segunda-feira, 7 de novembro de 2011

DIÁRIO DE BORDO: A NOSSA PRIMAVERA SUPRIMIDA....

                                             Jorge Bichuetti

Madrugada... A chuva mansa hipnotizou-me...Serena, faceira... No ritmo dos sonhos; uma cantiga de ninar...
A Luinha ouviu-a, atenta... Aninhada no meu corpo, cochilou  voos de anjos... Os passarinhos acordaram festeiros, nu'a cantoria que alegrou toda natureza... A roseira em flor...está contagiante: ternura viva, um convite ao amor...
Não se definir o porque da humanidade ter se apartado da natureza, coisificando-a e a venerando, somente, nos álbuns de fotografia...
Nos perdemos no caminho...
O narcisismo empobreceu nossa alma e a nossa vida... Tornou-nos insensíveis: duros, rígidos, apressados e insensíveis...
Os dias passaram a ser norteados pela agenda que anota nossos compromissos e obrigações... Frenéticos, buscamos cumprir nossas metas... Entre a etiqueta e os cifrões...
Perdemos a leveza, a capacidade de brincar, sonhar, contemplar...
Racionais e pragmáticos; seguimos...
Nem notamos o cheiro da terra orvalhada, as cores que enfeitam a vida... os sons... 
Retiramos a natureza do nosso contexto existencial...
Assim, já não podemos... ser no desperta um olhar; ser no que desperta a festa dos passarinhos, a beleza das flores...
Muitos, esperam a criação pela ciência do homem-robôtico... Ele não virá, porquanto já é...
Robotizados, vivemos sob as pressões estressantes do dia-a-dia...
Somos eficientes;mas, tristes... cinzentos, aborrecidos...
E para cristalizar nossa robotização, instaurou-se no tecido social o homem líquido: sem vínculos, asséptico e anestesiado...
A vida é caminho de experimentações e produções criativas... Tristeza e alegria; encontro e afastamento; desespero e serenidade...
Quando percebemos a vida, vemos que a nos retiraram... e sem ela, vivemos amputados.
Um dia, chega a depressão, o pânico, as fobias, a dependência química... e adormecidos, cremos que estamos no abismo da nossa própria falência...
No entanto, elas chegam perguntando, buscando, despertando a nossa humanidade negada...
Chegam... como a  chuva penetra o solo, acordando-o para a sua plenitude, para a sua fecundidade...
A chuva carrega virtualmente uma multidão de flores e frutos...
As mazelas que assaltam o coração do mundo e mortificam nossos corpos... igualmente... buscam a vida remoçada das florescência que virão com o resgaste da nossa humanidade...
Quando uma destas dores chegar... não percamos nosso tempo... Deixemos a vida acordar nossa humanidade; e cantemos... Elas só procuram na existência que levamos a nossa primavera suprimida...

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