceberão...
... Mas eu buscarei a floresta encantada...  Onde as matas verdejam, os passarinhos cantam, e os rios límpidos sibilam orações do tempo... Todos num só coro vivem a vida... vivem e deixam viver...
Medo, eu tenho é de que a humanidade demore a descobrir que a vida é a poesia do amor, o canto da esperança e uma batalha guerreira que afirma a vida e nega a destruição...
Só clamo que a  vida seja ouvida... para que se impeça o fim onde mora ternura solidária de sempre recomeçar...

POESIA: VIDA NO CAMINHO

                           ERRANTE
                                Jorge Bichuetti


errante, vago
entre pedras...


nelas, me verdejo: relva...


um estar verde
entre o lodo e as ervas...


errante, vago;
sonhando com as asas
que um dia virão;


nelas, voarei: um canto
que carregue no vento
a poesia da ternura e a
magia de ser no azul - 
um nômade...


                                      MEU FILHO
                              Jorge Bichuetti

Meu filho, o levo
entre flores que habitam
os fluidos do meu corpo;
ah! meu filho brinca
nos meus sonhos,
canta e me faz rir...


Só nunca me disse
porque se perdeu
entre o azul do céu
e as trilhas do chão...


Mas, eu sei... que ele
olha por mim, soltanto
pipas e bolhas de sabão,
nu'a estrela cintilante...


Assim, sigo... entendendo
o seu pueril esquecimento:
meu filho... esqueceu de nascer,
embora, sorria dami'a saudade,
dizendo: pior seria haver esquecido
de amá-lo e querê-lo, 
pois assim sou teu
sem desejos de partir...

MESTRES DO CAMINHO:VENDO PARA ALÉM DO OLHAR; JOSÉ SARAMAGO

                                   REFLEXÕES:


- "Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar."

- "Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é so um dia mais."


- "O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas."

- "O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio."


                        JOSÉ SARAMAGO

SOCIEDADE DE AMIGOS: AMOR ENTRE FLORES; A POESIA DE MILA PIRES

      Flores e mel...
                   Mila Pires

Tarde de primavera
Passeio por entre as flores
Belas e multicores
A brisa suave vem tocar meu rosto
Meus cabelos voam livremente
Respiro verde...respiro leve
Sinto o aroma que me encanta
Tudo lindo...
Mas sinto a falta de você...
A ausência do teu mel
De tua mão segurando a minha
Do teu abraço apertado...demorado
Do beijo beijado
Do silêncio das palavras
E do cheiro que só você sabe dar
Tudo isso...Dói em mim
Não imaginei que seria assim
A tua falta no meu jardim
Ouço passarinhos a cantar
Nossa canção a chilrear
Tentam me alegrar
Mas a saudade de ti
Permanece...e
Faz meu pranto transbordar...

Passeio entre as flores...



BONS ENCONTROS: PÚBLICO VERSUS PRIVADO; ENIGMAS DO ESTADO MÍNIMO

Sociedade civil, ONGs e esfera pública

       EMIR SADER

A grande virada na obra de Marx vem da descoberta de que as relações de classe cruzam o conjunto da sociedade capitalista. Depois de operar com as categorias herdadas do liberalismo, como Estado/sociedade civil, ele fez o que chamou de “anatomia da sociedade civil” e encontrou la dentro as classes e a luta de classes.

Nas últimas décadas, conforme a luta democrática voltou a ter peso – depois de subestimada, em geral, pela esquerda – a categoria de sociedade civil reapareceu. Como está na sua própria natureza, ela se opõe ao Estado e desloca as relações de classe, como um retorno ao liberalismo clássico, de forma paralela à volta do liberalismo no plano econômico – com o nome de neoliberalismo.

No marco dessa categoria passaram a abrigar-se organizações de distinto tipo, desde aquelas estreitamente ligadas aos movimentos sociais e a outras formas de resistência à ditadura militar, até outras, muito mais ambíguas. Esse amálgama é possível porque a categoria de sociedade civil se presta a isso. Ela significaria “o que não é Estado”, permitindo que se abriguem nesse amplo guarda-chuvas as associações do agronegócio e as dos trabalhadores rurais, as dos proprietários de bancos e as dos bancários, a dos donos de escolas privadas e as dos estudantes, além de outras expressões da “sociedade civil” ainda mais problemáticas, como os narcotraficantes, as milícias, etc., todas pertencentes à “sociedade civil”.

Todas elas tem em comum falta de transparência, porque se autoproclamam representantes da sociedade civil, mas a eleição dos seus dirigentes, as origens dos fundos, a forma de tomada de decisões, tendem a não ser transparentes. Basta ver como se pode facilmente fundar uma ou varias ONGs e se candidatar a receber recursos públicos ou simplesmente acobertar negócios escusos.

Além da ambiguidade – para não dizer má fé - da definição de “não governamentais”. Essa posição antigovernamental se soma facilmente às posições neoliberais, não tem fronteiras em relação a “parcerias” com grandes empresas privadas e suas fundações, embora definam limites frontais contra o Estado.

Com a reaparição do liberalismo, ressurgiu com força sua visão da democracia e do Estado. A democracia viria da delimitação e do controle externo da ação do Estado, que seria, por definição, o inimigo central da democracia, que teria nos indivíduos, congregados na sociedade civil, seus elementos constitutivos.

Do que se trataria seria de controlar o Estado pela sociedade civil, para garantir a democracia. Quanto mais Estado, menos democracia, o que o neoliberalismo teorizou como Estado mínimo. Limitar o Estado, para que o mercado assuma a centralidade. Na teoria, esse papel seria o da sociedade civil, que mal recobre, na realidade, o mercado.

Essa concepção negativa do Estado abandona o caminho da democratização do Estado. É a concepção liberal, reatualizada pela ideia de controle do Estado pela sociedade civil – representada por ONGs e outras associações que pretendem assumir essa representação.

A política que mais avançou na construção da democracia no Brasil foi a do orçamento participativo, que fortaleceu a esfera pública no interior do próprio Estado, em detrimento dos interesses mercantis. A luta democrática não é externa ao Estado, mas o cruza. No Estado estão representados interesses distintos, até mesmo contraditórios, os mesmos que cruzam a sociedade.

A separação entre os dois, de caráter liberal, perde esse aspecto, fundamental, da realidade – toda ela cruzada pelas determinações sociais. A sociedade civil é uma ficção, assim como o Estado que se contrapõe a ela, todos sem determinações de classe.

Democratizar é desmercantilizar, é afirmar a esfera pública em detrimento da esfera mercantil. É fortalecer o papel dos cidadãos em detrimento dos consumidores. É levar a democratização para o próprio seio do Estado.

DO BLOG: CARTA MAIOR, O BLOG DO EMIR


sábado, 26 de novembro de 2011

POESIA: MADRIGAL ESTELAR

                          MADRIGAL ESTELAR
                                       JORGE BICHUETTI

amanheci, ave
voando entre o azul e a flor;
depois, descansei no riacho...
não vi os jornais nem a cantinela
dos desiludidos que lamuriam o tempo...
adormeci na relva, esperando o brilho
das estrelas que embalam o sono dos
deuses e pigmeus... elas, sim, sabem
sonhar... tecendo as manhãs do porvir.

MESTRES DO CAMINHO: A TERNURA DE MANOEL DE BARROS

                            RELEXÕES:

- "Poesia é voar fora da asa."

 - "A voz de uma passarinho me recita."

- "Aqui de cima do telhado a lua prateava "


- "Fui criado no mato e aprendi a gostar das
coisinhas do chão –
Antes que das coisas celestiais."


- "Deixei uma ave me amanhecer."   

                        MANOEL DE BARROS


SOCIEDADE DE AMIGOS: A VIDA E A ESTRADA NOS VERSOS DE PAULO CECÍLIO; AVOENGO AMOR...

HÁ O TEMPO DE PERDÃO.
      Paulo Cecílio

sob a chuva fina
estou escrevendo.
é primavera,neto,
e seu tempo é chegado. 
dormi sonhando com voce.
voltar pra terra. 
pra terra com seu cheiro de molhado
e suas aleluias brilhantes que revoam nesta estação.
segurar suas maozinhas
caminhar lento
dizer: aquele é o gavião a coruja a cobra, 
nossa jõao! uma cascavel gigante quase mordeu seu pai
bem ali, debaixo das mangueiras
mostrar as tres jabuticabeiras 
dizer: cada uma é um filho
e foram crescendo até se encontrar 
este cheiro é de lobo este uivo é da noite
esta luz é vaga-lume lamparina 
ali naquela forquilha fica a bica, a fonte mais limpa destes cerrados 
vem lavar sua mãozinhas de doce beber agua pura 
deixa o vovô mergulhar voce por um instante como se aqui fosse o  jordão
batizar você, proteger você das agruras 
irrigar todos os perdoes pro seu coraçãozinho
vem netinho sentir o cheiro de café torrado 
ver como seu avô louco sabe sua lingua e me anistiar com sua inocencia
não deve ser tão ruim ter um vô enlouquecido pelas quinas  da vida
porque saberei escutar suas desconectas palavras e tomar chuva sem ralhar
vem sentar nos meus ombros, ainda posso. 
serei seu cavalo alado, e percorreremos os pastos 
te mostrarei as pequenas criaruras que habitam cupins.
então voce dirá a eles que não vim feri-los 
não vim arrancá-los de seus tuneis aconchegantes 
hoje somos apenas pulsos que pulsam no memo ritmo deste mes de novembro, 
quando revoam nossos bichinhos, alegrando os tambores das cigarras.
então haverá perdão . 
o neto transformará o brejo incomodo em terra da fonte. 
olhará cupins vorazes, como filhos das aleluias. 
haverá perdão. 
um dia estas jabuticabas todas tocarão suas copas como meus filhos 
e descançarei em suas forquilhas 
e dividirei seu mel com meu neto e haverá perdão. 
e esta será a terra doce
e saberei que valeu a pena resistir. 
mesmo amputando membros, e enlouquecendo de amor e de doçura. 
porque esta dor toda era a escola onde aprenderia a mais nobre lingua da criação:
a lingua do mato 
a lingua das crianças
a lingua das araras 
a lingua da terra 
a lingua da anistia.
assim, meu neto, parece que sao as coisas.
de mim, netinho, apenas diga: 
meu avô foi imperdoável, mas houve perdão...