jorge bichuetti
Longe, canta o sabiá...
Melodiosa saudade.
O tempo passou
levando
os amores da mocidade.
A vida girou
roubando
minha própria identidade.
Sem pátria, na solidão;
caminho, lento,
passo a passo;
já não sonho
dourado...
Contudo, não sou tristonho...
Sorrio, com devoção,
ouvindo meu sabiá
que longe, canta prá mim
os versos de uma oração...
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SIMPLESMENTE, AMOR
jorge bichuetti
Cavalgamos, dia e noite, com a esperança
de não se chegar a lugar nenhum.
Bastava-nos a presença...
Teimávamos... e acreditávamos
na vida, numa vida sem adeus.
Amamos. Sem identidade ou gênero.
fomos João e Maria,
e, ainda,
Maria e João...
Tudo era por demais confuso,
mas nada era mais certo
do que a grandeza do amor.
Navegamos... As ondas marejaram
nossos sonhos...
Voamos... A brisa acalentou
nosso carinho...
No chão nos amamos
e permitimos
que as excreções dos nossos corpos
grudassem as nossas almas.
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SOLILÓQUIO
jorge bichuetti
Converso, balbuciando
sonhos
lembranças
profecias...
Ninguém me escuta, no entanto, eu grito...
Palavras aos ventos,
versos para a lua,
preces ao infinito,
declarações de amor às sombras...
Por resposta, encontro o silêncio.
E o silêncio nada fala.
Tão somente, ecoa a voz da minha mãe
e, com suas canções de ninar,
finalmente, esquecido das dores
adormeço...
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ORAÇÃOjorge bichuetti
( para Cristina Jardin. )
Dê-nos água, menos sede
ou sede com farto mar...
Sal demais nunca se mede
quando se quer preservar
a vida, flor, sol e o amar...
Fugimos todos da rede;
somos peixes, assim, procede
o temor de se acabar.
Porém, rogamos na fé,
viver-além, celestial...
Pra isto estamos a pé
indo no chão sideral.
rogamos, então, até
um pão-nosso visceral.
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