quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Lições de Baremblitt: amor e dependência

LIÇÕES DE BAREMBLITT

                             AMOR E DEPENDÊNCIA
                    Jorge bichuetti






                                                           
Você sabe o que ter um amor, meu senhor,

ter loucuras por uma mulher

e depois, encontrar esse amor , meu senhor,

nos braços de um tipo qualquer.¨

Vivemos a dor de amar sob o registro do édipo: amor possessivo, competitivo e triangular.

Um amor fadado ao esgotamento.

E carregamos a ilusão romântica do amor ideal, eterno e único: um cavalo branco, uma princesa, almas gêmeas, sapos e abóboras...

Assim, vivemos e sofremos.

Certa vez, sofrendo a perda de um grande amor., destes que ¨morre hoje sem foguete, sem retrato e sem bilhete, sem luar , sem violão.¨

Vivi um encontro terapêutico inesquecível.

Baremblitt ouvia-me, terno e acolhedor, cúmplice.

Eu falava da minha dor. Dor-dependente, de quem via a vida se esvaziar na partida sem adeus de quem já não estava.

Conversávamos, e eu me armava iludido. Falava mal... de mim. Da minha simbiose, da minha maneira dependente de querer.

Ele escutava, paciente.

Então, disse algo que me transformou e trago comigo como pérola, estrela e alvitre do porvir:

- Não se quebra tão fácil o modo simbíotico de amar e ser. Mas quem cultivam uma multiplicidade de dependências não é escravo de nenhuma. É livre...

///

Acordei. O pesadelo passou....

Numa frase, ele havia me mostrado a geografia do amor dependente.

Esvazíamos nossa vida, não fazemos mais novos investimentos...

Esquecemos nossos sonhos, nossos projetos e só vivemos o amor: amor-centro, vida-árvore nucleada....

Saí da sessão, e, logo, me pus recoradando: os amigos, a política, as canções, os livros, meu trabalho, a poesia, meus n amores. A Mangueira, Cartola e Rosa, Pessoa tão impessoal e O Rio grande, tão ninho...

A vida é feita de incontáveis linhas, rizomatizá-las, com a intensidade desejante de uma paixão viril, a todas, é inventar uma máquina de guerra que nos torna homens de redes, fluindo livres do mar, longe do anzol da simbiose.

Por uma rede se passa, se flui, reinventa-se... Com, nos entres e no es...

¨Escapei com vida¨...

E já não ¨sou fera ferida no corpo, na alma e no coração.¨

Declamo com Quimtana: Aos que atravacam o meu caminho, a minha certeza... eles passarão , eu...passarinho...

8 comentários:

Unknown disse...

Muito sábio Baremblitt na forma em que te elucida, com certeza também nos servirá de lição.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

De verdade, não conseguimos definir nossa dívida para com ele: mestre, amigo e guerreiro...
Um sábio... de invenções inovadoras;
Um terapêuta... de acolhimento que nos fortalece no ato necessário de desbravar novos horizontes...
Um guerreiro... que nos inspira a sonhar com a liberdade e com a justiça.
Baremblitt, é o cara... como se fala hoje no idioma da juventude.
Seus livros são preciosidades; seus exemplos... caminho e farol.jorge bichuetti

Marta Rezende disse...

Que bom pra mim seu depoimento-experiência na/da carne-pensamento.
Liberdade, ainda que tardia!

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

A fonte da liberdade vive no e, que retira o poder do eu e do outro e potencializa a vida que flui criativa no entre dos encontros.
Buscar os bons encontros é também explorar o que pode um corpo , que pode amar, sonhar e voar...
Os elos da gaiola se rompem quando a vida se desnuda na carne-pensamento de um jeito de ser e viver para além do edípico, onde se deseja produtivamente.
assim, vamos inventando vida-desejo que é desejo de vida e vida-libertação. abraços jorge

Marta Rezende disse...

Oi Jorge, vim aqui porque pirei. Escrevi coisa de trabalho o dia inteiro mas sempre pensando. Esse troço de evitar a dor tem limite. Por que não enfiar a cara no amor? Na vida? Ok, sem projeções, mas sem essa de ficar se escondendo atrás de multiplicação. Eu quero sim. Dionísio. Não é perfeito, nem infinito, mas inteiro enquanto existe. Por isso não quero ninguém porque Dionísio não existe. Melhor se divertir com outras coisas até ele existir se é que vai existir. Ou é amor ou não. Amor ou amizade? Pergunta o Sílvio Santos? Os dois. Amor, um; amigos, muitos. É assim que gosto. As pessoas estão muito polidas. Medo de quebrar a cara? beijo beijo beijo. Vou dormir de cabeça vazia. Espero não ter enchido a sua com besteiras.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Querida amiga, o sonho dionísico não pode deixar de nos vitalizar...
Segundo deleuze eles precisam se encontrar: dionisio e apolo, e para ele só apolo pode iniciar esta negociação de vida.
Amores, amizades... Uma rede de amizade torna menos árida a solidão e assim não escolhemos por falta, mas por encontro e encontro regido pelas paixões alegres. jorge

Marta Rezende disse...

Oi Jorge, escrevi isso pro Daniel Lins agora e vai pra vc tb. Pra nós. "Carissímo Daniel, de repente um tanto de dúvidas tomou conta de mim . O caos se instalou (corpo-pleno?). Meu CsO se dobrou pro Artaud. Não adiantou chamar o Orlandi e sua corporeidade em desfile pra me socorrer. Agora é ver (atuar?) onde vai dar isso. Tomara que corra bastante água nesse meu riozinho e que ele desague sábado no oceano Nietzsche. beijo da Marta"
Não é fácil mexer com CsO... Isso me dobra, desdobra, redobra e dobra outra vez. O eterno retorno da diferença. Bom dia Jorge. beijo beijo beijo (três pois é o terceiro incluído). Marta

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

para mim, o corpo pleno se dá baseado em alguns ajustes no rizoma com ritornelos cristalizados que geram a evitação das desterritorializações e da emergência das máquinas desejantes:
- édipo , ritornelo familialista da subjetividade capitalística;
-corpo - força de trabalho, ritornelo do socius de exploração e dominação, ligado a servilidade corporal;
- corpo narcísico-onipotente, um fisium da simbioses de plenitude ( mãe-filho, filho-deus, eu-bando);
.......
e mais e mais ...
Já o CsO emerge das desterritorializações que se totalizada é o caos-morte, mas se parciais e/ou vinculadaas a reterritorializações, planos de consistências e linhas de fuga - é a potência do que pode um corpo de Spinoza, o Super-Homem de Nietzzsche e processo esquizoonte de Baremblitt. O homem metamorfoseante de Orlandi.
Um funcionamento com alisamentos onde flui com criatividade e potência a diferença e o devir.
Beijos jorge