Jorge Bichuetti
E como não podemos nos furtar à obrigação de enfrentar o desafio de refazer o objeto da psiquiatria subtraindo a visão arcaica que cuidava de doenças e agir, sabendo que é preciso definir como campo de atuação do profissional psi a existência-sofrimento e sua conexão com o social, esta questão-a dor amorosa-exige acolhimento.
“Qualquer amor já é um cadinho de saúde, um descanso na loucura”, fala-nos Guimarães Rosa. “Qualquer maneira de amor vale a pena”, grita o canto das Geraes.
Assim, podemos inferir que toda vivência de desamor é um caos, uma desordem interna, um sofrimento de uma intensidade tal onde a pessoa se percebe diante dos fantasmas da loucura e da morte.
O amor vitaliza, dá chão, e multiplica flores e estrelas na estrada de nossas existência.
Se o amor é tão vital, por que o tememos tanto? Por que o fazemos gestar tantas dores? Afinal, por que tanto desamor?
Recordo, aqui, uma canção: “O medo de amar é o medo de ser... de ser livre”. (Beto Guedes)
Ah! Queremos liberdade, e a evitamos? Sim, por mais paradoxal nos pareça esta situação, ela é, e é de fato.
No amor, o homem depara com as dificuldades de gerir a sua socialização. Ser com outro, sem se perder; e ser com o outro, sem sufocar a possibilidade do outro ser por si mesmo.
Todavia, todos nós queremos, queremos “a sorte de um amor tranquilo/ com sabor de fruta mordida”. (Cazuza)
Que fazer, então, da dor amorosa? Do cíume, da possessividade, da dependência? Da dor de uma perda? Que fazer...
O homem precisa aprender a amar. Para tanto, necessitamos de romper com as limitações do nosso modo de funcionar. Romper com o amor-dependência (narcísico-simbiótico); amor-propriedade privada (dominação - exclusividade); amor-exclusão (único e fora do mundo e de seus acontecimentos).
Um novo modo de amar: para amar muito, muitos... amar na relação afetiva, mas também, amar a comunidade, a natureza e o cosmos.
Amar, viabilizando-se devir... ternura, cumplicidade, solidariedade recíproca. Confiança. Amor-aliança. Aliança com o outro e com a vida.
Assim, sobre o amor e o amar estaremos numa lida, já não mais no domínio do arquétipo-calvário, e, sim, amando num caminhar contaminados pela benção da paz. Isto é, cantando: “mora na filosofia, prá que juntar amor e dor”.
2 comentários:
Sábias palavras Jorge!!!
É importante destacar o trecho sobre as diferentes formas de amar, onde vc diz " ... amar na relação afetiva, mas também, amar a comunidade, a natureza e o cosmos."
Para que limitarmos o amor se ele pode ser tão amplo... Às vezes jogamos a responsabilidade do amor nos outros e isso não é uma coisa que devemos encontrar em outras pessoas, é simplesmente uma luz que existe em nós e somos nós que determinamos a intensidade desta irradiação...
Em Jesus: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei."
Priscila, o amor é fonte de vida, é partilha,é caminhar... , juntos e separados, no vôo dos sonhos que se multiplicam... É alegria, é lágrima... É a mediação que nos permite transitar do narcisismo para a solidariedade, que é ele plenificado... jorge bichuetti
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