III Congresso de Direitos Humanos e Saúde Mental em Buenos Aires e a Luta Antimanicomial : Surpresas , falta de critério e impostura ! - MARCUS VINICIUS, DIGIRENTE DO CUIDAR E DA REDE INTERNÚCLEOS
Estivemos presentes ao III Congresso de Direitos Humanos e Saúde Mental, realizado de 12 a 14 de novembro, em Buenos Aires, por convocação da Universidade Popular das Madres da Praça de Maio. Iniciativa de grande sucesso e importância, sustentado a partir do carisma, da coragem e da combatividade da organização das Madres, em sua terceira versão, este Congresso já se constitui em uma das referencias mundiais do esforço para evidenciar e politizar os efeitos das mais variadas formas sociais de opressão e exploração e a enorme produção de sofrimento psíquico, que tal situação resulta. Além disso, permite a apresentação dos esforços ideológicos, teóricos, técnicos que são estabelecidos no sentido da superação desse sofrimento, por meio das produções dos saberes “médico-psicológicos” em sua vasta variedade, atraindo hoje um publico de estudantes, profissionais de vários paises.
Fomos por patrocínio do Conselho Federal de Psicologia do Brasil, através de iniciativa proposta por sua diretoria, em consonância com os trabalhos em Direitos Humanos que essa entidade tem desenvolvido. Convidado a auspiciar o evento em sua segunda versão, o Conselho Federal de Psicologia, desde aquela ocasião entendeu a adequação de se unir ao trabalho organizado pelas Madres, em reconhecimento político do da sua trajetória histórica e coerência na luta pelos Direitos Humanos e contra as injustiças na Argentina e no cenário internacional. Tal situação levou a que já na segunda edição, e nessa terceira, o CFP apresentasse ao evento propostas de algumas mesas redondas com a finalidade de divulgar os trabalhos realizado pela entidade e seus parceiros, propostos no temário do Congresso.
Dessa forma, dessa vez, fomos apresentar os trabalhos do CFP na Luta pela Reforma Psiquiátrica Brasileira, com ênfase nas denuncias da violação dos direitos humanos, nos hospitais psiquiátricos brasileiros e as respectivas ações desenvolvidas pelo CFP, em conjunto com a Rede Nacional Internúcleos da luta Antimanicomial, para o seu enfrentamento. Por isso entre os representantes convidados pelo CFP para representá-lo nessas atividades, estiveram três militantes, sendo uma Conselheira do CFP que faz parte do Fórum Mineiro de Saúde Mental, o Coordenador da Comissão nacional de Direitos Humanos do CFP, que integra também a Núcleo de Superação dos Manicômios da Bahia, e uma colega psiquiatra do Fórum Cearense da Luta Antimanicomial e da Fundação Damião Ximenes, organizações aderentes e simpatizantes da Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial. E é preciso que se diga que, no Congresso, que esteve bastante organizado e com clima bastante fraterno, fomos atenciosamente tratados pelos organizadores e sob esse aspecto nada deixou a desejar. A qualidade dos debates, a força ideológica presente, a intensa presença de estudantes, inclusive amplas delegações de estudantes brasileiros, só confirmam a importância do evento como cenário de um debate progressista sobre os saberes e praticas “psi”.Surpresas políticas no tema antimanicomial !
Na antevéspera de nossa partida, já inscritos, quando recebemos o programa completo do evento, ficamos todos muito surpresos com a presença no mesmo, de um “Encontro Internacional do Movimento da Luta Antimanicomial”, em relação ao qual, até àquele momento, as nossas organizações antimanicomiais brasileiras (pelo menos entre as 25 ONGS que fazem parte da Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial), não haviam sido consultadas ou convidadas a participar. Tal situação nos pareceu muito estranha, principalmente quando vimos à presença oficial brasileira, que aparentemente legitimava aquele evento, pois estava nas mesas que faziam parte do “Encontro”, se resumia aos representantes de um CAPS privado de Uberaba-MG (?), um Curso de Psicologia (!) e pelo pesquisador Paulo Amarante, que aparecia no programa e na proposta de fundação de uma “Articulação Latino-americana da Luta Antimanicomial” , (cópia em anexo) como representante (sic) do “Laboratório de Estudos e Pesquisas da Fundação Oswaldo Cruz / Rio de Janeiro, uma organização governamental (!)”.As perguntas que nos fazíamos, eram : como organizar um Encontro Internacional (!) ou criar uma articulação latino-americana (!) da luta antimanicomial, sem articular-se previamente, sem combinar isso, com as organizações brasileiras que há mais de dezessete anos conduzem, organizadamente e de forma vitoriosa essa luta no Brasil ? O que significava politicamente aquele gesto ? O que se pretendia com ele ? O que pretendiam os seus “organizadores” argentinos, com tamanha “denegação”, ao ignorarem solenemente o competente trabalho, persistente, continuado e eficiente dos trabalhadores de saúde mental brasileiros, das organizações de familiares e usuários brasileiras, e suas conquistas? O que significava aquela prática política de “reconhecimento” que elegia como protagonistas, e induzia aos presentes àquele evento a identificarem como sendo os “representantes” do Movimento da Luta Antimanicomial brasileiro, um CAPS privado, uma Faculdade de Psicologia e um Laboratório Governamental de Pesquisas, sobretudo quando temos uma imensa riqueza de organizações, autônomas, criativas e combativas ?Falta de cuidado ou falta de critério político ?A nossa estranheza continuou durante o decorrer do evento. O destaque dado aos já referidos “protagonistas” brasileiros se expressava na sua destacada participação em todos os momentos expressamente assinalados no programa, como sendo parte do Encontro Internacional da Luta Antimanicomial. Assim desenvoltamente, (eles a) coordenaram a abertura do Encontro, b) falaram pela nossa historia e por seu presente, por nossa luta pelas leis antimanicomiais, c) pelos dispositivos clínicos “alternativos” ao manicômio (se esqueceram que somos pelos “substitutivos”), d) pela questão da formação Sempre eles !. E o caráter “Internacional” do referido encontro na verdade se resumia, à participação desses brasileiros (e da nossa que lá estávamos, e até com mesas relativas aos temas, mas por um mero acaso e não porque tivéssemos sido previamente informados disso) e de alguns poucos (e por isso mesmo importantes) trabalhos de alguns militantes argentinos (Rio Negro e Experimento Oliveiros são as poucas expressões do esforço antimanicomial hoje instituídas, na Argentina) . E na Assembléia final do referido Encontro, ficou muito claro que o único país que possui uma tradição viva de organização da Luta Antimanicomial em toda a América Latina, com efeitos práticos, somos nós do Brasil. Questionados os organizadores, falaram de coisas como dificuldades de contato, de e-mails enviados e não recebidos etc, e de outras coisas inaceitáveis diante das pretensões exibidas pelos mesmos através de uma proposta apresentada na assembléia final que falava de: a) realizar um II Encontro Internacional da Luta Antimanicomial no próximo ano, no IV Congresso, b) criar uma “Articulação Latinoamericana de Luta Antimanicomial -ALLA” c) Efetuar ao menos um Encontro Anual dessa Articulação. Será que pensavam ser possível fazer isso sem incorporar a experiência das organizações brasileiras? Seria apenas desconhecimento da nossa realidade?Qualquer um que queira, efetivamente, promover a articulação da Luta Antimanicomial no continente, tem que necessariamente, obrigatoriamente, passar pelo diálogo com as dezenas de ONGS brasileiras, que organizadamente, nos últimos dezessete anos, desenvolveram uma competência política prática - estratégica e tática - na luta contra os manicômios. È lógico, que, como ideologia, a luta antimanicomial não tem proprietários, não tem donos particulares, nem pertence a nenhum país, pois faz parte do patrimônio político das lutas libertárias de toda a humanidade.Tampouco, nós do Movimento Antimanicomial brasileiro, temos qualquer reivindicação de primazia política pelo fato de que tenhamos construído em nosso país, um forte movimento social, reunidos em uma rede de organizações, com reconhecida competência para produzir teoria antimanicomial, para produzir uma prática política singular de participação direta e democrática dos usuários, tecnologias assistenciais elevadas à categoria de política pública, um saber original sobre a clínica do mental, uma nova legislação de origem na iniciativa popular do movimento social, uma intervenção cultural e ideológica na cultura brasileira, envolvendo informação, arte e transformação da sensibilidade. Isso além do fato antimanicomial objetivo da redução de mais de 25.0000 leitos nos hospitais psiquiátricos brasileiros, com o fechamento definitivo de várias dezenas deles. E também construímos mais de 800 espaços novos, originais, substitutivos ao manicômio!Não imaginamos que possamos ter primazia em função disto. Achamos que certamente temos muito que aprender. Sabemos que “cada um sabe a delicia de ser o que é” e que cada cidade, estado ou país tem que criar o seu próprio caminho, viver a sua própria historia. Sabemos que a nossa experiência pode ser útil e nos sentimos muito dispostos a compartilhar com todos os interessados a nossa experiência. Sentimos que podemos nos beneficiar da solidariedade dos companheiros de outras latitudes e que podemos oferecê-la em profusão. Estamos muito disponíveis para as trocas e para a amizade. E considerando tudo isso, pensando bem, podemos dizer, que, como um movimento organizado com tantos êxitos, somos até bastante modestos e humildes. Somos modestos, humildes, mas não somos bobos!A configuração dos fatos nos permite pensar, que tal construção operada em Buenos Aires não seria apenas efeito a falta de cuidado político, ou dificuldades operacionais de contacto com as organizações do Movimento Antimanicomial Brasileiro, como nos informou o Sr. Gregório Kazi, que respondeu como organizador pelo Congresso e por essa iniciativa particular. Seria inimaginável, se nós, dos Direitos Humanos no Brasil, decidíssemos organizar um evento de articulação internacional das Organizações de Mães de Desaparecidos Políticos, em Brasília, por exemplo, e não nos acertássemos previamente a concordância com as Madres da Plaza de Maio. Ou se pior do que isso, as ignorássemos ou convidássemos deliberadamente alguma delas isoladamente, principalmente alguma que fosse dissidente. E se o fizéssemos, certamente estaríamos enviando para elas uma mensagem clara: ou de que não as consideramos suficientemente importantes politicamente, para nós ou para a causa, ou que estamos concorrendo com elas pela representação política dessa luta, ainda que elas representem na América Latina, a única e principal organização a sustentar por 27 anos essa luta.Mal comparando é isso que, politicamente, está acontecendo e aconteceu nesse III Congresso de Direitos Humanos e Saúde Mental: uma selvagem e desmesurada tentativa de usurpação do protagonismo latino-americano no campo da representação da Luta Antimanicomial, como ideologia e movimento social. Uma tentativa de deslocar para Buenos Aires o cenário da protagonizarão no campo ideológico e político da organização da luta antimanicomial. Mesmo que a Argentina não tenha hoje um Movimento Antimanicomial organizado política e socialmente. Mesmo que nenhum outro país da América Latina o tenha. Mesmo que a verdadeira tarefa para cada país deste, seja, hoje a de organizar a sua própria luta. Por isso é incompreensível a denegação do trabalho político realizado pelos trabalhadores e militantes brasileiros. Por isso a ausência das lideranças e das organizações brasileiras, como forma de apagar a existência da nossa tradição nesse campo, como uma forma de nivelar a todos pelo patamar inferior. Dessa forma qualquer um pode convocar, qualquer um pode representar o Brasil, ou dar a entender que o pais se faz presente através de qualquer brasileiro que lá estejaE o pior: qualquer um que tenha muita ideologia e pouca ou nenhuma realização prática para exibir (e a prática pode ser um ótimo critério de verdade) pode ser o novo “comandante” latino-americano da luta antimanicomial e nos dar lições sobre o que devemos fazer e como deve ser a nossa luta: (sic) “Temos todos que facilitar com todos os recursos a existência de Movimentos Populares Antimanicomiais... pois não podemos conceber uma transformação das instituições psiquiátricas sem que este processo de luta adquira suas construções políticas forjadas em Movimentos Populares” (Propuesta Asemblea Particpativa/Cierre Del Ecuentro de Lucha Antimanicomial).Um pouco da história...Os “psi” argentinos tem uma contribuição enorme e inegável no campo do desenvolvimento da psiquiatria, da psicanálise e da psicologia brasileiras. Bebemos muito em suas fontes, sobretudo, no que tange ao pensamento critico e social, tão raro nessas disciplinas. Especificamente, no surgimento do primeiro movimento organizado politicamente, de criticas aos manicômios, sofremos forte influência deles quando da criação do MSTM – Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental no Brasil. Antecessor do Movimento Antimanicomial, algumas das idéias e conceitos dos institucionalistas argentinos, nos orientaram nos anos 70 e inicio de 80. Sem duvidas devemos ser gratos em relação ao que nos trouxeram esses contactos internacionais. Entretanto desde 1987, quando criamos no Brasil o “movimento por uma sociedade sem manicômios”, atual Movimento da Luta Antimanicomial, seguimos um caminho particular apoiados na luta pela Reforma Sanitária (situação que nos singulariza no continente) e conseguimos dar conseqüência prática à nossa utopia. Influenciados por outras fontes, fomos criando uma produção bastante original, como tem sido sistematicamente reconhecido por vários consultores internacionais, que vêm nos dar consultoria e se surpreendem com a nossa inventividade, com a nossa estruturação no campo governamental e com a nossa produção como sociedade civil organizada. O nosso Movimento Social adquiriu credibilidade social, pela efetividade de nossa intervenção, pela eticidade do nosso discurso, pelo caráter responsável da nossa prática. Somos exitosos, bem sucedidos tecnicamente, e temos força na sociedade.Ao longo dos primeiros 14 anos, realizamos como movimento social unitário, apesar de divergências internas, cinco Encontros Nacionais do Movimento Nacional da Luta Antimanicomial, seis Encontros Nacionais de Usuários e Familiares da Luta Antimanicomial, dezenas de plenárias, encontros estaduais e alguns regionais. Desde outubro de 2001, por recusarmos a presença da violência política no interior do nosso movimento e por questionarmos eticamente a conduta política de alguns dos grupos que faziam parte do mesmo, a maiorias das ONGS e/ou Núcleos tradicionais e fundadores, decidiram se retirar do espaço que originalmente nos organizava. Após reflexões isoladas e autônomas de cada uma dessas organizações, decidimos compor uma nova articulação, com base em princípios éticos e políticos, que possibilitassem o trabalho político “em boa companhia”.Recusamos definitivamente a violência política, a formas manipulatórias da política paranóica, que vê o outro como adversário e legitima com isso a agressividade, a competitividade e a disputa por representações, o projeto de centralização e hegemonia ideológica sobre o coletivo, as tentativas de atrelar a luta antimanicomial aos modos tradicionais de uma certa esquerda atrasada e violenta. Recusamos a impostura na política, a tentativa de fazer valer as regras das representativas que excluem a possibilidade da diferença na busca desvairada pelas maiorias assembleísticas. Com base nisso criamos a Rede Nacional Internúcleos da Luta Antimanicomial, como espaço da solidariedade e da troca, entre os que compartilham um outro modo de pensar e fazer a política.A política como impostura?O que os fatos produzidos em Buenos Aires tem a ver com isso? A questão é que eles estão mais ligados a estes desdobramentos do Movimento Antimanicomial Brasileiro do que se possa imaginar, e não são, absolutamente, aleatórios ou simples equívocos como se pretendeu a dar a entender. Em dois aspectos, pelo menos eles são definitivamente vinculados. Primeiro na presença do Sr. Paulo Amarante, como suposto representante do Brasil naquele Encontro Internacional, deve ser interpretado sobre essa ótica.Mas quem é afinal o Professor Paulo Amarante, nessas relações internas às organizações da Luta Antimanicomial brasileiras? O Professor Paulo Amarante do Rio de Janeiro, o destacado pesquisador da Fiocruz, tem laços históricos com o Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental, precursor da luta antimanicomial, desde meados dos anos setenta, entretanto, desde que no inicio dos noventa ele se estabeleceu na academia, como formador de recursos humanos e principalmente, como um pesquisador, tomou a reforma psiquiátrica e o movimento antimanicomial como seu objeto de estudos, o que lhe manteve próximo do movimento, mas sem uma prática política efetiva na organização do movimento social ou dos experimentos institucionais de cuidados, cujos integrantes se se constituíram na maioria dos militantes.No Rio de Janeiro, o Movimento Antimanicomial se fazia representar, desde o inicio, principalmente pelo Instituto Franco Basaglia, uma das Ongs pioneiras na organização do movimento, e por outros grupos menores e pessoas avulsas, que com grandes conflitos entre eles. A atitude sempre hostil e disputante do professor Paulo Amarante, em relação ao Instituto Franco Basaglia e principalmente em relação ao Pedro Gabriel que o liderava, o distanciava ainda mais do núcleo mais orgânico que dirigia o movimento nacional, no qual ele era percebido com reservas políticas. Entretanto, em 1999, no Encontro Nacional de Paripueira / Alagoas, um gesto de boa vontade, a maioria dos Núcleos do Movimento delegou, em confiança, a um recém articulado Núcleo Estadual do Rio de Janeiro, a destacada tarefa de sediar a Secretaria Executiva Nacional do nosso movimento e realizar o próximo encontro nacional. Considerávamos que este Núcleo recém organizado, como um esforço de unificação dos trabalhos naquele estado, apesar de ter entre seus proponentes a Sra. Márcia Schmidt, que anos antes havia mantido uma posição absolutamente hostil ao movimento antimanicomial. Mais do que mera boa vontade o que se percebia é que o Movimento Antimanicomial produzira no Rio, no ultimo período, várias organizações de usuários, que ao lado da vitalidade, exprimiam-se confusamente no plano político. O esforço de organizar o Núcleo foi bem visto pelas lideranças nacionais e a delegação da Secretária Nacional, ao mesmo quis expressar este reconhecimento.
Logo em seguida, com a aproximação recente do Sr. Paulo Amarante, que passou a participar mais organicamente desse grupo, o nosso movimento lhe distinguiu, por votação em plenária, com a oferta da condição de representante do Movimento junto à Comissão de Saúde Mental do Ministério da Saúde e passamos a conviver com ele nas plenárias. Ou seja, apesar das ressalvas políticas que a maior parte das lideranças do Movimento Antimanicomial Nacional, mantinha em relação ao Professor Paulo Amarante, por suas condutas personalísticas anteriores, ele recebeu uma delegação política e o reconhecimento do qual historicamente ele tanto se queixava.A despeito disso, e talvez exatamente por causa disto, os “ressentimentos” do Sr Paulo Amarante e da Sra. Márcia - agora na coordenação executiva - passaram a ser utilizados numa perspectiva contrária aos Núcleos mais antigos e principalmente contra as lideranças mais reconhecidas e históricas do Movimento. Apoiados numa concepção burocrática e assembleísticas do Movimento Social, ao invés de unificá-lo e fortalecê-lo, pretendiam separá-lo por castas – usuários, técnicos e familiares –liderando, principalmente os usuários do Rio, num movimento que instalou a desconfiança, a disputa e o conflito como método permanente de funcionamento no interior do movimento, que culminou com os desastres políticos que foram o Encontro Nacional de Usuários e Familiares de Goiânia e o fracassado Encontro Nacional de Miguel Pereira/RJ, que rompeu definitivamente com o quadro organizativo nacional e instaurou uma divisão permanente no movimento.Colocando-se como os “verdadeiros defensores dos usuários” contra os “outros técnicos” de outros estados, que só participavam do movimento porque tinham a intenção de “prejudicá-los, o Sr. Paulo Amarante e a Sra. Márcia Schimidt”, recém incorporados “a uma posição de coordenação do movimento social, usaram como principal estratégia de ação política, a atitude manipulatória, a calunia, a desqualificação, dos quadros nacionais que lhes acolheram, os legitimaram e os reconheceram”.Mas sem dúvidas, apenas o ressentimento e a capacidade manipulatória dessas duas lideranças, não seriam suficientes para produzir tamanho estrago político. Nesse mister eles contaram com o concurso de outra força política, de presença anterior no Movimento, que desde 1993 vinha disputando, como força minoritária, propostas organizativas e políticas no movimento, e que também se expressão nessa farsa convocada para Buenos Aires, com o nome de Articulação Latinoamericana da Luta Antimanicomial.O SOS Saúde Mental de SP e o Senhor Nacile Daud: a destruição como método.
Desde o surgimento do Movimento Antimanicomial, uma força esquerdista, que opera com os métodos clássicos da “política paranóica”, se fez presente, e disputou espaço. Minoritária, querelante, belicosa, ela sempre se moveu em torno do Senhor Nacile Daud, que é a grande referência política, no Brasil, do Sr. Gregório Kazi, organizador do esvaziado evento antimanicomial de Buenos Aires. Não sem motivo, o Sr. Gregório Kazi ostenta, no seu currículo publicado, a condição de “assessor do movimento antimanicomial brasileiro”. Ora, mas de que o Sr. Gregório está falando? A quem ele “assessorou”? Desconhecido de todos no Núcleos brasileiros, ele se intitula como assessor da luta antimanicomial por suas relações exclusivas com o Senhor Nacile e com o SOS Saúde Mental de São Paulo. O SOS Saúde Mental, de vocação messiânica, criado pelo Sr Nacile nos fins dos anos 80, sempre se caracterizou por pretender “ensinar” a todos os que não fazem parte dela, “verdadeiro” sentido e “modo correto” de ser antimanicomial. Como artigo de crença, ela adverte que existem dois modos de ser antimanicomial: o seu e o dos outros, ou seja, dos errados.
No governo de Erundina, colado em Eduardo Jorge, o Sr Nacile do SOS, deu um golpe na Plenária dos Trabalhadores de Saúde Mental de São Paulo, que esteve na base de constituição do movimento antimanicomial brasileiro – foi uma das organizações mais importantes para o seu surgimento - e conquistou o cargo de Coordenador Municipal de Saúde Mental. Golpe porque excluiu completamente da gestão, um coletivo de mais de 50 militantes, que tinha na sua base mais de 30 organizações e entidades progressistas, e desconhecendo o passado de lutas da Plenária, exerceu uma política de saúde mental, tímida, atrasada, com conceitos sanitaristas reacionários, e que nada tinha a ver com as reivindicações do movimento.
Governou com sua tendência política esquerdista e com sua ONG, desconhecendo e hostilizando, na administração, aos demais militantes do movimento. A melhor prova da pequenez do seu projeto é que nada dessa gestão entrou para a história das políticas de saúde mental antimanicomiais. Expulsos da cena política os demais militantes da Plenária encontraram na cidade de Santos igualmente na gestão do PT, o espaço para inaugurarem as novas práticas assistenciais, políticas e culturais, que deram o efetivo impulso real para a luta conquistar credibilidade e crescer nacionalmente.
Competitivos, belicosos, mal humorados, manipuladores, falsos e mentirosos, os militantes do SOS Saúde Mental no interior do Movimento Antimanicomial, sempre foram para os demais Núcleos do Movimento Nacional, fonte de grandes tensões. As grandes divergências teóricas acerca do “fato mental”, que se encontram por detrás das propostas políticas, desse grupo e dos demais, foram sempre de difícil explicitação, num movimento de massas, que trabalha com um grande contingente de portadores de transtorno mental. A divergência com o SOS, em relação às exigências éticas para uma clinica e para uma política, que opere com estes sujeitos, na perspectiva da sua autonomia, dificilmente puderam ser explicitadas, debatidas e compreendidas. Ao operar com objetivos políticos imediatos, de mera ampliação do seu poder e da audiência dos seus quadros dentro do movimento, em diversas ocasiões os militantes do SOS sacrificaram as possibilidades antropológicas extremamente rica, que o trabalho antimanicomial comporta e oprimiram as demais forças que não se comportavam como uma totalidade política organizada. Dessa forma a performance política do SOS constrangia aos demais, a obrigá-los a um ajuntamento para fazer frente ás pretensões. Mas o principal do mal estar advinha da conivência obrigatória com as forma manipulatórias e assembleísticas, que “usavam” o mecanismo da sedução dos usuários, para a mera conquista de posições.
Desde 1993, ano de organização do movimento social em Salvador/Bahia – o SOS foi minoritário na sua proposta de organização do nosso movimento. Na ocasião pretendiam, que o mesmo estivesse organizado de forma centralizada, com níveis de hierarquia locais e nacionais, com representantes oficiais por eleição e coisas assim. A concepção de uma rede de núcleos autônomos, independentes, unidos exclusivamente pela solidariedade militante não lhes parecia adequado aos seus propósitos, de fazer usos políticos dessa representação. Do mesmo modo, nos encontros nacionais buscavam angariar aliados para as suas posições esquerdistas de quem imagina que somente a revolução social pode resolver a questão do sofrimento metal e da existência dos manicômios. Ao resumirem a isso as suas pretensões eles pouco colaboravam para fazer crescer as organizações.
Portanto para compreender o atual quadro que resultou na divisão do Movimento Antimanicomial Brasileiro deve-se considerar que, a reunião das forças ressentidas presentes no Núcleo Estadual do Rio de Janeiro, com a disposição francamente destrutiva e desorganizadoras do SOS Saúde Mental de Saúde, ao polarizarem as forças mais desorganizadas (política e psiquicamente)¹ , sobretudo através da manipulação política de usuários, tornaram insuportável a tensão da convivência política, com a maioria dos núcleos fundadores do movimento, resultando em uma ruptura do difícil quadro organizativo comum.
E o que isso tem haver com os eventos em Buenos Aires?
Queimado politicamente em São Paulo, o Senhor Nacile, mudou-se, há alguns anos para Fortaleza, deixando de participar diretamente dos eventos do Movimento Social, mas teleguiando a intervenção, sempre destrutiva e belicosa, dos seus fanáticos seguidores, que neles se apresentavam. Em Fortaleza, as companheiras do Fórum Cearense de Saúde Mental, testemunharam mais recentemente o caráter destrutivo e oportunista das suas intervenções, instaurando a cizânia e a maledicência entre os locais. Nesse momento na busca de disfarças a fragilidade da articulação política em que estão isolados, apelam para um artifício de criarem Núcleos Interestaduais da Luta Antimanicomial, em que estados nordestinos, virgens da presença política do movimento antimanicomial. Como sempre operam na velha lógica da guerra de posições, operando a tentativa de constituir novas situações, mesmo que através de impostura, que possam transmitir a idéia de força, de poder, de potência política. Afinal a eles só isso interessa. Nós já os conhecemos!
Portanto, podemos afirmar aos militantes da Luta Antimanicomial Brasileira e aos companheiros latino-americanos, que o que se passou em Buenos Aires, com essa articulação entre o Sr. Gregório Kazi, o Sr. Paulo Amarante, os incautos (?) de Uberaba, envolvendo e usando o prestigio e o valor do Sr. Gregório Baremblit (será que ele sabe dessa história), usando o nome e o prestigio da Luta Antimanicomial Brasileira, usando o prestigio e o reconhecimento merecido das Madres da Praça de Maio, se insere em mais uma tentativa, de alguns “espertalhões” em se apoderarem da bandeira da Luta Antimanicomial, de criarem espaços para sua protagonização pessoal, achando que podem criar aparelhos, em que eles possam “liderá-la” (que delírio empobrecido), ditar as regras de como se faz “corretamente” a luta contra os manicômios. Não passarão! Como bem disse uma assistente Argentina que estava na “Assembléia”: “antes disso (da convocação de uma Articulação Latinoamericana), que façamos a nossa luta e mostremos os resultados em nossa própria realidade”.
Mesmo sabendo que a impostura tem pernas curtas, entendi por bem dar publicidade aos fatos e as análises acima, por respeito à memória da luta antimanicomial brasileira, para dar alguns nomes aos bois, para atribuir algumas responsabilidade políticas pelos fatos passados e atuais e não permitir o abuso da boa vontade e da desinformação, pressupostos naquele acintoso evento.
REPUDIO OS ATAQUES E FICO COM A JUSTIÇA E COM A DIGNIDADE!
terça-feira, 14 de setembro de 2010
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2 comentários:
Dr Jorge,
O importante é não deixar que a mentira e a ironia prevaleçam sobre a verdade e o respeito... "Em muitos momentos da vida o silêncio é a resposta mais sábia que podemos dar a alguém. Hoje, neste tempo de palavras muitas, queiramos a beleza dos silêncios poucos".
Afetuosos abraço.
Maria Alice
Amiga, Maria Alice, pensam tanto de nós que penso que não lhe sobram algum minuto para se verem.
Nós, seguimos... o sonho, a ternura, a solidariedade.
Amar é algo que incomoda os que só vivem de poder... de poder matar.
Abraços jorge
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