sexta-feira, 26 de novembro de 2010

DIÁRIO DE BORDO: AS GUERRAS QUE ANDAM NAS RUAS...

                                                                               JORGE BICHUETTI

Hoje, chove... uma chuva mansa com a candura de um acalanto; ela cai suavemente e abraça a terra, molhando-a como se a acariciasse, ternamente...Os pássaros piam na varanda, protegidos... Eu, alegremente, folheio um livro novo... E escuto um tango... Já doido de ouvir Caetano e Gil, Bethânia e Chico... Todos os chicos...
Não se vive sem ligar a TV: uma guerra no Rio... No Rio de São Sebastião.... No Rio da bossa nova e dos sambas imortais... No Rio, das praias paradisíacas... De Santa Teresa... Da Vila Isabel... Da Lapa...
O Rio.. da minha adorada Mangueira...
A Vila Cruzeiro foi invadida pela polícia numa operação de implantação de mais uma polícia pacificadora, e as gangues organizadas fugiram para o complexo do Alemão... e queimam e depredam carros pelas ruas...
A violência urbana com o tráfico com armamentos de guerra e o controle de vilas e favelas desafiam a paz...
Um poder paralelo sinistro que violam os direitos humanos e assustam e dominam os moradores...
Nada de bom ladrão, de mocinho Robin Hood...
A droga se associou ao crime organizado e criou um poder da força, um poder anti-popular e auto-sustentado no horror...
As polícias pacificadoras vêem gerando esperança, liberdade e paz...
Uma guerra no ar... Seus tiros nos conscientizam da realidade dantesca que vive os subúrbios do Rio.
Contudo, quantas outras guerras existem ali, que não notamos..
Nas ruas, meninos e meninas são exterminados pelo crack....
Nas esquinas, meninos e meninas são capturadas para a prostituição infantil..
Jovens desiludidos encontram no crime-tráfico um lugar social e um destino...
A periferia que se singularizava num Carnaval alegre e autogestivo, se viram cooptadas por uma estética caríssima que as tornaram dependentes do dinheiro, de um dinheiro cuja origem já não importa , uma vez que a festa se dá assim...
Vemos o crime e o condenamos... E suas raízes?
Ele é uma forma de inclusão na vida negada...
Ele é, também, um espaço de existir para existências negadas...
Ele cresce na carência de um estado e de uma sociedade civil fértil na solidariedade, alegre nos projetos de vida e ricas de oportunidades de vida para todas as vidas...

2 comentários:

Anônimo disse...

Concordo com tudo que disse. É visível. ....O estado brasileiro, desde o seu início nunca forneceu educação de qualidade, possue leis que não pune ninguém e ainda cobra impostos impagáveis, o que faz pobre e rico optar pela clandestinidade. Bem ao contrário, temos um país semelhante ao nosso, em tamanho e diversidade étnica. Os EUA. Fez tudo ao contrário do nosso país: deu educação, fez leis que funcionam e cobra impostos decentes. Não é nenhum paraíso, mas é o que tem de menos ruim no planeta. Aliás é entre o ruim e o menos ruim, que devemos nos ater, já que não existe e nem existirá paraíso no planeta. A não ser nas fantasias das ideologias e ou religiões.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Os sonhos são territórios livres onde podemos afirmar a solidariedade e a liberdade e eles nos sustentam na reinvenção de nós mesmos e do mundo. Isso é uma fé pessoal... Meu pão... Abraços jorge