domingo, 28 de novembro de 2010

GEOGRAFIA DO DIÁLOGO

                                                              JORGE BICHUETTI

Palavra e escuta. ação e reflexão. O homem é ser do diálogo... Da prosa, da boa conversa...
Aos pés do fogão, com cigarro de palha, pacientemente, enrolado, a vida já se descobriu, muitas vezes, mais vida..
A esquizoanálise, filiada ao institucionalismo, é uma enamorada dos diálogos; assim, como odeia as estéreis discussões académicas de saber-poder e poder-saber...
Estas reflexões são simples alinhamentos de algumas posturas fecundas da prática esquizoanálitica.
Dialoguemos... despidos das crenças nas verdades soberanas, únicas e universais...
Dialoguemos... reconhecendo que todo miséria vem dos és e que os es liberam para que o diálogo deixe de ser um ringue e passe a se constituir num processo de produções de novos conhecimentos...
Assim, se você fala e eu calo; não é uma interrupção do fluxo dialógico... Estou refletindo, afetado pelo que ouvi e tentando conectar com meus pensamentos...
Há maior riqueza quando no debate de uma questão, fugimos da dureza da luta de poder e tecemos, através das ressonâncias, um novo caminho, uma nova compreensão, uma nova saída, uma bifurcação... Inventamos... Criamos... E não apenas fomos discos reprodutores de saberes instituídos.
Somos soberbos: acreditamos que nossa verdade serve para todos e todas situações... Deste modo, se processou o genocídio cultural da América pré-Colombiana...
E é deste modo que bloqueamos qualquer possibilidade de diálogo com os nossos filhos, com as novas gerações...
Hipertrofiamos o valor do que nos ensina os livros, as ciências constituídas, e negamos o que sabe um corpo através de suas experimentações de vida.
Quando alguém manifestava admiração por suas ideias, Deleuze-Guattari se revelavam curiosos do que o outro inventou, travestindo a ideia original, que novidade havia criado afetado pela leitura da obra original... Ou, como aquela ideia funcionava na sua vida...
Deleuze chega a dizer no Abecedário que tinha verdadeira horror a cultura de estoque: que um conhecimento valia pela vida que nova que germinava no coração das pessoas e dos coletivos.
Diálogo - palavra e escuta, ação e reflexão, não para a imposição de uma verdade poderosa que soberana anule a criatividade e sonho...
Diálogo - fonte de entres onde o novo germina genuíno e instaura algo ainda não pensado.
Diálogo - encontro humano na alegria das trocas que nos enriquecem e nos permite multiplicitar nossa visão de mundo...
Diálogo- assim, é uma relação de amor e respeito onde dá a fecundação, a gestação e o parto do processo criativo.
Dialogando com todos nós, então, passo a palavra ao poeta João Cabral de Melo Neto:

A Educação pela Pedra  

Uma educação pela pedra: por lições;
Para aprender da pedra, freqüentá-la;
Captar sua voz inenfática, impessoal
[pela de dicção ela começa as aulas].
A lição de moral, sua resistência fria
Ao que flui e a fluir, a ser maleada;
A de poética, sua carnadura concreta;
A de economia, seu adensar-se compacta:
Lições da pedra [de fora para dentro,
Cartilha muda], para quem soletrá-la.
Outra educação pela pedra: no Sertão
[de dentro para fora, e pré-didática].
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
E se lecionasse, não ensinaria nada;
Lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
Uma pedra de nascença, entranha a alma.

4 comentários:

Anônimo disse...

Lá vem eu de novo encher o saco dos outros. Sim , eu mesmo , que sou cético e não deveria preocupar com porra nenhuma....mas a violência me preocupa, e sei, mais por prática do que por estudos teóricos, que o delírio das certezas podem ser ou são um fator detonador de destruição e sofrimento.....Concordo em tudo que vc diz neste seu escrito "Geografia do diálogo", que só tenho discordância na gravidade que vc coloca sobre as culturas pré colombianas. Para mim são mais um produto das mentes humanas, e, acho irrelevante culturas e civilizaçõs de ontem ou de amanhã. .....Bem, migo, detesto incomodar os outros e infelizmente tenho esse "complexo" de achar que estou incomodando e por isso mesmo peço desculpas.....
abraços.....
assinado: anônimo.
PS. Numa das minhas conversas citei algumas pessoas que estudaram o Homem: Buda, Nietszche e Cioran, mas esqueci de citar Woody Allen, que também acho interessante.

Helidamar disse...

oi meu querido jorge,viva seu meio secùlo bela estrada de vida,as vezes muito tortuosa mas tambèm com aprendizados e bonitas experiencias,muitos amigos,talvez horas caminhando juntos outros separados mas pelas mesmas causas. gostariade te um pouquinho do seu conhecimentoda sua cultura da sua ternura da sua humildade tao bela; as vezes muito tano as vezes outras severo ,mas nem por isso deixa de ser amigoda hora certa nas horas incertas . por isto você tem que comemorar os seus 50 anos com muita alegria;pais se todos vivessem intensamente igual a você ouvindo um tango quem sabe um bolero, um bom livro , ou um bom vinho estariam comemorando cinquenta anos com jovialidade com riqueza de espirito ;sem pesos em velhice,pais há a vida começa agora caiu suas experiencias eo que sabefazer muito bem,se amigo quando presisamos ; e nos dar aquele puxam de orelha quando presisarmos.

felicidades


Helidamar

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Querido amigo, este título lhe possibilita sair do anoniamto...
Não que me incomode... porém, se vê melhor olhos nos nos olhos...
Se o anonimato é impotante, para você, respeitarei..
o diálogo tem o prodígio de desvelar concordâncias e divergências, ambas valiosas na construção do novo através das trocas...Amo os grandes pensadores citados....
E acho que se sentássemos num café e nos pusemos a conversar, descobririamos grandes concordância, ou ainda melhor, no entrevero da ideias, acharíamos alguma jamais pensadas.
Lhe respeito...
Com carinho jorge

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Helidamar, a você meu carinho eterno, abraços jorge