Jorge Bichuetti
Madrugada orvalhada de canções... Escuto as vozes da vida; escuto cantorias do caminho... Mercedes Sosa acordou comigo. Ouço-a. Forte, primitiva, visceral: uma guerreira. O vento sussurra histórias do tempo. O tempo é um no vento; outro, nos redemoinhos. A Luínha está se sentindo poderosa. Ontem, me tirou do meio dos papéis e livros e levou para a cama onde ela julga que mora os sonhos...
Os sonhos moram no meio do caminho...
Na partida, são ilusões; no fim da jornada, ele mesmo já pariu um novo sonho. E assim o ciclo da vida segue eternamente.
A vida estagna nos redemoinhos, nas encruzilhadas, nas cachoeiras... Tempo de crise; tempo de mudança.
O ser humano se presentifica e externa na caminhada. A caminhada o desnuda e desnuda, ante o seu olhar, a vida. A vida se revela no caminho. Ali, ela se mostra...
Procuramos no caminho tecer, encontrar, conectar um sentido, um sentido para a vida.
O sentido que damos à vida, seleciona nossos sonhos. Os vitalizam ou os esvaziam; os energizam ou os nublam.
Existir é fabricar sentidos; e o sentido fabricado constrói nosso apogeu e paz ou nosso ruína e devastação.
Muitos reduzem o sentido da vida e o focaliza num único ponto: o próprio ego, a família, o dinheiro, a profissão, um credo, um amor...
A vida se abre e se potencializa , se ao tecer um sentido, o ser humano sai de si mesmo e incorpora na sua intimidade o outro e através do outro a humanidade.
Nas noites existenciais de tédio e angústia, o ser humano não se sustenta longe do luar...
E o luar da noite humano é o brilho dos sonhos e chamado da vida que conosco dialoga pelo olhar, pela lágrima, pela palavra e pelo silêncio do outro.
O outro é nossa matriz ontogenética no caminho da existência... Ele é o cenário da vida de cidadania...
Com o outro, emerge o carinho e ternura; e a raiva e a indignação... Forças que nos mobilizam e nos induz a inventar uma ética para o existir.
Rosa diz: " viver é etecetera"... Para nos gerir no meandros dos muitos eteceteras, necessitamos de nos governar com uma clara e afirmativa ética, uma ética do existir.
Toda vida ética se monta e se sustenta no caminho, através daquilo que da sentido à nossa existência.
Uns são éticos no caminho de sacrifício do heroísmo...
Outros , no esforça de santificação...
E já alguns , se conseguem éticos pelos sonhos que os vivificam e os fazem caminhar enamorados da aurora que brilha no horizonte de uma utopia.
A partilha é a ponte que nos abre e que abre a vida para o outro... E no caminho da partilha, o ser humano supera o grande fantasma da solidão.
Nesta caminhada, onde a vida se desabrocha e expande, se temos sonhos e se sonhamos, com o outro no paradigma da partilha, ainda sós, não definhamos no vazio; pois, como brilhantemente afirma Juvenal Arduini, " a solidão habitada é o espaço onde se celebra o encontro do mundo."
2 comentários:
Prazer se meter em teu ritmo... crias uma paisagem que encanta, é tão boa esta partilha... e como tu dizes, ela nos permite atravessar essa ponte que nos abre e abre a vida para o outro... Eu sinto o muito que tenho crescido na partilha, partilhe-mos, cresçamos... e superemos então essa fantasma da solidão, adorei esses pensamentos poético-filosóficos, abraços com ternura, Concha
Concha, somos companheiros da quintal; heje estive com o Juvenal e eele já sem voz, fala baixa pediu que não olvidássemos na ternura na partilha solidária ... Sorriu e disse que os sonhos são crias das insurgências... Partilhando nós e a natureza, caminhamos para lutar com arte e artear com luta insurgente e rebelde.
Abraços com carinho; jorge
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