Não vivemos num tempo de desilusão, de fatalismo, de apatia e acomodação... O sol voltou a brilhar; as flores já estão florescendo, de novo. Depois, de um longo inverno de niilismo, a humanidade questiona, opina e se manifesta. Crê no sonho, caminha e luta... Aqueles que haviam decretados a morte da história, terão, inevitavelmente, que admitir que erraram ou que ela ressuscitou. O mundo não é mais a quietude silenciosa do fascínio inicial com a globalização e com o neoliberalismo. Vê-se um uma onda crescente de insurgência, de rebeldia e de lutas sociais... O modo de existir é posto em cheque; as relações sociais de exploração e dominação são criticadas e negadas; e, claramente, emerge uma consciência de que os danos ecológicos, a incapacidade da democracia representativa de contemplar as aspirações de todos, a tirania e o fascismo, a violência e a exclusão, dão-se num modelo estrutural de desenvolvimento, norteado pela acumulação capitalista, pelo fetichismo da mercadoria - coisificação da vida e supressão do ser, e pelo lógica do império.
A rua voltou a ser palco da palavra... Das mobilizações no mundo árabe aos acampamentos da democracia real na Espanha, das greves e manifestações da Grécia aos movimentos pela liberdade e pelo direito à diferença no Brasil, apontam para um novo ascenso das lutas sociais.
Algo foge do padrão... Não é a expressão de um programa elaborado e organizado num partido, numa vanguarda...
Hoje, o papel das redes sociais e da instantaneidade da comunicação vem fomentado ações e mobilizações que emergem cheias de vigor, alegria e com um horizonte onde se nega o instituído e se clama por mudanças e pelo novo.
Um outro mundo é possível - utopia do Fórum Social Mundial, exerce uma função de farol, clareira, clarão...
Quando os jovens espanhóis gritam - nossos sonhos não cabem nas suas urnas... Dizem, com clareza, que não estão apenas numa luta de reposição das perdas financeiras dadas pela crise atual do capitalismo. Acrescenta um novo agir, novos sonhos e novas temáticas para a reinvenção do mundo e da vida...
Estes movimentos são conseguem ser compreendidos com os velhos paradigmas: esquerda versus direita; capitalismo versus socialismo real.
Neles, contudo, é claro e inegável a presença no sonho e na luta de linhas e fluxos que desenham um diagrama que os colocam no campo revolucionário, no horizonte das transformações radicais da sociedade, e os definem como movimentos libertários autênticos.
Trazem corporificados:
- a liberdade e o direito à diferença;
- os direitos humanos e a negação do fascismo e da repressão;
- uma visão de um socius includente, plural e não supressor das singularidades;
- um não à guerra e à globalização neoliberal;
- uma visão de poder partilhado na auto-gestão num socius marcado por relações transversais;
- uma aversão ao políticos, partidos e atores que funcionam como uma casta burocrática dominante;
- uma visão de que a exploração, a injustiça e miséria podem ser superadas por uma sociabilidade solidária;
- um modo de ser, existir e intervir dionísico...
Tão somente,não os identificamos com o socialismo libertário... o que se inventa no entre da caminhada; pelo nosso apego aos manuais e cartilhas.
São, contudo, as sementes de um novo tempo...
Reatualizam o maio de 68, com toda complexidade e diversidade ali presente...
Dão vida ao texto de Che que analisava o papel do homem novo na construção do socialismo...
E representam com fidelidade e beleza poética a definição de revolução de Hebe de Bonafini, Madres de Plaza de Mayo: revolução se faz, fazendo; revolução se faz, partilhando; revolução se faz, dando-se...
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