Frei Betto
Senhor,
Torna-me louco, irremediavelmente louco,
Como os poetas sem palavras para seus poemas,
As mulheres possuídas pelo amor proíbido,
Os suicidas repletos de coragem perante o medo de viver,
Os amantes que fazem do corpo a explosão da alma.
Dâ-me, Senhor, o dom fascinante da loucura
Impregnado na face miserável do pobre de Assis,
Contido nos filmes dionisíacos de Fellini,
Resplandecente nas telas policrômicas de Van Gogh,
presente na luta inglória de Lampião.
Quero a loucura explosiva, sem a amargura
Da razão ética das pessoas saciadas à noite pela TV,
Da satisfação dos funcionários fabricantes de relatórios,
Dos discursos políticos cegos ao futuro.
Faz de mim, Senhor, um louco
Embriagaado pelo teu amor,
Marginalizado do sol de homens sérios,
Para poder aprender a ciência do povo
Em núpcias com a cruz que só a fé entende,
Como um louco a outro louco.
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