domingo, 26 de setembro de 2010

POESIA: MULTIPLICIDADE

                                                          SEM NÓ, NOS...
                                                                            JORGE BICHUETTI

Há muito me perdi de mim,
para me encontrar outros
e hoje estes já são tantos...
Num jardim, me descobri jasmim,
na aldeia, um guerreiro
e na seresta, um escravo das paixões...
Mergulhando no riacho, me soube pedra e peixe,
correnteza e remanso, samanbaia e oxum...
Ali, mesmo na lavadeira com sua lida e cantigas,
me vi mulher que quando mirava o céu
com suas aves-marias, me revelava num ato
estrelas da imensidão e luar todo encantado...
Passarinho, moleque e pipa, o galope do cavalo
e o charme do cavaleiro. Tudo e todos
me foram tecendo um multidão andarilha.
E, hoje, se um dos muitos eus que carrego
numa angústia de poder deseja tiranizar
os meus muitos eus , tão-meus,
logo, vem uma serena rebelião
e volta a tranquilidade da vida
dos eus que se emanharam
na doçura e frugalidade de uma nova conjugação,
deles se amando sem ciúme no suave do entre-nós...

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