O Auto-Retrato
MARIO QUINTANA
No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança...
Terminado por um louco!
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança...
Terminado por um louco!
Retrato
CECÍLIA MEIRELES
CECÍLIA MEIRELES
"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"
AUTORETRATO
BOCAGE
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;
Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;
Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.
Auto-retrato - Manuel Bandeira
Provinciano que nunca soube Escolher uma gravata;
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
e em matéria de profissão
Um tísico profissional.
Pernambucano a quem repugna
A faca do pernambucano;
Poeta ruim que na arte da prosa
Envelheceu na infância da arte,
E até mesmo escrevendo crônicas
Ficou cronista de província;
Arquiteto falhado, músico
Falhado (engoliu um dia
Um piano, mas o teclado
Ficou de fora); sem família,
Religião ou filosofia;
Mal tendo a inquietação de espírito
Que vem do sobrenatural,
e em matéria de profissão
Um tísico profissional.
Aninha e suas pedras - Cora Coralina
Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que tem sede.
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que tem sede.
Meu Epitáfio - Cora Coralina
Morta... serei árvore,
serei tronco, serei fronde
e minhas raízes
enlaçadas às pedras de meu berço
são as cordas que brotam de uma lira.
Enfeitei de folhas verdes
a pedra de meu túmulo
num simbolismo
de vida vegetal.
Não morre aquele
que deixou na terra
a melodia de seu cântico
na música de seus versos.
serei tronco, serei fronde
e minhas raízes
enlaçadas às pedras de meu berço
são as cordas que brotam de uma lira.
Enfeitei de folhas verdes
a pedra de meu túmulo
num simbolismo
de vida vegetal.
Não morre aquele
que deixou na terra
a melodia de seu cântico
na música de seus versos.
AVE, ESTRELAS DA VIDA, DO CAMINHO E DOS SONHOS!...
VERSOS QUE BRILHAM E VIDAS QUE ENCANTAM: ESTRELAS DA ETERNIDADE!...
6 comentários:
Amei reler minha conterrânea - Cora Coralina -.
Tão simples e tão sábia sua convocação:
"Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça".
Obrigada por nos presentar, com a ciência, permeada pela arte.
bjs com girassóis.
Jorge, vai aí essa pra coleção do Utopia, o bem humorado Juca Chaves:
AUTO-RETRATO (Juca Chaves)
Simpático, romântico, solteiro,
autodidata, poeta, socialista,
da classe 38, reservista,
de outubro, 22, Rio de Janeiro.
Com a bossa de qualquer bom brasileiro,
possuo o sangue quente de um artista,
sou milionário em senso de humorista
mas juro que estou duro e sem dinheiro.
Há quem me julgue um poeta irreverente...
Mentira, é reação da burguesia,
que não vive, vegeta falsamente
num mundo de doente hipocrisia.
Mas o meu mundo é belo e diferente:
vivo do amor ou vivo de poesia...
E assim eu viverei eternamente,
se não morrer por outra Ana Maria ...
Bom dia Jorge!
Quem sabe cuidar
Cuida com amor
Amor de poeta
Poeta que voa
Encontra a flor
Espalha o perfume
Dilui o amargo
O amargo da dor
Obrigada por voar em caminhos comuns!
Obrigado pela sua amizade que é um campo de girassóis floridos, uma serenidade rebelde e uma utopia mágica. Girassóis são esperança-criança.... abraços jorge
precioso e alegre, Marta... Juca, irreverente... Me encanta! abraços jorge
Obrigado, por sua companhia: ora brisa sustentando o vôo, ora galho e folhagem assegurando o puso. abraços jorge
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