VIDA NÔMADE
JORGE BICHUETTI
Sou um cigano travestido de burocrata,
levanto, sento no computador e escrevo,
depois, trabalho e volto para casa...
Assim, vivo... Um sedentário...
Não, mas não sou isto, sou outro e outros
e nestas outras vidas, me vejo distinto:
um andarilho disfarçado de homem comum...
Em cada poesia, eu viajo e bailo e brinco e até mesmo troco confidências
com estrelas cintilantes que vivem no azul infinito, e me segreadaram que são os arrepios amorosos
do próprio Criador.
Se canto alegre, serpenteio num arco-íris dourado,
se canto triste, me escondo numa nuvem macia e acolhedora...
Nos meus delírios, navego na eternidade e canto cantigas de ninar
na manjedoura onde, o meu menino, solitário, dorme e sonha...
Aos pés da cruz, trapaceio e troco o vinagre por um suco de frutas campestres,
dos campos onde corro desnudo nas noites de verão...
Ah! como deliro... nos campos de concentração, os nazistas não me veem
e eu distrubua os pães e os peixes que sobraram nos cestos da divina multiplicação.
Delirando, posso... e sou....
o manto aquecedor das noites frias na pele dos sem-tetos;
e o abraço amigo e terno
dos corações solitários.
Ah! quanto delírio ainda é necessário para curar as feridas da lucidez!
Louco, nômade... entre a poesia e o delírio,
carrego a certeza de que no mundo que vivemos e sofremos,
a loucura é a voz de deus num singela e feroz oração...
" a sabedoria dos homens é loucura para Deus,
a loucura dos homens é a sabedoria de Deus" Evangelhos
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