quinta-feira, 25 de novembro de 2010

SINGULARIDADE E DEVIR

                                                                                  JORGE BICHUETTI

Estamos acostumados a viver como uma identidade rígida, restrita e permanente... O mundo olha e aplaude, dizendo: é um homem coerente e verdadeiro...
Trabalhamos no campo clínico e social, muitas vezes, buscando subsidiar no outro uma estabilidade, uma coerência existencial baseada na repetição...
Deste modo, cerceamos na vida a própria vida que é impermanência, autocriação e mudança.
" O homem é ser capaz de se refazer" ( Arduini), e nos refazemos explorando potências e modos de ser e existir que antes não havíamos experimentado.
No trabalho de cuidado, podemos coagir, reprimir, normatizar, intervindo para que outro seja um homem comum, a média de todos outros homens... Como, podemos abrir espaço, portas e janelas, para os ventos do devir e da singularização.
Devir - vir a ser o novo, o inusitado, o inesperado... Devir criança, devir animal, devir, vegetal e mineral, devir guerreiro e anjo... N devires... Que potencializando o que pode uma vida nos enriquece e nos torna mais singulares...
A singularidade e uma rede de multiplicidades...
O uno e o múltiplo são versões aritméticas da vida, e a vida é movimento: potência inesgotável, criatividade e diversidade que nos possibilita à superação do humano castrado, cinzento, inflexível...
Se somos  ou seremos tantos, onde mora a harmonia de uma vida?
Diria, sem rodeios, no seu tônus ético...
Que ética delineia uma singularidade que não é apenas uma bricolagem de esquisitices em nome da heterogeneidade?
Somos mutantes, podemos ousar a diferença... Nossa singularidade se harmoniza num processo de autovalorização da própria vida. E isso se dá com a nossa radicalidade ético-estética...
E aqui,como na aurora canta os passarinhos, Spinoza e Boff surgem dando-nos parâmetros: a ética dos bons encontros e das paixões alegres, e a ética do cuidado - compaixão e responsabilidade...
Eis um caminho que nos parece de liberdade e libertação, e um caminho, igualmente, comprometido com o outro e com a vida.
Sejamos, então, metamorfoseantes...

2 comentários:

Samara Dairel Ribeiro disse...

Oi Jorgito, cá estamos...
Tenho andado às voltas com os vários significados da palavra coerência, porém um em especial tem me ocupado. A necessidade de viver intensamente o que penso, sinto e defendo. Ando pensando que fazer revolução é diferente de ser revolucionário. Perto das Madres, isso fica claro, nítido... Por aqui, é preciso trabalho árduo e constante pra que a vida não acabe na incoerência dos discursos coerentes.
bj, samara.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Samara, vamos construindo sonhos e vidas entre pedras e espinhos... Vemos o alvorecer, mesmo quanto bate a meia-noite.... Assim, vamos ... resistentes..
beijos jorge