JORGE BICHUETTI
"OS JUSTOS
O que agradece que na terra haja música.
O que descobre com prazer uma etimologia.
Dois empregados que num café do Sul jogam um silencioso xadrez.
O ceramista que premedita uma cor e uma forma.
O tipógrafo que compõe bem esta página, que talvez não lhe agrade.
Uma mulher e um homem que lêem os tercetos finais de certo canto.
O que acarinha um animal adormecido.
O que justifica ou quer justificar um mal que lhe fizeram.
O que agradece que na terra haja Stevenson.
O que prefere que os outros tenham razão.
Essas pessoas, que se ignoram, estão a salvar o mundo.
Jorge Luis Borges, in "A Cifra"
Tradução de Fernando Pinto do Amaral"
È hora de fazer um balanço... Viajei, vivi outra vida com novos horizontes... E muito aprendi e cresci...
Não fui um justo, igualmente, não fui um herói... Vivi a vida de um trabalhador comum , anónimo... e degustei o prazer da partilha de sonhos e risos, diálogos e canções com amigos que fazem a vida devir-se primavera, festa e aconchego...
Penso que consegui abandonar meu ego, por alguns instantes e mergulhar na viagem como experimentação de vida novo. Novos eus, novos caminhos....
Trouxe na bagagem Obras Completas de Borges... Um disco de tango... Um DVD das Madres...
Participei dos 1700 jueves de marcha das Madres: toda quinta, circulam na praça Rosada: a memória dos seus filhos , assim, eternizam-se e eternizam a denúncia do regime de horrores...
Das conversas de bar, inesquecíveis lembranças: o sorriso de um amigo, a abraço caloroso de outro... Partilhamos alegria e ternura, e multiplicamos as forças vivas da esperança...
De tudo, carrego um legado que se revela um leme para a vida que segue:
Simplificar a vida, intensificando os instantes;
Conviver e partilhar, diminuindo as expectativas e valorizando a alegria dos encontros;
Sonhar, subtraindo as palavras limites e impossibilidades...
Amar...na ternura e no carinho da generosidade de quem se doa;
Construir o novo na ousadia de quem ferido pelos espinhos não deixa de colher rosas;
Caminhar... e no caminho, semear, furtando-se ao ato de dominação sobre o movimento da colheita;
Dormir, lendo um poema que faça do céu estrelado o meu leito; e acordar escutando os pássaros, e renovando-me no orvalho amoroso que fertiliza sempre os dias dos que recomeçam, buscando a potência do novo.
sábado, 27 de novembro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário