sexta-feira, 30 de julho de 2010

Frei Beto e o hipocondríaco

O hipocondríaco
Frei Betto

Em tempo de remédios falsificados e laboratórios incompetentes, vale lembrar deste consumidor compulsivo que faz da bula Bíblia: o hipocondríaco. Ele padece do mal de ter mania de doenças e adora tomar remédios. Ao passar à porta da farmácia não resiste e pergunta: "O que tem de novidade?"

Nada mais ofensivo ao hipocondríaco do que erguer um brinde e desejar-lhe "saúde!". Ele só freqüenta coquetel de vitaminas. Encara sempre o interlocutor com aquele olhar de quem diz: "ando sentindo coisas que você nem imagina". No telefone, faz voz de vítima. Cara a cara, suplica, silente, a compaixão alheia.

Está sempre entrando ou saindo de uma gripe; já tomou todas as vacinas; sofre da coluna; padece de insônia; e trata médico como faz com motorista de táxi: "Tá livre?"

O hipocondríaco entra na Justiça exigindo mandado de prisão contra os radicais livres e duvida que alguém possa imaginar o tamanho da enxaqueca que teve ontem. Enquanto outros fazem shopping, o prazer do hipocondríaco é visitar drogarias de vitaminas importadas. Ingere pela manhã o abecedário em drágeas e nunca se deita sem antes tomar um chá de ervas.

Hipocondríaco não tem plano de saúde; prefere cota de cemitério. Gosta de se separar da família para morrer de saudades. E fica doente de raiva quando alguém diz que ele aparenta boa saúde.

O autêntico hipocondríaco carrega sempre uma dorzinha de lado, uma unha encravada, uma afta na boca, uma irritação na garganta, uma dor na coluna e umas tonturas estranhas.

Para o hipocondríaco, esposa ideal é a que banca a enfermeira; cadeira confortável é a de rodas; e cama macia, a de hospital.

O hipocondríaco é a única pessoa que, pelo som, distingue sirene de ambulância da de viatura de polícia e de bombeiro.

O guru do hipocondríaco é Hipócrates, e sua filosofia se resume nesta questão metafísica: "Se a gente nasce deitado e morre deitado, por que não viver deitado?"

O hipocondríaco morre de medo da vida saudável. Está convencido de que a diferença entre o médico e ele é que o primeiro conhece a teoria e, o segundo, a prática. Nunca pergunte a ele: "Vai bem?" É preferível: "Melhorou?"

O hipocondríaco só assina revistas médicas e, nos jornais, lê primeiro o obituário. Mas, ao contrário do que se pensa, o hipocondríaco não quer morrer — isto o curaria de sua loucura.

Nunca convide um hipocondríaco a matricular-se numa academia de ginástica. Ofereça-lhe um check-up. Os únicos exames que ele aceita fazer são os clínicos e adora ser reprovado. Se faz cooper, a perna dói; se pratica natação, fica resfriado; se flexiona o abdome, sente dor nas cadeiras.

O hipocondríaco escuta o médico com a mesma atenção que o bêbado ouve os conselhos do abstêmio. A turma do hipocondríaco se reúne em porta de farmácia e tira férias em clínicas de repouso.

O hipocondríaco é o único paciente que consegue decifrar letra de médico. Ele não se recolhe para dormir, e sim para repousar. Nunca deseje "bom-dia" a um hipocondríaco; pergunte: "Levantou melhor?" Aliás, ele não se levanta; tem alta. No aniversário, dê a ele um vidro de remédios. Todo hipocondríaco é viciado em aspirina, vitamina C e melatonina.

O hipocondríaco sabe dar nó nas tripas e acredita que o melhor lazer é curtir uma diverticulite. Considera incompetente todo médico que diz que ele não tem nada.

O hipocondríaco acredita em tudo que a mídia fala sobre cuidados com a saúde.

Quando viaja, não se hospeda; se interna. No bolso de dentro do paletó ele não carrega caneta, mas termômetro. E é a única pessoa capaz de enxergar vírus e bactérias em talheres de restaurantes.

Sonho de hipocondríaco é ser socorrido por um daqueles helicópteros UTI que aparecem na TV. E sempre reclama de que já existem telessexo, telepiada, telepizza, telessorteio, só falta o teledoença: você liga, descreve os sintomas e, do outro lado da linha, uma voz de médico prescreve a medicação.

Deve ter sido um hipocondríaco quem deu ao remédio que combate infecções o nome de antibiótico — que significa "contra a vida".

O hipocondríaco não tem remédio. Ele só se cura quando morre e, paradoxalmente, a morte é o sintoma mais óbvio de que ele tinha razão. Pena que não possa levantar-se do caixão e enfiar o dedo na cara de quem o tratava pejorativamente como hipocondríaco. De qualquer modo, repare como ele, defunto, traz um sorrisinho de vitória nos lábios.

DIÁRIO DE BORDO: O PASSO, EL PASO...

                                                                 JORGE BICHUETTI
De volta... Saudades e lembranças. O domingo montevideano, com frio e as árvores desfolhadas parece triste. Como triste é a solidão, se não temos a companhia de um livro ou um disco que se personificam quando os amamos.
Não é triste, Montevideo tem melancolia barroca e em suas dobras o calor dos afetos intensos e vibrantes.
Cheguei... E na Tv vi o triste da violência que perdura e multiplica, exigindo-nos maior radicalidade na defesa dos direitos humanos.
Retornei e não pude ( ou melhor, não quis) a cadeira de balanço.
Retomei o trabalho, junto aos amigos e irmãos, na organização do II Congresso Internacional de Esquizoanálise e Esquizodrama.
Afinal, está chegaando... E chegando com a potência de uma rede de trabalhadores que pensam e vivem o novo, na ousadia de desbravar horizontes para a Terra seja de todos e para que os encontros sejam ternos e solidários e vida uma eterna primavera...
Já não vejo a hora de chegar setembro...
Uberaba, 10,11 e 12 de setembro: nosso grande encontro.
A programação já está sendo divulgado. Estão abertas as inscrições de trabalhos e de participação...
( é só dar uma chegada no site www.fgbbh.org.br)
Na espera, alguma perguntas saltam dos ventos e perambulam em meus pensamentos...
O que esperamos?
Por que este encontro?
Inicialmente, digo a mim mesmo que a solidão do mundo neoliberal já não nos permite estar diante da TV ou da internet, afastados dos verdadeiros encontros com o outro sem o qual não me percebo humanidade, humanidade diversa e plural, com sonhos e possibilidades que conectadas fazem da utopia um plano emergencial de superação dos horrores que estamos vivendo no nosso dia-a-dia.
Depois, sigo e pensando vou alencando elementos que me fazem cheio de tesão para que setembro não tarde tanto:
- escutar outras experiências é potencializar nossa capacidade de nos cuidar e de cuidar dos outros e da vida;
- não podemos negar a falências dos receituários prévios e, assim, necessitamos com urgência de intensificar a nossa capacidade-arte de inventar;
- falta ar, e urge vivenciar um espaço de ternura e suavidade;
- o mal e o maléfico abunda, então, já podemos adiar nossa potência de insurgir, de trabalhar a mudança e de ousar lutar pelos sonhos de um outro mundo possível;
- o racional pragmático do capitalismo não fez cinza, agora me parece que devemos aproximar da poesia e das utopias, do corpo que se libera e da alma que se plenifica na potência dos bons encontros e nas paixões alegres;
- e, também, pelo desejo de revitalizar minha opção pela vida, com direito à diferença e com o exercicio dos direitos humanos como ontologia de um novo tempo.
Ah! não consigo parar... Juntos vamos construir uma sociedade de amigos.
Vamos voar e brilhar, encantar-nos e encantar, vamos... ser o não-ser e ser-muitos.
Vamos brincar e sorrir...
Vamos viver...
Assim, quando chegar setembro... Quero " nossa cidade toda ensolarado, os meninos e o povo no poder"...
POR UMA NOVA TERRA, POR UM POVO POR-VIR...

SOCIEDADE DE AMIGOS: VITALISMO POÉTICO

EXILADOS
PAULO CECÍLIO

não chorem, exilados,
não chorem,
sedentos do seu torrão.

não chorem, exilados,
na escura mão da solidão.

A gravidade prende a alcatéia,
mas somos as nebulosas.

olhos de estrelas,
asas de cometas,
línguas de fogo.

PEGASUS calgamos:
habitamos o ventre
do universo.


O TEMPO FOGE
                EDSON COSTA DUARTE

Tempo
é o que sente                                                                                     DA MORTE
a fera acuada.                                                                      EDSON COSTA DUARTE
                                                                                   
Esse frio na barriga                                                               Aprender
e a armadilha da fome.                                                          Que cada dia 
                                                                                             É um dia a menos
Tempo                                                                                  Ou a mais.
é o que fende
coragem e medo.
E distende:
enorme boca
vazia de sentido.


POESIAS: VIDA , SONHOS E CAMINHOS

O PASSO
        Jorge Bichuetti

Há asas enovelados
nas entranhas dos meus pés...
Há horizontes nunca vistos
na poeira que sobe e voa
quando meus passos desbravam
os enigmas de uma estrada...

Com um passo, deixo o pântano;
com outro, estou no céu...
Com um passo, te abraço;
com outro, rompemos os elos
desta louca escravidão
que não nos permite ver na vida
os frutos da libertação...
BEIJO PARTIDO
                       jorge bichuetti

Não sei o sabor, nem a cor
do beijo que voou, antes,
do nosso amor encontrar-se...

Nem sei o real valor,
daquele amor sonhado,
antes... da vida acordar...


ESQUIZOANÁLISE E PRODUÇÃO DE VIDA

                                                         JORGE BICHUETTI

  Sempre vemos a vida como algo dado...
  Culpamos o destino, agradecemos aos céus: afinal, a temos alheia aos nossos atos e intervenções.
  A realidade tende a determinar a vida. E a determina quando somos passivos e submissos aos seus processos de manutenção das regularidades e estabilidades do instituído.
  Naturalizamos, assim, o modo de existir onde tudo é externamente determinado e a caminanhada , uma repetição de passos robôticos.
  No entanto, a vida é mais... Ela é produzida, incessantemente.
  E em sua produção podemos assumir uma função reprodutiva passiva, deixando a vida nos levar nos rodopios tristes da exploração, dominação e mistificação que marcam o modo de existir da sociedade capitalista.
  Ou, podemos: na dança guerreira de ousadia e insurgência, resistir e reinventá-la vida nova.
  A esquizoanálise é um dispositivo de pensar e viver que nos chama para a produção de vida, afirmando-a alegria, solidariedade, generosidade, desejo produtivo, diferença, singularidade, multiplicidade e devir.
  Ela nos possibilita a experimentação e produção de novidades insólitas.
  Supera o império do nada, a coisificação e o impotência de um sujeito feito para as repetições.
  Num mundo de individualismo, competição e consumismo, ela nos mostra que nossa vida se dá rizomaticamente. Conectamos com o outro, com a natureza e com a história e nestas conexões podemos gerar agenciamentos de mudança e nos darmos aos acontecimentos.
  Que vida andamos produzindo?
  O que estamos fazendo de nós?
  Investiguemos e busquemos uma postura ética-estética de produção de vida e libertação.
  Para que possamos, então, navegar num oceano de ternura e suavidade.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

DIÁRIO DE BORDO: UMA VIAGEM, NOVOS CAMINHOS

                                                                JORGE BICHUETTI

   Estou de malas prontas... Montevideo: meu canto encantado de sonhos e produções criativas. Já vejo o sorriso dos amigos, a sabedoria de seus pensamentos e ousadia de seus trabalhos.
   Viajar é um alisamento no ego e uma abertura às multiplicidades que pululam como potências virtuais no nosso mundo.
   Lados da loucura - a loucura é um cometa que nunca passa, brilha e encanta e baila... Se lhe depositamos num buraco negro, ele serpenteia e agoniza... Mas resiste... Pois é a diferença que afirma a vida como expontaneidade e criatividade; não pode ser compreendida pelas semelhanças ou limitações... Suas divergências anunciam linhas de fuga para uma utopia ativa.
    É Arte-arteira; é arte-manha; é arte-amanhã...
     Voltamos , logo..
    Beijos

segunda-feira, 19 de julho de 2010

MESTRES DO CAMINHO: REFLEXÕES DE QUINTANA




"A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu a amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará."
--

sábado, 17 de julho de 2010

POESIAS ENLUARADAS

                                                            No caminho
                                                                     jorge bichuetti

Se as pedras e os espinhos,
as pontes caidas e o guarda
que espia, indolente...
Se esta vida e o relógio,
o cartão de ponto e o medo
que espreita, inclemente...
Se não há caminhos,
entre morros e alagados
que fagocitam como serpentes...
Entre parar e esquecer,
resistir e me perder...
Entre o perigo e a sorte,
o arrepio e o suspiro...
Se a vida persiste vida,
inventarei um novo caminho...
Se chão rouba meus pés,
tecerei com meus sonhos
asas e um voar, livre...
E entre estrelas e nuvens
semearei o meu quintal
e, assim, o meu caminho,
louco e  errante destino,
se tornará meu refúgio
e o abrigo onde dormirá
o tempo e o horizonte
que busco com minhas andanças;
o tempo e o horizonte
onde mora os sortilégios
do eterno alvorecer...

                                                               A lua
                                                                     jorge bichuetti

Enciumada, a lua
prateia o meu caminho;
com medo de lobisomem,
vive sempre nos meus pés...
Deitada, sussurra ardente,
pedindo-me fidelidade...
Assim, toda dengosa,
ela me tem do seu lado;
e quando adormece aninha
num canto do meu coração.












                                                              Paixão
                                                                    jorge bichuetti
Fogo ardente, pele fria...
Num arrepio estranho e raro:
mistura desejo e medo,
acorrenta ao chão, meus pés;
e dá asas ao meu coração...


sexta-feira, 16 de julho de 2010

CONGRESSO DE ESQUIZOANÁLISE E ESQUIZODRAMA

ATENÇÃO! ESTÃO ABERTAS AS INSCRIÇÕES...
INSCREVA-SE!
                 II CONGRESSO DE ESQUIZOANÁLISE E ESQUIZODRAMA
                  10, 11 E 12 DE SETEMBRO DE 2010. UBERABA, MG.
INSCRIÇOES NO SITE: WWW.FGBBH.ORG.BR

DIÁRIO DE BORDO: NA VOLTA DO BARCO...

                                                                           JORGE BICHUETTI
 Céu claro... O inverno ameaça chegar. Lá fora, a natureza o sente, antes... Os pássaros se recolheram e eu não os ouvi na alvorada.
 Entre papéis e uma caneta, vou rabiscando a vida.
Onde mora a suavidade?
Já acretidei que a teria num rancho à beira do Rio Grande.
Já a vi na imensidão entre estrelas bailarinas.
Já a sonhei no amor e na revolução.
Não sei seu endereço, mas não deixo de procurá-la.
Quero-a, comingo, com minha gente e com todo o mundo.
Não é suave o assasssinato de mulheres; não é suave o barco de alimentos sendo impedido de suprir a fome na Faixa de Gaza; não é suave a candidatura de pessoas com ficha suja; não é suave...
É suave: a vitoría do povo argentina que superando a homofobia, legalizaram o casamento gay...
É suave: Chiapas, Las Madres, O MST, os núcleos de economia solidária.
Como é suave a resistência e aluta por direitos humanos!
Não nada suave câmaras no colégio violando a privacidade dos adolescentes.
Como é suave celebrar 20 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente!
Não é suave o petróleo no Golfo do México, nem é suave a poluição, o desmatamento, a opressão.
Lutemos por mundo de suavidade!
Na dúvida, se esquecemos do que suavidade, vejamo-la:
- nos jogos infantis e no sorriso de uma criança;
- na prosa sábia de um idoso;
- nas cores do pôr-do-sol;
- no canto dos passarinhos;
- e no beijo doce e terno dos apaixonados.

ESQUIZOANÁLISE: ARTE-MANHAS DO DEVIR ( 2 )

                                                                           JORGE BICHUETTI
NOVAS INDIVIDUAÇÕES E UMA NOVA SAÚDE: Durante anos a temática do direito à saúde se restringiu às medidas de extenção de cobertura e à otimização de recursos. O que no diferia do ideário neoliberal do estado mínimo. O planejamento democrático e a estratégia de controle social consubstaciaram avanços importantes, porém, o tendão de aquiles do sistema permanecia intocável...
Merhy com suas produções gerou um salto de qualidade nos debates do campo da sáde como direito.
  - Fala da necessidade de um novo modelo assistencial;
  - mostra que o acolhimento é um elemento de mudança radical;
  - fermenta a necessita de se reinventar as relações no interior das práticas de saúde.
Com ele, o Canguilhen da contemporaneidade, temos uma nova problemática: as práticas de saúde são potencialmente dispositivos de individuação do profissional e do usuários, novos modos de andar a vida, um espaço para o cuidado terno e amoroso, para o encargo, o vínculo e a corresponsabilização.
A FAMÍLIA: A FAMÍLIA ANDA EM CRISE E AS CRISES ANDAM EM FAMÍLIAS. Como superar a família como instituição repressiva e fazê-la um instituinte afirmativo, um coletivo de relações transversais e de quebra da solidão O grupo familiar como território do cuidado, desterritorializa as práticas de exclusão do modo de cuidar dominante, e, neste contexto, pode ela se transformar num dispositivo libertário?
Escutemos no Congresso de setembro, as reflexões dos que lidam, cuidam e pensam estas realidades...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

ESQUIZOANÁLISE: ARTE-MANHAS DO DEVIR

                                                       JORGE BICHUETTI

    Alguns temas serão abordados no Congresso de Uberaba, em setembro, quando juntos vamos desfrutar da potência dos sonhos que se atualizam nos bons encontros.
    Eis alguns destes temas:
    ARTE e SUBJETIVAÇÃO: Em Caosmose, Guattari definiu a arte como uma situação caosmótica, um espaço fecundo de singularização e de devires. Em Crítica e Clínica, Deleuze havia imputado à arte uma função psicoterâpica impar. Foucaut pensa a subjetivação como a própria vida como obra de arte...
    A arte pode muito. É um canal de expressão que rompe com o quadriculado da racionalidade técnico-instrumental da subjetividade capitalística. Conecta-se com a loucura, sendo uma estrada de viagens onde a loucura sai do seu enclausuramento e diz do novo insólito e do diferente que ela encarna; e é um meio-vereda de expressão criativas dos desejos produtivos que ainda não conseguem emergir sem a couraça repressiva dos registros e controles do instituído, sendo assim fecunda linha de fuga. Consumação do novo, driblando o status quo....
    REALTERIDADE: Estaria o mundo limitado ao existente? Existiria algo além do que chamamos existente na própria realidade? Fora da lógica binária, imanente a realidade, existe virtualidades que não foram ainda atualizadas , mas que se mantém vivas e potentes, podendo ao serem atualizados gerarem o novo radical... Não está fora, nem é uma oposição: é diferença, divergência e criação que imanentes persistem e podem ganhar o território da vida, provocando mudanças e intensificando as potências da própria existência.
     - realteridade é um  conceito de Gregorio Baremblitt...
   REFORMA PSIQUIÁTRICA: Não basta derrubar os muros dos hospícios. A loucura pede uma nova compreensão. Doença? Complexo? Estrutura? a esquizoanálise conceitua oudaciosa - diferença, singularidade, devir...
Assim, ela enriquece o mundo e  é uma força insurgente...
                obs.. Na próxima postagem seguem outros temas

ESQUIZOANÁLISE E POTÊNCIA DE VIDA

                                                                            JORGE BICHUETTI

  Neste momento, quando nos preparamos para o II Congresso Internacional de Esquizoanálise e Esquizodrama, que se realizará em Uberaba, nos dias 10, 11 e 12 de setembro de 2010, refletimos no fluxo dos acontecimentos: Qual é o rosto da esquizoanálise?
A esquizoanálise é uma corrente de pensamento e intervenção que se pauta pela afirmação da vida e que entende a vida e realidade como devir.
E o devir que é a própria essência do real, rompe com a idéia de permanência, imutabilidade, estabilidade e identidade rígida e fixa.
De fato, a potência de vida e da vida que emerge na compreensão esquizoanalítica é marcada pela singularidade, pela multiplidade e pela individuação.
Num mundo de cópias de normalidade, de repetições e identificações, incluse de exclusão do que não enquadra, a esquizoanálise surge revelando a potência da diferença.
Neste contesto, é insurgente, rebelde e imanente ao pensamento e ato de mudança.
Antes toda mudança, era pensada pela idéia de escassez e falta, asssim, se movia pela negatividade.
A esquizoanálise acentua que a mudança se dá no potência da vida que é excesso.
Afirma, assim, seus criadores: a atualização do virtual não se opera pela negatividade nem pelo ressentimento e culpa, se dá pela diferença, pela divergência e pela criatividade.
Nosso mundo é mundo de evitação do novo, e, portanto, valoriza a repetição e exclui a diferença; idolatra a resiliência e marginaliza a resistência; e, por fim, captura a criatividade, quadriculando-a como cultura midíatica.
Como romper com este império de manutenção do status quo?
Deleuze pode desvendar o papel da dramatização; Guattari, da miltância que age mudando já na perspectiva da revolução molecular.
Deriva-se dai o valor do Esquizodrama e dos movimentos sociais minoritários e afirmativos.
Tudo pela vida... Pelo direito à diferença... E por um outro mundo possível e necessário.
Muito semelhante ao conceito de Hebe de Bonafini que disse que revolução se faz, fazendo, se faz, partilhando e se faz dando-se doando-se...
Enfim, afirmando-se a vida e pela vida no novo já...











sexta-feira, 9 de julho de 2010

MESTRES DO CAMINHO: MANOEL DE BARROS

O fotógrafo – Manoel de Barros
Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim num beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada mais na existência do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda azul-perdão no olho de um mendigo.

OS ENIGMAS DA MULTIPLICIDADE

                                                               JORGE BICHUETTI

Todos somos conscientes dos limites do funcionamento normótico: identidade fixa, permanência e estabilidade, rigidez, submissão às expectivas alheia nem detrimento dos próprios desejos e sonhos.
Assim, desejamos mudar...
Muitos esperam a mudança na negação do instituído.
Desejamos a singularidade, a multiplicidade e o devir...
Vejamos, então, algumas assertivas da esquizoanálise:
O superhomem não é fruto da negação, não é reação; é, sim, a transformação da negação numa afirmação. Afirmação ética e estética da vida
A diferença, assim, resulta do exercício da vontade de potência. E depende dos graus de transversalidade, pois são estes que evitam a confusão e a totalização.
Vincula -se ao intempestivo e ao nomadismo.
E emergem da dramatização....
A singularidade, a multiplicidade e o devir são realteridades que urgem serem atualizadas, pelo próprio esgotamento do Eu único e soberano, despótico e castrador..
Contudo, a atualização da realteridade, do novo inédito, tem por regra não a semelhança, e a limitação, mas, sim, a diferença e divergência, e ainda a criação.
A multiplicidade é uma rede de singularidade - afirma Baremblitt.
O Eu uno - é a identidade restritiva da subjetividade capitalística.
A exploração das linhas de vida possíveis passam por uma ruptura com este funcionamento assujeitado e pela conquista de novos territórios de vida que afloram quando nos damos aos acontecimenos, via a intensificação da diferença, a luta nas divergencias e o exercício da potência criativa.
Assim, caminha a humanidade...
Assim, nasce o novo...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

DIÁRIO DE BORDO: QUANTO CUSTA SONHAR?

                                                    JORGE BICHUETTI

Já quase não sonhamos. Escravos do fatalismo, levamos a vida: repetimos o vivido e executamos o imposto pelas expectativas e normas do socius.
Deixamos a vida acinzentar nossos sonhos.
O homem é belo porque é um estar entre o animal e o além do homem.( Nietzsche)
Ir além, romper barreiras, inventar a si mesmo e reinventar o mundo são desafios que o tomamos para nós ou nos escravizamos a rotina aborrecida e tediosa do dia-a-dia.
Os normais - protótipos do status quo - vivem sem sonhos.
Se acomodam à realidade e não ousam romper, ali, onde está a fronteira.
E sem novo, adoecem, se amesquinham e se apequenam.
Não exploram o que pode o homem e a vida.
Nunca afirmam, simplesmente negam...
O sonho nos fazem diferentes, nos singularizam, pois são inspirações de afirmação da vida commo potência de alegria e solidaridade, liberdade e ternura, justiça e amor.
Territorializados pelos poder, negamos a afirmação de nossa potência.
Assim, nos tornamos escravos da tristeza.
Busquemos a alegria e vida, e na singularidade da ousadia dos sonhadores saibamos inventar um outro mundo possível

POESIAS: ENTRE A NUVEM E O TROVÃO

                                                      SONHOS
                                                             JORGE BICHUETTI

Flores, perfumando a manhã...
Cores, enfeitando a tarde...
Estrelas, prateando a noite...
E os sonhos? Puro silêncio,
este silêncio indolente,
este medo de tudo...
Já houve um tempo
de canto e poesia,
um tempo onde os sonhos
eram festa e magia.
Hoje, há muita cinzas no caminho,
há muito cinza na alma do povo...
Que fazer? Afirmemos a vida,
perfumando nossos sonhos
com uma rosa roubada;
colorindo a fantasia
com as tintas guardadas
e que , um dia, pintaram
os muros da cidade
com o alfabeto de uma utopia...
As estrelas? Libertemo-las...
e livres as concebemos,
deixando nosso coração
voar pelo infinto, e bailarino
brilhar... Feito sonho de menino.

                                                LIBERDADE
                                                     JORGE BICHUETTI

Não tenho os pés acorrentados,
e minhas mãos não estão amarradas...
Mesmo, assim ignoro as asas
que me foram dadas e preso no chão
sigo vivendo com minha alma alagada.
Liberdade, liberdade!... Perdi sua direção,
e, agora, sofro inquieto
sob o peso da escuridão.

Escutando o voz do tempo
na fala de um passarinho
que livre voa e canta,
descobri meu desatino:
Liberdade, liberdade!...
Moça faceira, vida trigueira
que floresce nas nuvens
do sonho que voa alto
e não teme a fúria voraz
dos esouros de um trovão.

Liberdade é relâmpago,
cometa e grama que lastra,
na coragem de ousar
do chão sair e plantar
no hoje, o amanhã.

domingo, 4 de julho de 2010

BOLETIM N° 2 - CONGRESSO DE ESQUIZOANÁLISE E ESQUIZODRAMA

 II CONGRESSO INTE4RNACIONAL DE ESQUIZOANÁLISE E ESQUIZODRAMA
BOLETIM Nº 2 - " POR UMA NOVA TERRA, POR UJM POVO PORVIR " Deleuze
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                         MILITAR É AGIR - FELIX GUATTARI
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UBERABA, 10, 11 E 12 DE SETEMBRO DE 2010. CHÁCARA CASA DO FOLCLORE
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FAÇA SUA INSCRIÇÃO NO SITE WWW. FGBBH.ORG.BR, E ENVIE TRABALHOS.
Modos de apresentação: pôsteres, apresentação oral e esquizodrama.
ATENÇÃO: o valor da inscrição até 31 de julho é 55,00 ( estudantes, militantes dos movimentos sociais e aposentados) e 110,00( profissionais)...
A Casa do Folchore já esta fazendo reservas à 50,00 a diária / pessoa.
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Segue a progrmação via email. Multipliqque-a