quarta-feira, 29 de junho de 2011

POESIA: ESTERTORES DO TEMPO

                             UMA LÁGRIMA NO CHÃO DO MUNDO
                                                                              Jorge Bichuetti

Catedrais espiam a vida, do alto;
santos e nobres, enclausurados,
pesam as dores do mundo nas
manchetes sanguinolentas dos jornais,,,
Lá fora, a lágrima caindo lentamente
é o retrato da nossa desumanidade.

Os homens dos tronos e das becas
manuseiam cifras e geometrizam o
lamento, a nudez e a solidão; e o
veredito não passa de um numerário
que denuncia a desvalia e retrata as
pústulas pestilentas da multidão...

Ninguém escuta o conta u'a lágrima...

E as lágrimas lamuriam no desalento;
petrificam-se esquecidas no chão...
O rosto triste e solitário agoniza e
vão esperam o acalanto de u'a mão.
U'a mão generosa e piedosa que a 
seque, revelando o horizonte azul

e, assim, fecundanda-a de esperança...

A lágrima abandonada implode e o
mundo insensível refaz as  somas e
dá a estatística dos anônimos suicídios...
Os jornais, logo, esquecem e festejam
os triunfos banais da vida mumificada
nas manchetes sorridentes da ilusão...

A vida morre na contramão; não é
a glória dos relámpagos de ocasião...


















                                             

                                            
                                        
                                A FONTE
                                          Jorge Bichuetti

A nascente seca entre ervas daninhas
chora o verde que lhe foi roubado e
o mar que a esperará em vão... 

O homem capina o mundo, mas não
percebe que desmatou o próprio coração...


                                  ESTE MENINO
                                                   Jorge Bichuetti

Nu, maltrapilho e feridento,
caminha só entre carros e
já não suporta os olhares
que o fuzilam inclementes...
No fim do dia, a sede e a
fome o enlouquecem e ele
chora, olhando no céu as 
miríades estelares... só e
cheio de medo. O mundo
dos Herodes pós-modernos
asfaltaram a manjedoura e 
apagarm o brilho da estrela-guia.

Nas novas ruas de neón, novos cristos
são diariamente crucificados na esmola negada;
daqui, partem e vão sem conhecerem
a bondade dos magos errantes
e a graciosidade do glória a deus
dos anjos que ninam o sono dos que nascem
nos berços da solidão...













                                         PÁSSAROS TRISTES
                                                              Jorge Bichuetti

Longe, o silêncio já me dizia
que os pássaros não cantavam;
tristes, lamuriavam a vida,
agora, feita de sangue e metal...

Silenciosos, pensavam no fim,
no fim dos versos matinais e
no fim das cantigas de ninar...
Os pássaros num silêncio triste
sonhavam com o seu próprio cantar...

Os pássaros são na vida o coro
que animam a ternura dos poetas
e as vozes que melodiam os braços
que acariciam o sonhar das crianças...

Os pássaros só cantam... para dar alimento
aos encantos e magias do verbo amar...

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