quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O AMOR, O DESEJO E O DEVIR

                                                                                                   JORGE BICHUETTI

O amor é  um sentimento que se situa num entre complexo - é vínculo, é magia e é poesia.
Inicialmente, narcísico se realiza simbioticamente; depois, edípico, castrado e movido pela falta.
O outro, então, é mero apêndice de acontecimentos internos.
O ego não se dá com o amor, é seu principal inimigo.
O amor, nesta perspectiva, ocorre marcado pela competição, pelo ciúme, pela posse, pela triangulação, pela inveja e pela culpa ressentimento.
Já o desejo não possui objetos, se desja um conjunto e se deseja o que se é apresentado no entre do encontro.
Ele flui, produz, inventa e se reinventa.
Não padece de faltas, nem se sente castrado.
E nós que sempre queremos amar e amar, não construimos vínculos amorosos desejantes.
Isto porque amamos egoicamente, com base em identidades rígidas e inflexíveis.
Porisso, repetimos: os mesmos amores, as mesmas dores.
Se almejamos amar na liberdade das alegrias solidárias, necessitamos alisar os territórios de nossas vidas.
Necessitamo-nos: dar-nos ao devir.
O devir é o movimento de atualização de nossas potência inibidas, bloqueadas, reprimidas e estropeadas pela vida institucionalizada.
Devir-se é explorar as nossas multiplicidades que permanecem evitadas, escamoteadas, ocultas.
Um devir amoroso se atualiza na alegria da partilha, da cumplicidade, da generosidade e da ternura.
Amemos. Livremente... Amemos a vida e os viventes, as coisas e o cosmo.
Amemos para além do tempo e para além dos modos de viver cujos sentidos sejam, nada mais e nada menos, que a nossa escravidão.

2 comentários:

Michel disse...

Quero agradecer o maravilhoso agenciamento que ocorreu no grandioso encontro promovido pelo Congresso desse ano de 2010. Poder coletivizar com inúmeras pessoas que respeitam a singularidade, dão suporte para a loucura de ser marginalizado, porém, mais produtivo nos devires do que qualquer ser sujeitado a máquina de engolir do capitalismo não-selvagem. Estou grato por poder conviver com pessoas que querem fazer a diferença, por uma nova terra, por um novo povo! Jorge, que o devir-amor nos alcance e modifique esse ego que a muito já deveria ter morrido!
Forte Abraço da boa saudade que ficou!

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Michel, suas palavras são um compêndio de vida nova. Ousadia e ternura. Os caminhos do devir exigem a superação do instituido e do aborrecido mundo das repressões, e você ousa, ternamente, devir-revolução. Obrigado por sua amizade. abraços jorge