segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

POESIAS : ENTRE A GRUTA DO MEDO E OS VÔOS DA OUSADIA

LAMENTO

                  JORGE BICHUETTI



                              

Anoiteço navio, ondulando a aventura errante
das grandes descobertas.
Sigo as estrelas. Salpicado de mar,
beijo o desconhecido e busco,
não o amor supremo,
mergulho na alegria
de algum amor qualquer.
Porém, o sol vem e amanheço cais...
Melancólico, já não sinto o infinito.
E, lamento, lamento o peso
de não saber seguir...
Quedo-me, paralítico, sem o mar;
confuso, perco-me
na preocupação de carregar
as histórias,
a identidade,
os valores
que se aninharam
nas entranhas da minha alma.

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ECOS DO LUAR

                  jorge bichuetti




                                                

O luar me penetra, manso;
e me seduz excitante,
co’ele sempre adiante,
na vida audaz, eu me lanço.

Nem quero rede, descanso;
quero tudo que em encante.
Prefiro não ser um ganso,
no chão, ciscando irritante.

Voar... Voar... Ir, sempre, além;
onde a vida gera e mantém
o infinito florescendo.

Romper... Parir... Estar, sendo
de repente, sem remendo,
um trilho longe do trem.

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MEU FILHO

            jorge bichuetti




                                                                      


Contente, caminha entre flores e frutos,
pássaros e estrelas...
Sonha, alegre; fazendo festa,
macaquices, cocoricós,
e , atento, olha as nuvens que voam
junto a pipa colorida;
enquanto, eu canto
ninando seu coração.

Caminhante, vai
pelas ruas, pelos bosques...
Joga bola
lançando o pó da Terra
nos olhos do Céu;
e recolhe conchas na praia
que se tornam ladrilhos
de um castelo de areia
onde vivem meus sonhos
de velho ferido
pelos foguetes da ilusão...

Meu filho é quase um deus...

Meu pequeno é um curió
que embalo nos meus braços...
Ele fala medroso
de diabos, bruxas e fadas,
piratas e serpentes.
Depois, é somente coragem, é índio, homem voador...
De sua frauda faz um abrigo
para os seus vôos de guerreiro
que um dia juntos haveremos de dar...

Uma coisa, contudo, me entristece,
me retalha a alma;
é que meu filho amado
se esqueceu de nascer...

Assim, meu corpo é um berço vazio,
chorando de solidão,
todavia sempre esperando ver
a porta se abrir, para meu filho chegar
e adormecer nos meus braços, me fazendo despertar.

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DEVIR AMOROSO

         jorge bichuetti




                                                                  
                                                                   
Já escurece... A noite, chegará,
com ela os fantasmas da escuridão.

O sol se foi... A lua, logo, virá,
com ela os miasmas da ilusão.

Noite e dia, tempo: poesia...
Um caminho na encruzilhada:
Só se pode, se poder é alegria.

Estrelas no horizonte: doce amada,
do caminho, o amor é a via
de se devir eterna alvorada.

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