A madrugada silenciosa pulsa cheia de magia e sonhos... A noite estrelada esperando o clarão da aurora; o sereno suavizando as agruras do destino molha o chão e fecunda os corações... Meu quintal, escuro... cheira rosas e terra... Ternura e luta... Poesias do amor solidário; encantos da liberdade nos caminhos espinhosos da vida insurgente que se deseja mudança no horizonte da utopia... Vejo as plantas... O limoeiro e romã crescem e ocupam o espaço; as trepadeiras , no excesso do sol, perecem... frágeis, pedem cuidado. Os álamos , novamente, parecem não descansar, buscam o infinito na finitude verde de suas vidas...
A Luínha dorme... não me viu acordar... Ontem, aninhada nos meus braços, ela viu a potência do sonho e da utopia, nos diálogos sobre o início dos espaços coletivos, das oficinas e do grupo de estudos da Universidade Popular... Já a semana próxima... Sonhávamos e ela ouvia... pressentia na voz amiga que partilha os sonhos de libertação do trabalho popular a florescências dos girassóis...
Ela viu também nossa preocupação, nossa lágrima: Juvenal Arduini, o Monsenhor dos Direitos Humanos, o guerreiro da solidariedade ativa e da inclusão social, o amigo incondicional das lutas libertária, está novamente internado... Me preocupo, sofro... Ainda o vejo na eloquência destemida erguendo sua voz e altivo, como altivo são meus álamos, dizer: "Basta! é hora de rebeldia; é necessário para verdadeiramente amar ousar, descruzar os braços e se indignar..." Era o lançamento do meu livro Crisevida... O tempo passou, rápido... Diariamente, o leio e relembro dele, já com mais de oitenta e alguns anos, pedir-me as obras de Deleuze e Guattari, em poucos dias, li num períodico da cidade o texto " Desterritorialização"...Fascinante, instigante: puro devir...
Respiro, aspiro... As rosas são estrelas da ternura no caminho de espinhos das grandes lutas... Poesias do amor da solidário...
Entre lágrimas, digo:
- Somos, companheiro Juvenal, mestre e monsenhor Arduini, o homem da vida liberta, a germinação da sua sementeira... Somos uma multidão... O sonho e a poesia da sua obstinada tarefa de pensar, instrumentalizando as insurgências e as rebeldias instituintes do novo e da mudança... Somos as sombras dos seus sonhos...
... a caminhada precisa continuar; a luta não pode parar.
O mundo arde em chamas... queimados vivos, vemos o que se torna o mundo e a vida quando se vive e caminha longe da força insurgente e acolhedora da ternura.
Ontem, por não conseguir pensar um desenvolvimento terno para o país, O IBAMA, aprovou a construção da usina Belo Monte... Por ela, neste mês, tombaram, assassinados, quadro guerreiros ambientalistas... Ela é utilitária e desenvolvimentista, mas não é um fruto da ternura... Aniquila nossa floresta, inunda dez povoados indígenas, e gera a mutilação colonizadora para povos carentes, cidades indigentes...
Me pergunto: quando abandonaremos o paradigma da paranóiae aprenderemos a crescer, incluindo, a crescer com ternura?...
A ternura é afável, suave e dulcificante... Acolhe, inclui... poetiza a vida.
A ternura seca lágrimas; tira espinhos e pedras dos caminhos...
A ternura canta... cantigas de ninar, sonhos de amar, cantatas para o luar...
A ternura se indigna e rebela, vendo a vida dilacerada na miséria produzida pela ganância e pela exclusão...
Ontem, na capital do país, uma passeata de militantes religiosos, negavam a ternura... A fé só não é ópio escravizante, se terna, se includente... se esperança na vida e respeito à singularidade do outro... Os religiosos diziam não ao PLC 122/06 - um projeto que legitima no estado brasileiro o amor que não dizer o nome... Porque o mundo onde a ternura não floresceu o quer clandestino e perseguido, torturado e martirizado as ruas da exclusão... A falta de ternura faz do ser humano a negação do amor... Cria a homofobia, a Xenofobia, a vida-fobia... A ternura não é conivente com a estigmatização, ela diz sim ao PLC 122/06 e exclama destemida que o amor, homossexual, heterossexual, trans-sexual, é sempre amor... força efervescente da vida, salto do ser humano que no amor se humaniza...
A ternura é o caminho... Quebra a solidão, raspa as correntes e as rompe, num insurgente processo de libertação...
O mundo crepita moribundo... Só a ternura pode salvá-lo.
E a ternura é a vida que diz através da poesia de Dom Hélder Câmara: " eu gostaria de ser uma poça d'água para refletir o céu estrelado."
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