Jorge Bichuetti Esquizoanalista e Ana-
lista Institucional, Diretor Clínico da
Fundação Gregório F. Baremblitt.
Introdução
A Reforma Psiquiátrica e a sua lida libertária com a loucura exige tarefas em diferentes frentes: da lei à praxis clínica; da família à cultura; do espaço urbano à ética; da produção ao lazer; enfim, envolve lutas na vida como um todo.
Sendo, assim, Rotelli (2000) elege o conceito de empresa social como nuclear no processo de desinstitucionalização, pois fazendo viver o social é uma engenhoca de inclusão social e cidadania que ao superar o manicômio - ''lugar-zero das trocas sociais'' - produz, a um só tempo um lugar no socius para loucura e um lugar na loucura para a produtividade social.
De fato, todos os que labutam no dia-a-dia da clínica antimanicomial constatam a infertilidade e as idiossincracias do modelo hospitalar.
O manicômio estereliza a diferença; isola, amordaça e, vampirescamente, faz dos portadores de sofrimento mental zumbis anêmicos, de vida cinzenta.
A lógica do hospital é estriar corpos e vidas, adaptando coercitivamente todos ao padrão de normalidade e '' a normalidade é mediocridade institucionalizada'' (Miziara, 1990, p.28).
Assim, o agir/fazer antimanicomial é, também, um processo de construção de uma nova clínica.
Uma nova clinica, que ao se produzir gera novas formas de sociabilidade ( Lancetti, 1990), e um caminho na construção de um outro novo mundo possível: ''A humanidade vive perto de todos nós e, como o coração, prefere o lado esquerdo. Devemos encontrá-la, temos de nos encontrar. Não é preciso conquistar o mundo. Basta fazê-lo de novo. Nós. Hoje''. (Subcomandante Marcos, 1999).
Sob o impacto desta convocação á mudança, este texto procura contribuir com o esforço de demarcar o novo paradigma na sua riqueza prática - instrumental, através de cinco despretensiosas notas relativas a lógica clínica da prática antimanicomial dos serviços substitutivos.
A nova clínica: cinco notas
O projeto da Reforma Psiquiátrica não se esgota na superação do manicômio-equipamento de saúde.
Nega a própria instituição - loucura com seu aparato científico, jurídico e cultural, inclusive o seu paradigma clínico fundante desta ordenação excludente (Rotelli, 2001).
A lógica normativa, ortopédica, de reparação, dá lugar a uma clínica libertária focada no agenciamento de processos de singularização, isto é, na reprodução social de pessoas (Rotelli, 2001).
E é esta nova clínica, construída na superação do próprio paradigma clínico-institucional da loucura, possível de ser percebido como tipo ideal na lógica psiquiátrica e na legislação de periculosidade, que aqui abordaremos teoricamente inspirados no produzido pelas experiências clínicas da desinstitucionalização e no próprio repertório oral das reflexões do movimento da luta antimanicomial.
Nota 1. Uma clínica disruptiva. Caosmótica
A crise na lógica manicomial é um transtorno, um incomodo. Um mal.
Crê-se na estabilidade. Almeja-se uniformidade.
É a vida nos trilhos. Um continum... O rebanho nietzschiano e as cópias platônicas.
A crise, contudo, é potencialmente inovadora. Disruptiva, singulariza os processo e a vida.
Nela e dela, emergem linhas de fuga. O genuinamente novo.
Produções de desejo, desejos de produção que rompem com o quadriculado da norma, do status quo.
De fato, '' os estados de crise são considerados fecundos, na medida em que envolvem a falência do instituído-organizado e a emergência do instituinte- organizante no seio da desordem criadora'' (Baremblitt, 1994, p.162).
Deste modo, a clínica antimanicomial comporta continente a crise sintonizada com Niestzsche (,2000) que pensava ser preciso suportar o caos e o frenesi para germinar a luminosidade de uma estrela bailarina, ou ainda, queimar-se na própria chama e se fazer cinzas para renovar.
A nova clínica comporta continente a crise. Nela, enxerga revoluções moleculares, a emergência de novos modos de viver a vida.
A crise é encruzilhada.
Questionamento do velho - da propria vida pessoal e das instituições.
Caos - dor profunda. Perda de referências, descontinuidade.
Enquanto o mundo ordenado molar impõe-se reprodutivamente cerceando as diferenças, a crise instala um processo instituinte que reconecta o homem com a turbulência inerente a própria vida, força motriz de mudança. (Bichuetti, 2000).
No entanto, cabe salientar os perigos da crise. Desterritorialização, desenraizamento; perda de sentido, solidão. Sensação de se estar lançado ao nada.
Vive-se pressões internas e externas tendentes a reinstituir a ordem perdida ou aprisionar a pessoa em crise num buraco negro, amordaçando-a pelos mecanismos de antiprodução e registro-controle que buscam bloquear o novo emergente, ainda apenas potência larvar.
Neste sentido, podemos admitir para nova clínica um importante papel diante das crises.
Num mundo de negação e medicalização das crises ela deve ser um território continente, com um acolhimento marcado pela maternagem winicottiana (Moffat,1991).
Deve, também, possibilitar a contenção do furor destrutivo da crise e agenciar invenções de novos sentidos, singularizantes.
Nem a captura do manicômio, com sua redução normativa da crise( engaiolamento); nem um mergulho coletivo no redemoinho do caos da crise.
A nova clínica institui-se, assim, como território de caosmose. (Guattari, 2000).
Nota 2. Uma clínica militante. De utopia ativa
O manicômio, instrumento de segregação do diferente, nomeia-se neutro. Pseudoneutralidade.
Normativo, excludente, é ferramenta política do status quo.
Num tempo que segundo Negri (2001 ). não há lugar para profetas, só há militantes; a clínica antimanicomial se constroi sob a insígnia do engajamento. Rebeldia e resistência.
Luta militante por um mundo de solidariedade e cidadania. De inclusão social.
Os clínicos militantes - na caracterização de militância efetuado por Negri ( 2001). deveriam ser desbravadores corajosos e destemidos, inquietos e implacáveis à la sindicalistas americanos do ínicio do século passado e, realmente, despossuídos à la São Francisco de Assis, para neste nível de solidão radicalmente encarnarem, a luta por um outro mundo possível, onde o direito a diferença se dê nas maquinações por fazer loucura caber no mundo, mundo tecido e conquistado em redes de, associação com outros excluídos (Lobosqui 1997), que ao vivenciarem até o limite os processos de libertação hão de descobrir o conteúdo terapêutico da própria luta, tanto quanto o conteúdo de luta de qualquer terapêutica libertária.
Entende, deste modo, a nova clínica duplamente enraizada nos movimentos sociais: nasce histórica e epistemicamente vinculada ao movimento pela Reforma Psiquiátrica e intervém não como disciplina científica, mas como ações teóricas e práticas, compostas em rede, um movimento social legitimo de uma praxis libertadora que ao cuidar, transforma e ao transformar, cuida.
A nova clínica não se inscreve no campo do paradigma científico hegemônico. É um novo saber, um saber de produção de vida, que tendemos a percebê-lo no campo de uma nova utopia ativa. A utopia ativa dos militantes do Forum Social Mundial que ousam acreditar num outro mundo possível.
Nota 3. Clínica Antimanicomial - por uma clínica menor
O manicômio e sua lógica social e clínica é ciência. Ciência Maior. Paradigma clínico-científico hegemônico.
A prática clínica da Reforma Psiquiátrica supera o paradigma clínico, inaugurando um novo saber e novas práticas; embora, possua ferramentas oriundas de diversos saberes que se situam no espectro do paradigma hegemônico.
Buscando, então clarear este novo saber/fazer e sua relação com a ciência, mostra-se fértil pensá-la a nova clínica, a clínica antimanicomial - como uma clínica menor.
Clínica menor não significa inferior, secundária, auxiliar, nem dependente. Menor refere-se a uma produção de minoria que subverte a lógica dominante.
Pensa aqui como no estudo da obra de kafka, efetuado por deleuze e Guattari(1977).
Eles construiram a categoria literatura menor para desnudar a potência produtiva da obra de Kafka, onde uma minoria fala subvertendo uma lingua maior. Nesta perspecativa, uma clínica menor se dá num processo de permanente e persistente desterritorialização do saber dominante.
A clínica antimanicomial vive e se vivifica no processo de desterritorializar-se sempre. Desenraizar-se da lógica, tradições, valores e espaços próprios do modelo psiquiátrico, subvertendo, assim, o campo psi, pois desloca contribuições e faz novos usos; enfim reiventa a própria clínica, ao tirar os pés do instituido e dar-se às buscas, novos encontros e novas fugas.
É uma clínica que opera nos profissionais constantes de-forma-ções. Deforma seus agentes para que eles possam devir agentes tranversais e transdisciplinares.
A desconstrução de traços, hábitos e signos do paradigma clínico hegemônico impressos no próprio estatuto das especialidades, desloca o agente do seu lugar de reprodução das normas e abre espaços de criatividade e singularização de pessoas e práticas, que se dá no ente das relações.
Uma clínica menor compõe-se, também, como clínica militante. Empreendimento de revolta e rebeldia. Indigna-se com os procedimentos normativas e excludentes e inventa um novo agir.
Ela jamais pode se descuidar dos enfrentamentos necessários. Deve-se, assim, corroer minuto a minuto os elos da exclusão e abrir fissuras no socius para a emergência do novo, do diferente. Por isto, ela tece rizomas, faz micropolitica. Constroi-se como máquina de guerra, e não de Estado.
Ao contrário da clínica tradicional que é, essencialmente, individual e individualizante, a clínica antimanicomial - enquanto clínica menor - é coletivista. Assume-se como valor coletivo e confere valor ao coletivo. Multiplicidades gerando multiplicidades.
Grupalista: não com a serialidade dos grupos-assujeitados, mas sendo grupos-sujeitos, coletivos no sentido da organização política de Spinoza que percebia somente ser possível um coletivo na aglutinação promovida pelos bons encontros, pelas paixões alegres. (Hardt, 1996 ).
Nota 4. Clínica do Devir. Devir Criança
A clínica do devir é, essencialmente, diversa da clínica tradicional que se norteia pelo retorno à normalidade perdida. Às velhas repetições. Ao mundo de reproduções e da antiprodução.
O espaço, o clima, a própria vida na clínica tradicional se segmentariza inibindo o novo e coercitivamente forjando a robotização de homens em série, que com a diferença castrada perambulam pela existência passivamente, Cooptados pelo registro da normalidade, alheios ao novo.
Devir é a '' incessante produção do novo absoluto'' (Baremblitt, 2003, p.69), e uma clínica do devir se conforma como espaço liso, dispositivo, agenciamentos da potência inventiva, da diferença.
Porisso, constitui-se um dispositivo de mudança dupla. Não recusa a diferença; agencia, sim o devir que em si é sempre duplo: ''o povo por vir e a nova terra'' (Deleuze e Guattari, 1997, p. 142).
Para nossa compreensão ( igualmente, intensificação) dos efeitos inovadores da clínica antimanicomial, analisaremos o devir criança na clínica, pela potência de vida, uma vez que é tido como raiz de todos deveres (Gil, 2000).
Nota-se no devir- criança a capacidade de sair do tempo cronológico, de outrar-se, de brincar sem perigo.
Outrando-se, pode-se experimentar e assim ''encontrar o que lhe convém, saber o que pode conectar, fazer durar, construir '' (Gil, 2000, pg 94).
Contudo, para se outrar com intensidade, precisa-se estar seguro, de se poder brincar sem perigo.
E para sonhar urge desamarrar o tempo de suas amarras cronológicas. Assim, podemos observar que uma clínica que possibilite o devir-criança (e dele se alimente, terapeuticamente ) não infantiliza a loucura, pois '' no devir-criança nunca se é criança'' (Jodar e Gomes, 2002, pg 36); ela dá, sim à loucura uma nova possibilidade de se situar, tirando-a do lugar de desrazão improdutiva, para operacionalizá-la como inscrição inventiva da escrita do devir.
Lendo Deleuze, Jodar e Gomes ( 2002 ) assinalam quatro caracteristicas do devir-criança, sugestivas para se pensar esta nova clínica:
A) Lugar de soar, saberem de sabor. O Território capaz de albergar o devir-criança não é o espaço terrorífico do fora absoluto, nem a casa compartimentada, é as imediações, o quintal, aonde pode-se gingar e brincar à vontade, sem medo e sem constrangimentos.
Os equipamentos de saúde herdaram do modelo hospitalar sua lógica segmentar, higienista.
A nova clínica deve, deste modo reinventar o espaço, incorporando espaços de se descobrir a vida pelo sabor.
B) Ocupação com intensidade do espaço. Som, cores, dança, ginga. O espaço do Serviço de Saúde não pode apenas receber o usuário, porquanto assim ficaria ele no espaço reprodutivo de uma lógica existencial que ele nega no seu enlouquecer, comsumando, assim tão somente uma clínica de reprodução normativa do status quo.
Porisso, a nova clínica é locus de ocupação. Nela, a loucura precisa encontrar um espaço e apossar-se dele com a intensidade que as crianças ocupam seus territórios. Só assim libera-se a potência do corpo. Do corpo que com sons instituintes, cores vibrantes e ginga livre passa a descobrir o que pode um corpo na produção de vida.
C) Língua Menor. O balbuciar da criança opera liberando no roçar da língua uma língua estrangeira e desconhecida. Uma língua menor...
Uma língua menor gesta um povo menor, uma minoria num devir revolucionário.
A loucura retrata uma minoria que se expressa em língua estrangeira e desconhecida, em língua menor.
Língua incompreensível para o raciocínio objetivo, binário, matemático e racional. Ela está mais próxima do virtual das fabulações do devir criança.
A abertura de espaços culturais e sociais de troca para produções que materializem a expressão da loucura enquanto subjetivação singular de uma minoria é primordial numa clínica antimanicomial; uma vez que sem esta postura ainda que se supere a segregação asilar restará a segregação existencial e a voz da loucura-eloquente discurso da diferença permanecerá arbitrariamente silenciada.
A clínica antimanicomial, assim tanto nos dispositivos de assistência quanto nas suas conexões com a sociedade, precisa funcionar como um locus de livre expressão e comunicação de uma língua menor, a língua da loucura, que não pode gerar encontros quando sobrecodificada pela língua maior, mas que se abordada na sua singularidade já é em si mesma um acontecimento, uma reconstrução do vínculo homem-mundo, uma reconstrução inventiva, não restitutiva, mas de n devires constitutivos de um povo por vir e de uma nova Terra.
D) Vitalidade Criadora. A lógica asilar vê no corpo de portador de sofrimento mental o fracasso, a falência, a improdutividade.
No entanto, corpos sucateados pelo manicômio, são corpos audazes e inventivos quando neles percebemos e possibilitamos o devir-criança. Pois também, eles negam a tristeza e a condição servil.
Alegria criativa, afirmam a vida...
E porisso a nova clínica, sabendo que a falência dos ditos loucos ocorre no copiar, e não na vitalidade criadora constitue-se também como uma clínica de invenção.
Nota 5. Uma clínica de invenção
O abandono do hospício e da lógica manicomial exigiu a superação de um modo de cuidar, excludente e desumanizante, e a invenção de uma nova clínica.
O modo asilar de cuidar - na teoria, no habitat e na técnica - reproduz um saber normativo que busca cercear, adaptativamente, a loucura, inibindo qualquer expressão da diferença, pois esta deve ser renunciada, contida e anulada.
Deste modo, a nova clínica, convicta do potencial criativo da diferença, teve que aceitar o desafio de se inventar - teoria e prática - abandonando o repertório clássico do funcionamento hegemônico.
E se inventou uma clínica de invenção.
Trocou o objetivo de retorno à normalidade e adaptação passiva à realidade pela criação inventiva de novos modos de existir e pela própria intervenção transformadora da própria sociedade.
Neste sentido, ela, a nova clínica, realiza-se como um dispositivo de criatividade e se consubstancia num coletivo que é em si um grupo criativo (Masi, 2002).
Daí, a importância da arte e do humor no cotidiano dos processos terapêuticos da clínica antimanicomial. A arte (Freud, 1908/1907) e o humor (Freud, 1921 ) são atividades criativas onde o fantasiar, tão vivo na criança e secundarizado no mundo do adulto, gera obras criativas. Nestes textos úteis à uma leitura de uma clínica de invenção, a arte e o humor deixaram de ser vistas como expressões do conflito reprimido, para serem percebidas como bifurcações criativas do desejo emparedado pelos atravessamentos da vida.
Temos, assim, na criatividade um novo destino para a loucura. De diferença negada aos novos agenciamentos de criatividade, de invenção de novos sentidos, novas expressões, novas relações, enfim, de um novo mundo. Não o mundo da loucura, mas essencialmente, um mundo que contenha as invenções oriundas da loucura e outras expressões da diferença.
Entendendo que a invenção se dá no entre das relações, a pergunta que interessa não é sobre o autor, mas sobre as condições necessárias ao processo criativo.
Masi (2002) traz algumas contribuições sobre a natureza do processo criativo e suas condições. Percebe ele como elementos de potencialização de criatividade a livre interação de diferentes mentalidades; os grupos democráticos, transversais e com baixo grau de burocratização;a flexibilidade de contrato; ambiente acolhedor e bonito; a disponibilidade de meios culturais e materiais; a exposição a estímulos diferentes (não-isolado); a abertura ao plural e a novidade; uma perspectiva de futuro; a ausência de discriminações; o respeito à diferença e as divergências; conexões múltiplas com o fora; as relações de cooperação e apoio; problematização de obstáculos, dores e dificuldades; prevalência do prazer criativo sobre o dever repetitivo; o ócio que se dá como jogo ativo e não repouso passivo; e essencialmente, um espaço de liberdade e expontaneidade.
A criatividade depende, também, da liderança e nas características destas podemos perceber a postura adequada de uma equipe da clínica antimanicomial - clínica de invenção.
O agente terapêutico da nova clínica para potencializar a criatividade deve funcionar como um animador social de entusiasmo contagiante capaz de ''conjugar passado e presente, memória e inovação, destruindo tudo aquilo que é obsoleto, sem provocar sentimentos de vazio e de culpa'' (Masi, 2002, p.684). Deve ser alguém sob o signo da paixão, porém com tolerância diante das frustrações.
A alegria é o clima da criatividade. A alegria dionísica. Das paixões alegres de Spinoza.
E, embora, o trabalho criativo seja, também doloroso, o é apenas como graus de insatisfação.
De fato, a clínica antimanicomial pode perceber-se nos seus agentes que segundo Emerson Merhy em comentários orais à tese de Cynira Fortunato (Cuidando de quem cuida USP- RP); mostra-se equipe com elevado grau de saúde pela capacidade de alegrar e se alegrar, de frustrar e se frustrar.
A invenção é origem e destino da nova clínica.
Porisso, os Caps ( e demais serviços substitutivos), necessitam de se desenvolverem como laboratórios vivos da produção de multiplicidades, cujos elementos são singularidades e as relações, devires: rizomaticamente articulados numa clínica que se inventa na própria de inventar.
Conclusão
Esta nova clínica, a clínica antimanicomial é :
- Ato político. A política de se organizar nos bons encontros, pelas paixões alegres. E política de tecer os horizontes de ''um povo por vir, uma nova terra'' nas lutas por atualizar no próprio corpo e na vida social a utopia ativa de inclusão e cidadania, solidariedade e alegria, que emerge fecunda na estrada partilhada pelas diferenças.
- Ato epistêmico. Ciência Menor. Produção de saber libertário que supera os ordenamentos do biopoder para instituir-se produção de minoria, num devir revolucionário. Um novo saber/fazer que acolhe a dor do portador de crise como uma clínica disruptiva, de devir e de invenção.
Da crise caótica agencia o genuinamente novo, a mudança.
Fecundada e fecundante de devires cataliza a singularização para além da identidade restrita e padronizada da subjetividade capitalística.
E porisso podemos dizer relendo as reflexões anteriores que ela - a nova clínica, a clínica antimanicomial é clínica nômade.
''Nela somos todos metamorfoseantes''...
Referências Bibliográficas
Baremblitt, G. Compêndio de Análise Institucional. Rio de Janeiro, Rosa dos Ventos, 1994.
Baremblitt, G. Introdução à Esquizoanálise. Belo Horizonte, Instituto Félix Guattari, 2003
Bichuetti, J. Crisevida. Belo Horizonte, Instituto Felix Guattari, 200
Deleuze, G. e Guattari, F. Kafka: por uma literatura menor. Rio de Janeiro, Imago, 1977.
Deleuze, G e Guattari, F. O que é Filosofia? Rio de Janeiro, Ed. 34, 2001.
Gil, J. Diferença e Negação em Fernando Pessoa. Rio de Janeiro, Relume-Dumará, 2000.
Guattari, F. Caosmose. Rio de Janeiro, Ed 34, 2000.
Freud, S (1908/1907). Escritores Criativos e Devaneios, In: Obras Completas de Freud, v IX. Rio de Janeiro, Imago, 1996.
Freud, S (1927). O Humor. In: Obras Completas de Freud, v XXI. Rio de Janeiro, Imago, 1996.
Hardt, M. Giles Deleuze: um aprendizado em filosofia. Rio de Janeiro, 1996.
Jódar, Fe. Gomez, L. Devir-criança: experimentar e explorar outra educação. Educação e realidade, 27 (21, 2002)
Lancetti, A. Loucura Metódica. In: Saúdeloucura, São Paulo, Huccitec, 1990.
Lobosqui, A. Princípios para uma clínica antimanicomial. São Paulo, Huccitec, 1997.
Marcos, S. Convocação da Conferência Intercontinental contra o Neoliberalismo e pela Humanidade. In: Lowy, M. O marxismo na América Latina.São Paulo, Perseu Abramo, 1999.
Masi, D. Criatividade e Grupos Criativos. Rio de Janeiro, Sextante, 2002.
Miziara, L. A Salamandra. São Paulo, João Scortecci Ed, 1990.
Moffat, A. Psicoterapia do Oprimido. São Paulo , Cortez, 1991
Negri, T. Exílio. São Paulo, Iluminuras, 2001.
Nietzsche, F. Assim falou Zaratustra; São Paulo, Martin Claret, 2002.
Rotelli, F. Empresa Social: construindo sujeitos e direitos. P. (org) Ensaios : subjetividade, saíde mental, sociedade. Rio de Janeiro, Fiocruz, 2000.
Rotelli, F. Desinstitucionalização. São Paulo, Huccitec, 2001.
Nenhum comentário:
Postar um comentário