HÁ O TEMPO DE PERDÃO.
Paulo Cecílio
sob a chuva fina
estou escrevendo.
é primavera,neto,
e seu tempo é chegado.
dormi sonhando com voce.
voltar pra terra.
pra terra com seu cheiro de molhado
e suas aleluias brilhantes que revoam nesta estação.
segurar suas maozinhas
caminhar lento
dizer: aquele é o gavião a coruja a cobra,
nossa jõao! uma cascavel gigante quase mordeu seu pai
bem ali, debaixo das mangueiras
mostrar as tres jabuticabeiras
dizer: cada uma é um filho
e foram crescendo até se encontrar
este cheiro é de lobo este uivo é da noite
esta luz é vaga-lume lamparina
ali naquela forquilha fica a bica, a fonte mais limpa destes cerrados
vem lavar sua mãozinhas de doce beber agua pura
deixa o vovô mergulhar voce por um instante como se aqui fosse o jordão
batizar você, proteger você das agruras
irrigar todos os perdoes pro seu coraçãozinho
vem netinho sentir o cheiro de café torrado
ver como seu avô louco sabe sua lingua e me anistiar com sua inocencia
não deve ser tão ruim ter um vô enlouquecido pelas quinas da vida
porque saberei escutar suas desconectas palavras e tomar chuva sem ralhar
vem sentar nos meus ombros, ainda posso.
serei seu cavalo alado, e percorreremos os pastos
te mostrarei as pequenas criaruras que habitam cupins.
então voce dirá a eles que não vim feri-los
não vim arrancá-los de seus tuneis aconchegantes
hoje somos apenas pulsos que pulsam no memo ritmo deste mes de novembro,
quando revoam nossos bichinhos, alegrando os tambores das cigarras.
então haverá perdão .
o neto transformará o brejo incomodo em terra da fonte.
olhará cupins vorazes, como filhos das aleluias.
haverá perdão.
um dia estas jabuticabas todas tocarão suas copas como meus filhos
e descançarei em suas forquilhas
e dividirei seu mel com meu neto e haverá perdão.
e esta será a terra doce
e saberei que valeu a pena resistir.
mesmo amputando membros, e enlouquecendo de amor e de doçura.
porque esta dor toda era a escola onde aprenderia a mais nobre lingua da criação:
a lingua do mato
a lingua das crianças
a lingua das araras
a lingua da terra
a lingua da anistia.
assim, meu neto, parece que sao as coisas.
de mim, netinho, apenas diga:
meu avô foi imperdoável, mas houve perdão...
4 comentários:
mas, Jorge, acho que vou escrever só pra ver você poetar com suas ilustrações. Ficou belíssimo. Como se estivesse dentro de mim. Obrigado. ô vida...
Dr. Jorge adivinha:
SAUDADE
Quero ir ao Centro na terça feira.
Um beijo em homenagem a sua ternura.
Denise
Paulo, um lindo canto entre a poesia do amor e a ternura da vida que é uma avoenga cantiga; abraços ternos, jorge
Denise, a ternura é dos anjos e dos passarinhos... ir ao Centro é u'a boa pedida pra u'a terça de renovação e paz; jorge
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