quinta-feira, 29 de abril de 2010

SOBRE A TRANSVERSALIDADE

                                 TRANSVERSALIDADE, SINGULARIDADE E DEVIR

                                                                             JORGE BICHUETTI

Somos seres grupais... Um efeito do social. Produto e produtores da sociedade, nela imersos, não vivenciamos a potência produtivo-inventiva do humano, e negando-nos no furor intempestivo da diferença, tendemos a viver e conviver como identidades de repetição, meras cópias.
Assim, em grupo somos... Ainda que na solidão n grupalidades nos atravessam, limitando e condicionando nosso agir.
Para liberar este marco, marco inerente aos mecanismo de exploração, dominação e mistificação da sociedade capitalista, Guattari cunhou um novo conceito: transversalidade.
Inclusive, este conceito foi a ponte que possibilitou o encontro e a parceria de Deleuze-Guattari.
Busquemos, então, entendê-lo...

                                Transferência versus transversalidade

Freud captou e universalizou, algo histórico e próprio não à natureza humana, ao psiquismo, mas , sim, à subjetividade no capitalismo.
O capitalismo nos reduz a um funcionamento repetitivo, de identificações.
Nossa voz evita emergir desejante e inovadora, funciona como eco de nossas identificações e projeções.
É uma voz narcísica.
Simbióticos, funcionamos no grupo submissos aos imperativos do status quo que encontro em nós ressonância no ideal de ego.
Age, então, o medo da repúdio e o desejo de valor e aprovação, queremos o poder de ser com os poderosos. A expectativa que fantasiamos que existe sobre nós ganha força, e temerosos da culpa e da punição, agimos refletindo nossos egos narcísicos e edípicos...
Deste modo, os grupos não criam, não inventam, não transformam... Negam a potência grupal de poder gerar mudança e vida nova.
Dá-se, assim, pelo império do é e pela ausência de entres nos encontros grupais.
Este processo nos debilita, pois um quantum importante de energia é gasto na evitação da potência desejante e criativa do inconsciente.
Guattari conclui pela necessidade de se quebrar as transferências e possibilitar um funcionamento grupal que alto grau de transversalidade.

                                                 Transversalidade

Para ele, transversalidade é o grau de liberdade de ver e agir, na emergência da singuralidade de todos e do alisamento dos espaços estriados que, então, potencializam acontecimentos e devires, a criatividade e o novo da diferença.
Transversalidade é o entre que me permite contato e espaço de alteridade.
Nem o distanciamento que gera desconexão, nem a identificação que produz simbiose, hierarquia, dominação e submissão.
Neste sentido, a transversalidade necessita, igualmente de romper com as rostridades que anulam a liberdade, uma vez que se impõem a priori.

                                Transversalidade e grupo-sujeito

Sem transversalidade, somos sempre grupos assujeitados.
E aqui vale recordar a compreensão das relações de força de Nietzsche: Relações de dominação( ativas e passivas) e relações de submissão ( ativas e passivas).
A autogestão e a autoanálise são a um só tempo produto e produtores de transversalidade.
E a transversalidade é inegavelmente a possibilidade de resgate da potência do humano desumanizado pela servidão e dominação do sistema.
Ela é condição para liberar o inconsciente e a vida a sociedade e a história das amarras de repetição que nos evitam insurgentes e homens novos.
Possibilidade a singuridade, a multiplicidade rizomática e o devir.
Ela é, assim, o modo de conexão dos fluxos e planos de um dispositivo.
E a esperança de devirmos novos solidários e democráticos, para que inventemos grupos e socius que possam ousar gerenciar a mudança prescindindo do autoritarismo.
Portanto, ela é clínica e política, onde a diferença possibilita a superação do burocratismo e da opressão no cuidado e na construção do socialismo libertário.


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Um comentário:

Anônimo disse...

muito bom!