sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

POESIA E CANÇÕES: FEITIÇO DO LUAR... AXÉ DE LUINHA!!!

                                     Jorge Bichuetti

Ante a ilusão do fim, nunca te esqueças que viver é recomeçar: arte de se reinventar nas asas da poesia que nos dá encruzilhadas onde a vida tenta nos encantoar no escuro dos becos sem saídas...
                               ***
O espinho não é o fim, o ponto final... suporta-o, pois, ele, é tão-somente, o guardião da rosa,e a rosa é u'a estrela do infinito que vive na ânsia de morar no coração da gente...
                               ***
A amizade é u'a poesia, u' rosa e u'a mandinga... Cria quintais de aconchego num mundo que nos rouba a paz dos passarinhos, a embriguês dos perfumes paradisíacos e a alegria de sempre sonhar... tecendo manhãs e manhãs com nossos sonhos azuis...


ENTRE PEDRAS, FLORES...
ENTRE ESPINHOS, SONHOS...

A VIDA VOA NAS ASAS DA LIBERDADE!!!


NA ESCURIDÃO, CANDEIA... O SAMBA É A TRISTEZA QUE BALANÇA: GAMBOA

Se chegares e a porta estiver fechada;
não te inquietes... no vaso de flores, ali,
onde os sonhos cheiram guardo u'a chave,
com ela a casa se abre encantada na magia
da vida que desde sempre fez da tristeza poesia...

                         jorge bichuetti


Candeia é tradição:
estrela viva na escuridão...



POESIA: ESTA FLOR

                 ESTA FLOR
                         Jorge Bichuetti

Esta flor
na tua mão
enternece meus cansados dias;
me aquece,
como um tufão
leva, para longe, mi'as amargas desilusões...

U'a flor
é poesia no ar;
as nuvens passam,
quando ela sussurra,
tecendo no vento
um novo canto que desenha
nas entrnhas do tempo
o desejo da vida de sempre,
de sempre recomeçar...


               NO HORIZONTE AZUL...
                                          Jorge Bichuetti

Na beleza azul do horizonte,
há quietude... há paz... e há
lágrimas doídas que nascem
dos olhares que de lá observam
o desespero e a angústia
que crucificam a vida 
tingindo de sangue
as nossas vielas de cá...


DIÁRIO DE BORDO: ESCREVER CAMINHOS; DESENHAR HORIZONTES...

                               Jorge Bichuetti

No céu, as últimas estrelas... Minha pequena Luinha dorme, rodopia no mundo dos sonhos... Aspiro o cheio da manhã, com meus álamos e roseiras perfumando o orvalho que desenferruja meus pés: é preciso caminhar, é preciso lutar.... Viver é tecer novos horizontes, redefinindo as próprias rodas do destino...
Hoje, o lápis me acordou... O esperei, longos dias... A palavra é semente, sementeira... Não é um adorno de aluguel...
Elas, as palavras, são estrelas... clareiam nossa vida íntima, ensinado-nos na arte do autoconhecimento... e incendeiam a realidade com o fogo renovador das transformações necessárias... Uma escrita, assim, é magia e é poesia... Bruxaria que exorciza nossos demônios; arte que martela , acordando no coração da vida s forças do amanhã..
Vivemos acomodados... Trocamos a cultura pelos epigramas das informações relativas ao mínimo necessário.
Arquitetos do destino, estamos aqui... 21 de dezembro de 2012: nem o fim apocalítico nem o mundo harmônico e criativo, solidário e terno...
Que caminhos escreveremos para nossos vidas?...
Que destino desenharemos para o nosso mundo?...
Construímos e destruímos, permanentemente, a vida e o mundo...
Um sorriso desperta manhãs encantados; o choro clama por generosidade cúmplice que detenha o fascismo das destruições impiedosas...
Todo fim é um instante onde se cruzam as forças do recomeço com os clamores da vida por uma nova humanidade...
Somos inacabamento...
O mundo é um jogo de forças entre a vida e a morte; entre a einclusão e a exlusão; entre o amor maior e as mazelas do desamor...
Somos co-responsáveis... O que faremos de nós?...
Que calem hoje os canhões... que ecoem graciosos o canto das crianças...
Que verdeje as matas... que floresça os corações...
Assim, tomando café quente, na prosa mineira das Geraes... ousaremos um velho canto:


POR JUSTIÇA E PAZ; SOLIDARIEDADE E INCLUSÃO CIDADÃ: FAÇAMOS UM NOVO MUNDO!!!

BONS ENCONTROS: UM DEBATE SOBRE OS NOVOS TEMPOS...

ÉTICA DO CUIDADO E A TERNURA DA SUSTENTABILIDADE DO AMOR ; FLORESCÊNCIA ECOLÓGICA QUE TERNIZA A VIDA E OS ENCONTROS...


CUIDAR DE SI... CUIDAR DO OUTRO...
VENCER AS GUERRAS; IMPOR A PAZ...
FLORESCER NA TERNURA DOS SONHOS PARTILHADOS...
UM NOVO MUNDO É POSSÍVEL


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

POESIA: NOS SONHOS, A POESIA DO SILÊNCIO

                         ESTE FARDO
                               Jorge Bichuetti

Cansado e velho, meu corpo
pesa; assim, carrego-o com a
sensação de que o tempo aninhou-se
na estrada... Enquanto, mi'a alma voava
no vento... tecendo nuvens e sonhos;
agora, meu corpo já não sou eu...
Carrego-o, bailando alegrias, sementes;
ele me carrega entre flores murchas
que mi'a alma ressuscita  
nas miragens das manhãs...


                      PEDAÇOS DE SONHO
                                          Jorge Bichuetti

Chove... De alma molhada, recolho
nos entulhos da sarjeta pedaços de
sonhos e delírios que me ensinam a
seguir, mirando o azul-além onde eu
hei de encontrar a poesia do silêncio.




BONS ENCONTROS: UM TEXTO DE LEONARDO BOFF - SOMOS ESTRELAS NO CAMINHO...

           Seres de luz
                       Leonardo Boff

A luz constitui um dos maiores mistérios do universo. Somente entendendo-a ao mesmo tempo como partícula material e como onda energética podemos ter uma compreensão mais ou menos adequada dela. Hoje sabemos que todos os seres vivos emitem luz, biofotons, a partir das células da DNA. Por isso todos irradiam certa aura.

Não é sem razão que a luz e o sol se tornaram símbolos poderosos de tudo o que é positivo e vital. Especialmente o sol irradiante é visto como o grande arquétipo do herói e do lutador que vence as trevas com os monstros que nelas eventualmente se escondem. Sua aparição a cada manhã não é uma repetição, mas toda vez uma novidade, pois é sempre diferente. É um teatro cósmico que começa
da cappo, como se Deus  dissesse ao sol a cada manhã:“Vamos, tente mais uma vez! Renove teu nascimento! Irradie tua luz em todas as direções e sobre todos”.  Na maioria dos povos havia o temor de que o sol talvez pudesse ser tragado pelas trevas e não voltasse mais a nascer e a iluminar a Terra e a cada um de nós. Criaram-se rituais e festas que celebravam a vitória do Sol sobre as trevas. Assim, havia a festa  romana do Sol Invictus, do “Sol Invencível”.  Posteriormente, deu origem ao Natal cristão, a festa do nascimento do Deus encarnado , chamado de “o Sol da Justiça”. As festas juninas com suas fogueiras têm por detrás a experiência do sol, pois se inaugura o solstício de inverno.  Fazia-se e faz-se ainda hoje a impressionante experiência de que o Sol com seus raios de luz, nasce como uma criança. Na medida em que sobe no firmamento, vai crescendo como um adolescente até chegar à idade adulta ao meio-dia. Pela tarde vai definhando até ficar velho e morrer atrás da linha do horizonte. Mas, passada a noite, ele volta a nascer, limpo, brilhante, sorridente como uma criança. Como não celebrá-lo festivamente? Como não entendê-lo como sinal da Realidade originadora de todas as coisas?  De fato, ele é uma imagem poderosa de Deus como o cantou São Francisco em seu “Cântico ao Irmão Sol”. Nenhuma metáfora da divindade é mais poderosa que a da luz e a do Sol. A própria experiência da luz fez surgir a palavra Deus. Ela deriva de di em sânscrito que signfica brilhar e iluminar. De di veio “dia” e “Deus”, como expressão de uma experiência de luz e de iluminação. Como diz São João: ”Deus é luz” (1Jo 1,5). “Ele habita”, no dizer de São Paulo “numa luz inacessível”(1Tim 6,16). Jesus se auto-apresenta como luz: “Eu, a luz, vim ao mundo para que todo aquele que crê não ande nas trevas”(Jo 12,46) O Verbo encarnado é “vida e luz dos homens”, “luz verdadeira que ilumina todo o ser humano que vem a este mundo”(Jo 1.4.9).  Por isso é com razão apresentado como “a luz do mundo”(Jo 9,5). Os que aderem a Cristo como luz devem viver “como filhos da luz”(Ef 5,8). E “os frutos da luz é tudo o que é bom, justo e verdadeiro”(Ef 5,9). Mais ainda. Cada seguidor deve ser também  “luz do mundo”(Mt 5,14).  Como reza tão bem a liturgia dos funerais:”Que as almas do fiéis defuntos não tombem nas trevas, mas que o arcanjo  São Miguel, as introduza na luz santa. Faça brilhar sobre eles a luz perpétua”.  Nós todos somos seres de luz. Fomos formados originalmente no coração das grandes estrelas vermelhas, há  bilhões de anos. Carregamos luz dentro de nós, no corpo, no coração e na mente. Especialmente a luz da mente nos permite compreender os processos da natureza e penetrar no íntimo das pessoas até no mistério luminoso  de Deus. 

MESTRES DO CAMINHO: A TERNURA É FLOR NO CORAÇÃO...

               REFLEXÕES:


- "E a doçura é tanta que faz insuportável cócega na alma. Viver é mágico e inteiramente inexplicável." Clarice Lispector

- "Quando olho uma criança ela me inspira dois sentimentos, ternura pelo que é, e respeito pelo que posso ser." Jean Piaget




quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

DIÁRIO DE BORDO: O DOM DA ESPERANÇA...

                            Jorge Bichuetti

Alvorecer com os passarinhos, sentindo o orvalho e o cheiro-da-terra... cria na nossa alma um estado psíquico fecundado pelo dom da esperança...
A esperança é muito mais do que a vida valsando nos compassos da espera... Esperança é caminho; voo... Busca incessante; luta aguerrida...
A esperança é sonho menino... que brinca, olha o infinito e alada, deseja os confins da imensidão.
Espera ativa; luta tecida por sonhos... vida que caminha sem medo das curvas do destino.
A esperança é subversiva: rompe o tempo e acorda a fúria dos ventos transformadores...
Colore as cinzas deste nosso tempo tão transbordante de ontens; tão vazio de amanhãs...
A manhã - sol nascente, estrelas na despedida... pássaros no regozijo dos cantos de ternura e compaixão... a relva molhada, cio da vida nas entranhas da alma... a manhã é grávida de esperança... Conta-nos sobre as cinzas de tantas mortes o que pode a vida parideira...
O amanhecer é a rebeldia indignada do tempo que se quer novo...
Acordamos e nem bem degustamos nosso café, já vemos corpos no sangue das sarjetas, guerras na bestialidade dos preconceitos e na ganância da força bruta...
Escutamos o choro da vida...
Mas, também, a vida canta... e pede, roga ajoelhada, clama por atitude, solidariedade ativa... luta por por justiça...
Ter esperança é no homem ver o anjo sideral; no mundo, u'a nova realidade de paz... sociabilidade transversal, terna, libertária...
A esperança, filha das manhãs, quer parir vida e mundo reinventados na conjugação do verbo amar... Amor incondicional... sem fronteiras... sem trapaças... sem repressão...
Para a sonhadora esperança, os grupos de extermínio, as usinas que asfixiam povos e tradições, os interesses particulares urrando para silenciar o Bem Comum... tudo isso é fantasma de um pretérito não-sepultado que se tornou zumbis das nossas tristezas e desilusões atuais...
Longe, grita o povo guarani-caiovás... Perto de nós, luzes se apagam...
A CEMIG diz não... Anúncio que desvela a nossa mesquinha escuridão...
Acendamos velas... Inventemos estrelas...
A esperança pode onde metais e o poder só enxergam a ferida narcísica dos próprios umbigos hipertrofiados pelo jogo que suprime o nós, a pátria... a alegria geral...
Urge que deixemos a esperança nascer, crescer e lutar...
Antes, que tenhamos que sepultar nas pregas do poder disputado os nossos sonhos de ternura e compaixão...
Muitos, acomodam-se...
Embora, o choro das mães que que carregam seus filhos ensanguentados, diga, silencioso: basta! a vida só pode voar nas asas da liberdade; e não liberdade quando os fuzis decretam o ódio... e as lágrimas nublam com sangue nossos sonhos de igualdade, fraternidade e paz...


MESTRES DO CAMINHO: FERNANDO PESSOA; VIDA PASSARINHEIRA...

                REFLEXÕES:

- "As vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido."

- "Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens."

- "A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo."

                   FERNANDO PESSOA




POESIA: NAS VORAGENS DO AMOR

         NAS VORAGENS DO AMOR
                                   Jorge Bichuetti

Se o amor te tocar:
não fujas... não fujas, não;
no vento, as folhas secas
encontram-se e se abraçam
na tecelagem de um novo ninho...

Não fujas, o amor é rio
na saudade do mar:
corre chão, rodopia nas curvas,
no desejo voa, viaja
sonhando num cais aportar...

O amor aninha o vento,
aquece o tempo... fecunda
no escuro da noite, é o 
luar orvalhando amanhãs...

E, assim, nos braços do infinito,
a vida suavemente adormece...


domingo, 25 de novembro de 2012

DIÁRIO DE BORDO: E, AGORA, LUINHA???...

                                 Jorge Bichuetti

Chove, madrugada silenciosa... No quintal, o verde mato e as coloridas flores.... fazem poesia de gratidão ante a água da chuva que cai, mansa e serena... Aconchego maternal do cosmo.
Eu aqui acordado:  olhando a fumaça do cigarro, escuto a respiração leve da minha pequena Luinha...
Cuido, desajeitado... Amo-a com a intensidade da vida que acode, aqui e acolá, as peripécias da criação.
Luinha, é terna e amiga... e, como se mostrou corajosa... Ontem, num pequeno acidente perdeu sua unha... Sangue e desespero... Embora, ela continuasse brincando...
Dormiu um longo tempo comigo... na tarde que também a chuva nos deixava com a impressão de que rodopiamos no infinito no ventre do amor maternal que vela por tudo: vela pelos flores pequenas que margeiam os íngremes caminhos; vela pelas estrelas da imensidão que bailam na escuridão da noite...
Havia e há nuvens no luar que busco manter acesso, como uma vela, no casebre do meu coração...
Vejo os medicamentos, cronometro os curativos... Nino-a com mi'as cantigas de gente grande...
De hora em hora, observo-a: ela dorme. sono tranquilo... E eu só queria saber alguma bruxaria para dar-lhe sonhos de paz e alegria...
Ela, logo, estará travessa e encantadora...
Nunca havia sentido (sabia!) das longas vigílias que minha mãe realizou, dedicada e devotada, nas noites da minha infância, quando febril... machucado... ou triste... pedia com meus olhinhos de cão um cadinho de carinho, u'a presença que afugentasse a monstruosa solidão...
A solidão é monstro selvagem.... quando nos sentimos frágeis...
O carinho dela era carinho experiente; amor vivido nas agruras do se dar para cuidar...
O meu, amor-menino... Dedicação medrosa... Medo de não ser capaz...
Mas, recordo e me tranquilo: o amor-cuidado é a poesia instintiva da própria vida que ordena e desordena, para que superando-nos, desnudemos na solidariedade viva o fio do destino que tece manhãs e amanhãs...
Homens, mulheres... crianças, velhos... todos podemos aprender ( um recordar, na poesia da ternura; um descobrir na arte da compaixão)... podemos aprender a devir mãe ante a dor do outro... Mãe; amor-cuidado...
Assim, o ruído das balas que aniquilam, mortificam e matam... calarão; e, o mundo se reencontrará na beleza do amor que agrega, cuida, vela... Vela acesa na escuridão; vela-leme nas travessias do mar...


POESIA: MIRAGENS NO ENTRE DOS CAMINHOS

                       NO BARCO
                              Jorge Bichuetti

No barco, sigo... navego
mares serenos e agitados;
se me arrepia a pele, meu
coração só vê o azul do
horizonte e a multidão de
peixes que pulam, bailam
saltando ondas, no picadeiro
das aventuras circenses que 
revela  grandiosidades e nem
conta, que no fundo, há um
paraíso de peixinhos miúdos,
pintados à mão, um a um, na
beleza singular da vida fora
das enciclopédias, da vida
na ternura do húmus germinal
que tece deuses infinitesimais...


                          AMOR INVENTADO
                                       Jorge Bichuetti

Amores passaram, e, se doídos no ciúme,
foram miragens nos adeuses já esquecidos...

Amores brilharam, e, se a magia era bela,
o tempo os fizeram cinzas, pó nas amareladas
recordações que desencantadas, morreram
sem lágrimas que lhes dessem eternidade...

Ah!!! já os amores inventados na poesia
dos sonhos de felicidade imaculada, voam...
e, ainda hoje, são estrelas nas noites solitárias...


MESTRES DO CAMINHO: HÁ SEMPRE UMA LUA NO CAMINHO...

                  REFLEXÕES:

- "Existem noites em que os lobos ficam em silêncio, e apenas a lua uiva." George Carlin

- "Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive." Fernando Pessoa

- "Aqui de cima do telhado a lua prateava" Manoel de Barros








sexta-feira, 23 de novembro de 2012

DA CUMBIA DANÇANTE AOS POEMAS DE MARIO BENEDETTI - URUGUAY, TIERRA HERMANA

AREIA E MAR
    CORPOS
  ARDÊNCIA
A    FLOR   DA
    PAIXÃO
    ONDEIA PELE;
    FISGA CORAÇÃO...

                     JORGE BICHUETTI


ENTREVISTA COM MARIO BENEDETTI


O POEMA " SE DEUS FOSSE MULHER" - BENEDETTI


DIÁRIO DE BORDO: VIVER É FAZER CABER NO CAMINHO TODAS EXPRESSÕES DA VIDA...

                         Jorge Bichuetti

Céu estrelado; acordei... Em êxtase, eu e minha pequena Luinha miramos, com reverência a imensidão, e parecia que as estrelas brilhavam, bailando, suavemente... Uma ciranda trans-sideral... Havia beleza e eloqüência... Versos silenciosos percorriam o infinito, semeando sonhos. Sonhos Azuis.
No quintal, o cheiro de mato me trazia lembranças ancestrais... Um dia, os Caiapós aqui viram e foram vistos, amaram e foram amados pela imensidão do céu estrelado que é a grande epopeia do amor incondicional...
Tentei ver a Lua... A que incendeia de paixões e orações a quietude da noite... Não há vi... O céu não estava nublado...
Na cidade, é assim... Tem muitos muros, edifícios... A cidade é terra recortada...
Senti saudades da amplidão do cerrado... Mas, se chorei, não o fiz por mim...Cultivo a miragem do luar, diuturnamente... Pensei nas vidas maltratadas pela intolerância e pelos preconceitos... que são muros e cercas mentais e sociais que segregam, marginalizam, discriminam...
Na nossa aldeia global, pode... o que é vitorioso, glamouroso, vencedor... pode a normalidade institucionalizada... Não cabe a diferença; a singularidade... os novos modos de ser e existir...
As instituições normativas, ora usam da força bruta; ora, dissimuladas, excluem com o olhar maligno, com a palavra ferina, com as inibições que forjam no ato de marginalizar, menosprezar, desvalorizar...
Um mundo intolerante é naturalmente um mundo de violências...
Um mundo preconceituoso é expontaneamente um mundo que decreta a morte física ou civil...
A intolerância e o preconceito são forças antagônicas ao amor...
Mutilam a capacidade de ternura e compaixão que divinizam o humano...
Um árabe, um índio, um morador de rua, um gay, um louco... todos, e outros tantos, vivenciam no corpo e na alma o calvário de suportarem a cruz que carregam, a cruz das suas próprias vidas negadas...
Queremos paz...
Queremos a não-violência...
Queremos amor...
Mas, paz, não-violência e amor só existem se instituirmos na vida e no mundo o paradigma da Intolerância Zero...
A compreensão, o respeito, a inclusão social abre caminhos no coração da vida... A intolerância mata, inclemente, a própria vida...


POESIA: O VOO DAS PALAVRAS...

            O VOO DAS PALAVRAS
                                     Jorge Bichuetti

As palavras voam; aves
ávidas de céu e mar...

Na minha boca, saboreio-as:
umas me dão o o sabor doce
das comidas no fogão-de-lenha,
onde a vida proseava sobre o
mundo daqui e o outro, florido
de estrelas nas noites de luar...
Outras comidas eram... o pão;
pão místico na eucaristia profana
dos sonhos que pesavam o suor 
da luta, e, assim, era pão repartido
na utopia da vida remoçada no amor
que derrubaria muros e cercas para
os abraços da nossa terna humanidade...

As palavras voam; asas
da vida... contam o ontem
na incansável espera da aurora
que tarda... mas, que um dia, virá,
no canto matinal da liberade...

Aí, então, as palavras adormecerão
na quietude do silêncio de um mundo
vazio de lágrimas, chagas e dores...


                           Pão Nosso
                                 Jorge Bichuetti

Há fome; mas, há pão...
Pão no celeiro; pão nos lixões...
Há muitos pães... e tanta fome:
mãos opulentas e mãos vazias;
um reino de egos que sabem
tecer pontes sobre rios, mas não
sabem atar vidas nas asas do nosso,
palavra contida que tornou-se 
palavra rebelada:
- a voz olvidada dos deuses...


BONS ENCONTROS: O CORPO SEVICIADO NO CAPITALISMO - FALTA VERSUS EXCESSO...

         Excesso

               Amauri Ferreira

Apontamos o que seria a crise relacionada ao corpo reduzido ao hábito: o esgotamento e o embotamento dos sentidos são sintomas dessa crise. Não é novidade que o capitalismo nunca se opôs à crise ao fazer dela um problema para ser administrado, e não solucionado. Se os corpos confinados da sociedade disciplinar foram, num certo sentido, flexibilizados nas suas relações pela sociedade de controle, é evidente que essa composição entre disciplina-controle jamais resolveu a crise que assola os indivíduos. Percebemos que vivemos, de modo acentuado nos grandes centros urbanos, numa sociedade de excesso – excesso de estímulos que nos atingem (principalmente pelo uso estúpido das novas tecnologias), cuja quantidade e velocidade não acelera a produção de intensidades, mas, ao contrário, acelera a quase ausência de intensidades e seu correspondente imediato, que é a demanda cada vez maior por pequenas doses de prazer. Um pequeno prazer associado a um estímulo visual, por exemplo: a obtenção é cada vez mais facilitada, “democratizada”, todos têm direito ao prazer (afinal, diante da oferta por prazeres, por que ficar triste?). Como tudo acaba, surge uma angústia que é suspensa temporariamente de modo fácil, simples: basta estar conectado e “clicar”. “Conectados vivemos melhor”: este slogan, vindo de uma grande empresa de telecomunicações, nos leva a suspeitar daquilo que dizem ser “melhor” para nós... Na sociedade de excesso, o déficit de prazer não é o seu oposto. Mas, ao que nos parece, o excesso, ao invés de ser a carta na manga que o capitalismo lançou mão para administrar a crise que surge pela redução dos corpos ao hábito (mesmo quando os hábitos são substituídos por outros que são impostos de fora), pode conduzir os corpos esgotados no extremo da crise – um esgotamento que talvez não seja mais possível ser administrado. Portanto, a relação entre excesso-déficit pode, enfim, tornar-se fecunda porque essa crise não é mais disfarçada pela indústria do prazer efêmero e aí, neste ponto, as coisas começam a ficar realmente sérias do ponto de vista dos defensores de uma suposta “saúde”, “bem-estar”, “tranquilidade” e “equilíbrio” para os indivíduos esgotados – uma crise assim pode ameaçar seriamente a reprodução da matéria humana que é necessária para a manutenção do sistema econômico vigente.  
DO BLOG: http://amauriferreira.blogspot.com.br/ 
 

MESTRES DO CAMINHO: A VIDA NAS LIÇÕES DE JUVENAL ARDUNUI

 

                                                     REFLEXÕES:

- "Viver é a grande aspiração da humanidade." p. 57

- "Vida é potencial da evolução criadora. É preciso a densidade da vida humana. Vida não se banaliza. Desperdiçar a vida é estragar a humanidade. " p. 57

- "Não basta educar a vida, é preciso educar-se para a vida. Há que recolher os grâos da vida que estão espalhados pelo mundo. Importa manter a pulsação da vida e não largá-la como estorvo." p.57

- " Vida é morada dos segredos.É arquivo da sabedoria e esconderijos de absurdos." p. 57

- "A vida é pergrina. Não se cansa de caminhar.Ela chega, reflete e parte de novo. Não é preguiçosa. É andarilha. A paixão é concretizar a utopia. Acredita que pode fazer mais um passo. Vida é reboliço, não estagnação. É teimosia, não medrosa.Tem a coragem de carregar fardos. Não foge." p 57 e 58

- "Perder o rumo da vida é desorientar-se. É patinar e retroceder." p. 58

- "A humanidade é chamada a caçar o sentido da vida e a vida do sentido. Vida sem sentido é vida frustrada e vazia. Quanto falta o sentido, a vida rola pelos abismos." p. 58

- " Vida é solidariedade. Vida são olhares que se cruzam, mãos que se estreitam, passos que se interligam." p. 58

- "Cada vida é diferente. Mesmo nas multidões, as vidas não se repetem, há sempre um traço imprevisível, algum aceno inesperado." p. 58
- " O impulso vital supera obstáculos e leva a humanidade a verdejar." p 58

- "Da madrugada ao crepúsculo, somos todos responsáveis pela vida." p. 59
                                                             
                                                       JUVENAL ARDUINI, IN: TECIDO SOCIAL

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

DIÁRIO DE BORDO: A VIDA REVIGORA-SE NOS CAMINHOS DOS SONHOS

                              Jorge Bichuetti

O sol nasceu... entre nuvens que partiam e a passarada que despertava... No quintal, orvalho... o cheiro das rosas... o limoeiro, ávido de frutos... o pé de romã, preguiçoso... Meus álamos, quietos, meditam...
A vida não cansa... não desiste... brinca, não vence nem é derrotada...
Ela, aos meus olhos, fica sempre no limite dos sonhos: ora, onírica, vê o além das coisas; ora, contagia a realidade com as cores do sonho...
Muitos, desprezam os sonhos: metafísica, idealismo, magia transcendental...
Mas, os sonhos persistem... são incubadoras, sementeiras... profecias que atiçam o fogo da luta; acordando os germes da mudança.
Viver é mudar...
Mudamos sempre...
O que ontem era verdade incondicional; hoje, triturado pelo vento do tempo, é cinzas... poeira no caminho, turvando-nos a visão do novo nascido nas entrelinhas da vida onde esta mesclou-se com os sonhos germinativos, que florescem poesia do amanhã.
A razão matemática segmenta a vida... risca o espaço e petrifica as grutas da exclusão...
O sonho alisa caminhos... cria fontes e pontes... gera asas... dá o pulo sobre o abismo...
Viver é antecipar amanhãs, povoando o hoje com o que estaria por-vir...
Ousemos sonhar; ousemos lutar...
Semeemos flores, entre pedras... sonhos, entre espinhos...
Busquemos um tempo de ternura e compaixão...
O solidão é a aridez da terra rachada na ausência das mãos que semeiam flores e sonhos.
Não deixemos o mundo seguir moribundo, agônico...
Cantemos o canto da vida...
Dancemos com os tambores da alegria...
Andemos guiados pelo farol da esperança...
A vida só fenece na escuridão do negativismo, daqueles que fizeram da desistência um estar no mundo, vegetando...  numa apatia cinzenta...
Há cores no jardim... cantos nos quintais... estrelas na noite...


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

DIÁRIO DE BORDO: PALAVRAS DA MANHÃ...

                      Jorge Bichuetti

O céu claro... com nuvens bailarinas que rodopiam, graciosas...O quintal, florido e verdejante... Os álamos teimam em tocar com suas folhas o horizonte azul... Pássaros cantam; ruídos distantes falam da cidade acordada... Luinha dorme: dengosa, abriu um olhinho, escondendo o outro, e suspirou desejos de sono prolongado...Feliz, a acomodei nas almofadas... Triste, sinto sua falta...
Busco palavras e elas fogem... parecem fantasmas da mente que diáfanos nunca permanecem visíveis muito tempo.
Tendo caçar uma e outra... O orvalho da manhã retêm consigo mais palavras...
Fala, canta, conta histórias...
A manhã é um livro aberto às cenas do próximo capítulo... Mas, a manhã é ávida, deseja revelar seus enigmas...
Aprendo tanto com as manhãs...
Acho que teimam para que eu diga: viver é recomeçar... Se colore de esperança; acentua os cantos da alegria... Há paz no amanhecer...
Não uma paz alienada das dores das guerras, das violências diárias... Uma paz que advinha no humano a sua ternura encolhida; a sua suavidade camuflada...
A manhã é vigorosa; mas, alija de si a força bruta...
Para muitos caminhar é conquistar, dominar, subjugar...
A suavidade das manhãs falam de outras realizações...
Canta a fecundidade do orvalho; o nomadismo procriador do vento... Dialoga com as cores do infinito; e não entende o por que reduzimos nossas vidas da trágico-comédia dos redemoinhos da infelicidade...
Regateira, a roseira multiplica-se e se dá...
Nós fazemos tanto por nós mesmos; somos tão contidos na arte de alegrar a vida e dar-se, generosamente...
Gastamos palavras na economia das ações dignificantes...
Perturbamos silêncio com palavras hostis e invejosas...
A manhã nasce e abre caminhos para o sol... desaparecendo imperceptível; porém, deixa o húmus e o cio da vida nova...


POESIA: VIDA DE MENINO

                  HÁ UM MENINO
                            Jorge Bichuetti

Há a um menino
que me doma e assume
meu corpo velho e cansado...

Ele chega e já 
tece sonhos e cirandas;
nem pensa nas mi'as dores reumáticas...

Gosta de rir e
de pensar que pode desenhar,
nos caminhos íngremes, o voo

e voando nas asas
do meu menino, eu sei...
que entre o hoje e o amanhã,
há o alvorcer do arco e da flecha,
há o florescer das estrelas cadentes
que riscam o céu, chamando
o homem para inventá-lo no chão...


                AS PIPAS
                       Jorge Bichuetti

Bailando, no céu, uma pipa é
u'a poesia de liberdade que trisca o infinito,
roubando-lhe o picadeiro; logo, dele,
que a lona circense das alegrias humanos
da casa dos deuses... onde palhaços e mágicos
inventam num chapéu velho novas alegrias...



MESTRES DO CAMINHO: O QUE PODE UM SONHO...

                      REFLEXÕES:

- "O meu maior desejo sempre foi o de aumentar a noite para a conseguir encher de sonhos" Virginia Woolf

- "Matar o sonho é matarmo-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso, de impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso." Fernando Pessoa

- "Sonhar é acordar-se para dentro." Mario Quintana

- "Sonha e serás livre de espírito... luta e serás livre na vida." Che Guevara





domingo, 18 de novembro de 2012

DIÁRIO DE BORDO: NAS CORDAS DO TEMPO, A MÚSICA DA FELICIDADE...

                        Jorge Bichuetti

Madruguei... escrevendo me pequei atordoado pelo fuso da internet que jogava, impetuosa, para o ontem... O tempo nunca é igual: os relógios ludibriam as pessoas, para que elas nunca perguntem: qual é o tempo do meu coração?...
O café quente; o canto dos passarinhos... a Luinha no seu vaivém, com dengos e jogos, querendo o dia, me fez crer na força da aurora... Sol nascente; a última estrela... Era domingo...
A Luinha me fiscaliza; assim, se ela não reclama, confio... é hora de trabalhar, escrever, pensar...
Dormimos muito cedo... Adiantamos, deste modo, um dia...
Converso com o vento e ele, velho andarilho, só sabe do tempo nas pulsações dos acontecimentos.
Toda hora é tempo de viver... E sonhar é um viver, que como a poesia, subverte o cronos... e fala de outras temporalidades...
O tempo das dores, das dificuldades, das frustrações parecem, só parecem, tempo infindável...
O tempo das alegrias, dos bons encontros, da criatividade é acelerado, veloz cavalga no vento...
Dele, pucos, usufruem... já que poucos aprendem a deixar a vida tatuar os acontecimentos na tela dos nossos corações...
Olhamos para ele nostálgicos; como se ele não tivesse marcado definitivamente nossas vidas...
O tempo perdido é tão-somente o tempo da completa inutilidade...
Mas, aqui, cabe uma indagação: o que é útil?...Para um banqueiro, é o cofre recheado; para um passarinho, é a rosa desabrochada...
Para os que amam, é o beijo, o carinho... o caminho percorrido de mãos dadas...
Para os que desconhecem o que pode o amor, é tempo ruídos... pois, nele, cala-se o coração...
A criança brinca... o jovem aventura-se... o adulto trabalha... o velho recorda... Tempos segmentados e robotizados; excludentes...
Sempre podemos viver brincadeiras, aventuras, trabalhos criativos, recordações fecundas e fecundantes onde o tempo é subvertido e que foi ontem gera a invenção de novos amanhãs...
Viver é caminhar no tempo, semeando as floradas do próprio porvir...
Existir, sendo consumido pelo passar do tempo é só um modo de existir...
Um existir que nega o que pode um coração... Ele é muscular, ósseo: petrificado....
O coração é atemporal...dialoga com caminhos e sonhos; tece mar e cais...
Muitos olham o tempo e, afoitos, declaram-se inúteis... somos sempre capazes de mar, sonhar, brincar, acolher, acariciar, dar-se e receber... somos sempre capazes de desenhar no infinito nossa vida de suavidade e ternura, arte e magia... Podemos...
Sempre podemos viver na intensidade amorosa e terna do que pode um coração...
A impotência declarada, de fora, pelo status quo, é uma avaliação da capacidade de explorar e ser explorado, de dominar e ser dominado...
Há outra potência...
Há outra primavera...
Há a vida que se alegra nos voos da ternura e da liberdade; que se intensifica na suavidade das sociabilidades solidárias...
A morte antecipada é uma castração das experiências não-vividas... clamadas pelo horizonte azul...
O tempo nem o sonho acabou...
Eles que estiveram tantos anos divorciados, encontram no tempo livre a oportunidade de se abraçarem para inventar a vida de alegria e paz, suavidade e ternura...
Ontem, tempo era dinheiro; agora, pode ser vida... felicidade tristeza partilhadas... arte e aventura nos caminhos que acabam com os desertos humanos na sementeira das floradas estelares, cósmicas... da vida que cria e se reinventa na alegria de jamis parar de amar...
Busquemos nossa vida passarinheira...