quinta-feira, 16 de junho de 2011

BONS ENCONTROS: O LIVRO E O UNIVERSO DAS NOVAS TECNOLOGIAS...

                                   O fim do livro


                     Renato Muniz Barretto de Carvalho

Impossível ficar indiferente diante do debate acerca do futuro do livro. Vai desaparecer? Vai mudar de formato? Vai existir para sempre? Quantas perguntas! Quantas dúvidas!
Vai desaparecer. Um dia, provavelmente, vai desaparecer. Não é preciso ser muito esperto para perceber que o livro, desde que surgiu, mudou muito. Já foi um rolinho, já foi de papiro, já foi manuscrito, já foi encapado com ricas capas de couro bordadas a ouro, já foi de pano, de plástico e, hoje, existe também no formato digital, ou como livro eletrônico, frequentando o cada vez mais amplo círculo dos equipamentos eletrônicos, como os notebooks, os iPads, os e-books, os cartões de memória, os CD-roms e os pen drives, dentre outros. Nem ouso citar suas possibilidades enquanto arquivo digital, pois são tantas...
É tentador fazer uma comparação com a música e suas inúmeras formas de reprodução e registro, que não a voz humana pura e simples e os instrumentos tocados ao vivo, sem falar no rádio. Antes, foi o tempo dos fonógrafos e dos cilindros, depois vieram os famosos 78 rotações, grossos, rígidos, limitados e os gramofones. Depois surgiram os LP, ou long plays, em 33 rotações, com maiores possibilidades em termos de conteúdo e qualidade da reprodução. Em seguida, num movimento rápido e surpreendente, apareceram as já anacrônicas fitas cassetes, os CDs e os MP3, os MP4... A indústria fonográfica já anunciou o fim do CD de música para algo em torno do ano de 2020. Não gosto de profecias, mas esta é de difícil contestação. A música não vai acabar, com certeza, o que vai mudar é o meio de reprodução.
Assim como a música não vai desaparecer, o livro e a leitura também não. O que vai mudar é o seu formato. E depois de mudados, continuarão mudando, para formas que sequer imaginamos nos dias de hoje. Por que não?
Mas existem diferenças entre as formas de reprodução da música e das ideias, via leitura, que não podem ser deixadas de lado. A música, desde que não seja ao vivo, precisa sempre de um meio mecânico ou eletrônico para existir. Portanto, depende de eletricidade, de uma fonte de alimentação e de uma aparelhagem. O mesmo não ocorre com a leitura, que depende da capacidade física (visual, auditiva ou tátil), do devido letramento, portanto de cognição, e de um objeto muito simples, que não precisa de nenhuma fonte de energia para funcionar, não precisa ser ligado ou desligado, nem de qualquer tipo de aparelho para se reproduzir: o livro.
Como se sabe, o livro pode ser levado a qualquer lugar, a qualquer hora. E que seja um bom livro, bem editado, leve, gostoso de ler. Ele pode ser lido na praia, no ônibus, no banheiro, na biblioteca, nas ruas, nas praças e por aí afora... O livro eletrônico também, apesar da limitação da fonte de energia. Agora, imaginem um caro equipamento desses em dois momentos ideais para uma boa leitura: na praia, junto de um baldinho de areia e outros apetrechos típicos, ou numa cabana, em um fim de semana de pescaria.
Da minha parte, eu imagino o sono vindo e o livro deslizando suavemente pelas minhas mãos até pousar no meu peito. Fecho os olhos e apago. Quando acordo, quem está no chão, quietinho, em perfeito estado, aguardando, sem maiores traumas, o reinício da leitura?
O livro, tal como o conhecemos hoje, vai desaparecer, mas antes vai conviver por muitos e muitos anos, talvez por um tempo geológico inalcançável à nossa vã existência, com outros formatos. Boa leitura e bons sonhos.

DO BLOG: http://renatombcarvalho.blogspot.com/


8 comentários:

Concha Rousia disse...

O livro vai viver além os suportes todos que hoje temos, porque o livro não perece, estes outros inventos não duram... quem conserva disquetes daqueles dos primeiros PCs... e se os guardasse, para que serviriam, não poderíamos ler mais, o livro é eterno, o livro foi inventado sobre a pedra, o livro voltará sempre com seu ritmo lento, quando a vida deixe se andar descompassada... Abraços lentos, como leituras em livros, Concha

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Concha: amo os livros, adoro manuseá-los, vê-lose penso que ficaria feliz sem eles; assim, adoro sua ideia, abraços com carinho, jorge

Concha Rousia disse...

ficarias infeliz... eu sei... ;) abraçios e livros sempre para ti, meu amigo.

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Concha: guardarei meus livros com chaves, na dída. abraços ternos, jorge

Marta Rezende disse...

Jorge, Muniz, amigos,
penso (sem gravidade) que os livros só deixarão de existir, se deixarem de exisir as noites.
beijo
M

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Marta, eu adoro dormir, lendo... ouvir música, lendo... viver, lendo. Beijos com carinho, jorge

Marta Rezende disse...

Eu também Jorge. E agora, depois um dia de trabalho denso, vou ler na cama até babar... Virtudes da solidão povoada. Durante o dia, aos pedacinhos, fui assistindo O elogio do amor, do Godard. Lindo filme!!!!!!!!!!!! Uma esperança de que a humanidade seja mais do que essa mesquinharia hegemônica da época atual. Isso que vc chama de vida cinzenta... Mas eu não gosto do adjetivo, vc sabe, pois é o próprio Godard que me ensinou a gostar do cinza. Mas eu entendo a sua linguagem, apesar de pedagógica demais, nesse caso. Às vezes, vc é professoral...
Eu Jorge, sou assim, não tem jeito. Quando nasci, fui banhada no pólen ... fiquei polêmica. he hehe. beijin Marta

Jorge Bichuetti - Utopia Ativa disse...

Marta, onde penso que devia ser mais ligado às contextualizações. O conza é conceitual - o homem cinzento de terno e gravata... Não uma cor. O turvo.
Um livro é um anjo eum namorado. Diálogo e carinho; abraços com carinho> jorge