Tenho barro nas mãos
e este lamento nos braços.
Nosso canto que desliza
exangue e pungente no asfalto,
desprendeu-se de nosso corpo,
- velhas noites graves rios.
Canto que amanhce grande como a rua,
com o sal da noite, mortal e frio,
para o alimento dos ossos da praça
e o incêndio, friíssimo, do mundo.
É a voz de argila e desconsolo,
candeias semi-cativas de dores
que acordam e regressam remotas fontes
e flores isentas de sangue.
No pasmo das praças vazias,
nas curvas das quebradiças tíbias,
nos olhos ermos das gentes,
no dia que floresce o mortal caminho,
é o canto que amanhece o canto,
sem vitória e sem bandeira estentida.
Pois se os mortos reclamam a terra,
os vivos, se restam, só pedem a vida.
Pobre e enorme canto que eu canto,
barro nas mãos lamento nos braços.
Somos dois e nascemos.
Fomos dois e morremos.
DO LIVRO: A POESIA EM UBERABA: DO MODERNISMO À VANGUARDA / GUIDO BILHARINHO
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