Noite escura; as estrelas me fazem companhia... No quintal, sombras... Já somos tão íntimos que mesmo sem vê-los, os sinto: meus álamos, minha roseira, meu limoeiro, o romã, os beijos e as samambaias. A Luinha hoje me apresentou minha alta hospitalar; cheia de dengo, voltou ao seu suave sono e me deixou, confiante... Estou ótimo: pronto para caminhar...
Todos nós na vida, inconscientemente, temos as lendas que nos marcam... Funcionam como roteiro e farol... Instrumentos da caminhada. Viver é caminhar. A vida se realiza nas travessias...
Andamos automaticamente o tempo todo; raramente caminhamos... Caminhar é ser da estrada: mergulhar na alma do caminho e seguir, iluminado pelo horizonte...
Muitas vezes, vamos daqui para acolá, nunca paramos, nos movimentamos o tempo todo , para ir a lugar nenhum...
Caminhar é seguir, estradeando pelas veredas da vida, desbravando, com o objetivo de se dar ao horizonte que sempre pede mais um passo.
Gastamos tempo e energia, nos deprimimos e nos angustiamos, e chegamos a sucumbir no vazio, por carregar o peso do mundo... O mundo pesa não por seus problemas; o mundo pesa porque dia, roubaram nossos horizontes e, imersos no imediatismo, aceitamos submissos... E é o horizonte que dá sentido à caminhada. Assim, passamos a viver sem sentido... O ser humano e a vida não se sustentam alijados de sentidos que aos fazem herdeiros de Don Quijote... O maltrapilho caminhante, rico de sonhos... Vida recheada de sentidos.
O nosso vazio existencial é resultado do processo vampiresco que desvitalizaram os sonhos.
Urge tecer com nossas próprias mãos novos sentidos e novos sonhos...
A acomodação, a apatia, a subserviência, a covardia nascem do fatalismo que na ausência dos sonhos, legitimam a tirania.
Se sonhamos, acordamos e nos percebemos cheios de vontade de seguir, de buscar, de lutar...
Os sonhos movem a humanidade e o mundo.
O caminho é espaço de realização do guerreiro.
Sem sonhos , o guerreiro adormece, vegetativo.
Psicodinamicamente, os sonhos tecem caminhos, caminhadas e caminhantes... Na ausência de sonhos, a vida fenece, o ser humano se vulnerabiliza e se adoece...
Então, deprimidos, toxicodependentes, panicados, fóbicos... hibernados... giramos, rodopiando em torno de nós mesmos.
E a exaustão aparece numa crise: tristes, com dores generalizadas, com o sistema imunológico autofágico, frágeis... dizemos, não tenho forças para caminhar.
Caminhar é sonhar, é amar, é partilhar, é dar-se, é alegrar-se, é cuidar, é acolher, é lutar...
Caminhar é buscar com o próprio corpo o horizonte azul. É criar, inventar, mudar, transformar... parir o amor e a solidariedade, a compaixão e a ternura... Caminhar é desbravar os espaços e instaurar o reino da liberdade.
Deste modo, se queremos ser feliz: redescubramos o horizonte; teçamos no azul do infinito nossos sonhos; e atiçados pela força mágica do porvir que pulsa reluzente no horizonte e nos sonhos, caminhemos...
Se buscamos a aurora, a aurora nos buscará...
2 comentários:
Bom dia querido Jorge.
Que bom que a gripe perdeu a batalha de vê-lo adoecido. Tenha uma boa semana sem abusos!
bjs no coração
Sumaia
Sumaia: minha querida amiga, aqui estou... Retomando a vida para seguir mais um tanto... Que a semana lhe seja flores, passarinhos na janela e céu claro. Abraços ternos, jorge
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