segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A MORTE DO EGO E OS PROCESSOS DE INDIVIDUAÇÃO

                                                                               JORGE BICHUETTI
Não são poucos os autores que avaliam que o grande entrave no exercício da potência humana é o ego.
Jesus sugeria que devíamos negar a nós mesmos.
O Zen-budismo preconiza a anulação radical do eu.
E Deuleuze-Guattari dizem que tudo se trata de destroçar o ego, matá-lo.
Nós, com nosso viver individualista, cheios de lamentos pessoais, com a "nossa depressão e o nosso pânico", com a minha dor e minha frustração, ficamos perplexos. e perplexos, perguntamos: que sobraria?
Tememos a despersonalização, a nossa morte existencial...
E olhe, aqui no cantinho do fogão-de-lenha, que até admitimos nossa condição de seres sociais, contudo só admitimos nos nossos queixumes de que o meio nos oprime e condiciona.
De fato, reduzir a problemática do humano ao social não esgota a questão.
O problema é outro, é que somos sujeitos edípicos e subjetividades capitalísticas, que impõem a soberania do eu num egocentrismo que restringe a própria individualidade a uma repetição de suas matrizes fundantes, sem lugar verdadeiro para a mudança, para o novo e para os devires singularizantes e coletivizantes.
O homem é , nesta visão, uma eterna repetição dos seus complexos e das matizes formadoras de sua subjetividade.
Se há crescimento, este é quantitativo, já que as estruturas permanecem imutáveis.
Assim, o individualismo, o egoísmo, a competição, a propriedade privada, a inveja e o ressentimento, o narcisismo são da natureza do homem histórico.
Não é sem motivação que constantemente vemos que os grandes homens solidários e generosos, ternos e compasivos são rastreados na tentativa de patologizá-los.
O que se passa?
Passa que o pensamento hegemônico se norteia pela lógica da repetição e pela exclusão diabolizante de toda diferença.
Não somos nosso eu, nosso eu é somente uma partícula da nossa individualidade que é singularidade e multiplicidade, é devir , é mudanças permanentes e capacidade de se autoconstruir e se reinventar.
A singularidade é uma rede de multiplicidades.
Nossa individuação se vê composta por n devires que se dão num processo de vida que superamos as subjetividades assujeitadas e passamos a funcionar como subjetividades livres.
E é este processo que Michel Foucault nomeou de subjetivação, onde se morre o ego repetitivo e restrivo e emerge uma vida que se atualiza como obra de arte.
As subjetivações são inerentes a agenciamentos coletivos próprios de dispositivos de produção de vida libertária.
Devir criança, devir mulher, devir anjo, devir guerreiro, devir vegetal, devir mineral, devir nômade, devir imperceptível, n devires são produções radicais que caracterizam a superação do homem egóico e abre o espaço do homem novo de " Che" ou o " Sois Deuses" dos evangelhos.
... E principalmente, um mundo de coletividades suaves e solidárias que a sonhamos com o nome de " por uma nova Terra, por um povo por-vir"

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