RECORDANDO NISE DA SILVEIRA
Jorge Bichuetti
Um dia, indagaram?
- A loucura se cura?
Ela, serenamente, respondeu:
- “Até certo ponto. Um burocrata que se cure não voltará ser burocrata. Ser burocrata é próprio para enlouquecer”.
Sabia assertiva. A burocracia é um papel que restringe a potência de vida e enlouquece. Ela se constitue fragmentando o homem. As mãos executam, repetindo normas... E, principalmente, as mãos executam alienadas do cérebro e do coração. Repetem... Já não criam, nem sentem...
O cotidiano nos revela: quão enlouquecido é a vida de povo dominado por burocratas, e, quanto, os burocratas se desgastam na questão dos interesses alheios... Com suas mãos que já se acomodaram a não pensar, a não solucionarem as lágrimas dos aflitos do caminho, eles apenas encarnam as mãos dos poderosos, o carimbo da opressão.
***
A loucura permanece como um enigma. Quiseram, certa vez, que ela se manifestasse, e com este intento, perguntaram:
- E então, qual é o conceito de loucura?
“E daí que as pessoas são diferentes? Se todos fossem quadrados, não haveria a menor graça. Entre um canto de galo e as buzinas dos automóveis, louco é quem prefere o barulho de buzina. Este bem poderia ser um teste para neuróticos graves”.
Nise da Silveira - pioneira da luta antimanicomial - consegue nos fazer pensar... Com doçura, ela fala da loucura em que vivemos e dos encantos da vida que deixamos à margem do caminho.
Vivemos mergulhados na confusão de um mundo insípido... abandonamos o sonho. O desejo de um mundo novo, justo e solidário; um mundo de paz...
Como disse um de seus usuários, explicando porque via navios no morro: “Ora, ora, navios entre estrelas”.
Ave, Nise da Silveira! Ela e sua história. Uma vida dedicada aos ditos loucos. Uma vida longe... longe das armadilhas, das artimanhas da dominação dos burocratas, das capitalistas... Longe do oficial enquanto ofício de exterminar o direito a vida. Ela onde brilha a estrela...
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
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2 comentários:
Suavidades para essa nova potência, semente de fortes conexões. Com ternura, Erika Riani
tudo que fazemos e vivemos, vivemos e fzemos, poque cremos na força da ternura , da sua ternura... Na potência da vida que emerge dos bons encontros; na alegria que fui da solidariedade... O resto é silêncio...
Sou feliz, por tê-los.
Não sou... além do que se é quando se conquista um amigo.
abraços jorge
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