sábado, 26 de novembro de 2011

SOCIEDADE DE AMIGOS: A VIDA E A ESTRADA NOS VERSOS DE PAULO CECÍLIO; AVOENGO AMOR...

HÁ O TEMPO DE PERDÃO.
      Paulo Cecílio

sob a chuva fina
estou escrevendo.
é primavera,neto,
e seu tempo é chegado. 
dormi sonhando com voce.
voltar pra terra. 
pra terra com seu cheiro de molhado
e suas aleluias brilhantes que revoam nesta estação.
segurar suas maozinhas
caminhar lento
dizer: aquele é o gavião a coruja a cobra, 
nossa jõao! uma cascavel gigante quase mordeu seu pai
bem ali, debaixo das mangueiras
mostrar as tres jabuticabeiras 
dizer: cada uma é um filho
e foram crescendo até se encontrar 
este cheiro é de lobo este uivo é da noite
esta luz é vaga-lume lamparina 
ali naquela forquilha fica a bica, a fonte mais limpa destes cerrados 
vem lavar sua mãozinhas de doce beber agua pura 
deixa o vovô mergulhar voce por um instante como se aqui fosse o  jordão
batizar você, proteger você das agruras 
irrigar todos os perdoes pro seu coraçãozinho
vem netinho sentir o cheiro de café torrado 
ver como seu avô louco sabe sua lingua e me anistiar com sua inocencia
não deve ser tão ruim ter um vô enlouquecido pelas quinas  da vida
porque saberei escutar suas desconectas palavras e tomar chuva sem ralhar
vem sentar nos meus ombros, ainda posso. 
serei seu cavalo alado, e percorreremos os pastos 
te mostrarei as pequenas criaruras que habitam cupins.
então voce dirá a eles que não vim feri-los 
não vim arrancá-los de seus tuneis aconchegantes 
hoje somos apenas pulsos que pulsam no memo ritmo deste mes de novembro, 
quando revoam nossos bichinhos, alegrando os tambores das cigarras.
então haverá perdão . 
o neto transformará o brejo incomodo em terra da fonte. 
olhará cupins vorazes, como filhos das aleluias. 
haverá perdão. 
um dia estas jabuticabas todas tocarão suas copas como meus filhos 
e descançarei em suas forquilhas 
e dividirei seu mel com meu neto e haverá perdão. 
e esta será a terra doce
e saberei que valeu a pena resistir. 
mesmo amputando membros, e enlouquecendo de amor e de doçura. 
porque esta dor toda era a escola onde aprenderia a mais nobre lingua da criação:
a lingua do mato 
a lingua das crianças
a lingua das araras 
a lingua da terra 
a lingua da anistia.
assim, meu neto, parece que sao as coisas.
de mim, netinho, apenas diga: 
meu avô foi imperdoável, mas houve perdão... 

4 comentários:

Paulo Cecilio disse...

mas, Jorge, acho que vou escrever só pra ver você poetar com suas ilustrações. Ficou belíssimo. Como se estivesse dentro de mim. Obrigado. ô vida...

Anônimo disse...

Dr. Jorge adivinha:
SAUDADE

Quero ir ao Centro na terça feira.

Um beijo em homenagem a sua ternura.

Denise

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Paulo, um lindo canto entre a poesia do amor e a ternura da vida que é uma avoenga cantiga; abraços ternos, jorge

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Denise, a ternura é dos anjos e dos passarinhos... ir ao Centro é u'a boa pedida pra u'a terça de renovação e paz; jorge