Jorge Bichuetti
No quintal, o orvalho matinal angeliza meus pensamentos... Um devir querubim... Tudo é suave e belo. O cheiro das rosas me enternecem; as sombras diáfanas e o céu magicamente claro: estrelas e luar... A música de Milton e Gil... A Luínha dorme... Já lemos juntos Lorca: Gitano; ela ouviu-me atenta e, temerosa, do meu mal humor com o defeito do computador, aninhou-se nu'a almofada e viajou para as paragens do sonho. Imagino-a sonhando com as florescências flamencas... Não consegui ir em busca de palavras e imagens... Logo, as verei... Sereno, ando aprendendo a conviver com serenidade com mi'a humanidade, meus limites e equívocos... Desliguei, antes de fechar os programas e o computador genioso, agora, teima e finge que não me escuta... No pequeno, lido com a lentidão, com minha inabilidade... Milton e Gil cantam... dois guerreiros que sabemextrair potência e intensidade da mansidão, do lento, do frágil...
Vivemos uma vida acelerada, preenchida, plenificada no acúmulo de informações, tempo ocupado, tarefas volumosas... Somos na contemporaneidade o povo do stress... Força bruta e stress... Não logramos ainda descobrir a potência da lentidão: a força da suavidade.
Não voltarei a paralisia no mal humor com os desencontros e desvarios da vida que me obrigam a vivenciar o que preciso... Não se consegue paz e felicidade, se não assimilamos outros modos de existir...
Há força e vida na ternura suave da vida pachorrenta que acontece onde no silêncio da noite escuta-se o canto de galos nos quintais...
O rio não titubeia... alegre caminha, mansamente, buscando o mar... Vive cada momento da sua caminhada. remansos e cachoeiras... águas tranquilas e correntezas... O rio é um mestre: persistência suave; flexibidade afável...
Sabemos o que pode um corpo animado de força bruta...
Sabemos o que pode um corpo rodopiando na voracidade da vida acelerada...
Porém, se chove tempestade; se adoecemos; ou se nos vemos frágeis pelos anos vividos e pelo corpo exaurido numa longa existência, não sabemos poder... Não sabemos poder porque desconhecemos o que pode um corpo vitalizado de ternura, suavidade, mansuetude e lentidão...
Negamos a velhice e a estigmazamos por desconhecer que ali há u'a nova fonte de potência e vida; há a força da ternura e da suavidade...
Na velhice e na doença, como nos dias de tempestade, não se pode... não pode o que pode o frenético e a força bruta; contudo, se pode muito mais...
Desvendar este universo de novas potências é o caminho...
O caminho necessário para uma humanidade exaurida e esgotada do que resulta na potência extraída da força bruta e da acelaração frenética... Nos cansamos das guerras, da violência no cotidiano, das enxaquecas das bolsas de valores; da fibromialgia e do pânico; da depressão e do enfarte do miocárdio; das doenças crônico-degenerativas e da depressão; do tumores e da toxicodependência...
Queremos uma casa no campo... nossos discos, bichos e amigos...
Queremos caminhar no sereno... serenidade...
Queremos a ternura, a suavidade e mansidão dos voos dos pássaros... o singelo das flores rasteiras e anônimas que crescem na relva... Queremos paz...
Mudemos: nós que carregamos o peso do mundo nos ombros... passemos a viver coom as asas de voar, sonhar e, serenamente, aquietar-se na tranquilidade de quem sabe ouvir o vento e conversar com a magia enamorada do luar... O novo mundo é ternura e paz...
sábado, 4 de junho de 2011
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2 comentários:
Um estradear bucólico. A vida em contato com a natureza. Me pego muitas vezes pensando nisso, mas não consigo imaginar uma vida para mim totalmente ligada ao campo. Sou urbana, essencialmente urbana, mas mesmo na cidade prezo por uma vida caseira, entremeada de jantares, festas e barzinhos. Morei 20 anos no interior do RS e durante esse tempo todo mantive-me o mais possível ligada à natureza, isso foi lindo mas, em contrapartida, se somente lá ficasse, não teria evoluído intelectualmente. Há que se saber estabelecer um bom senso entre vida urbana e vida campestre, pois a natureza está sempre de braços abertos a nos esperar, nem que seja como refúgio da cidade grande. Que tal uma casa de campo para os finais de semana? Beijos
Tânia, hoje meu campo se resume a um quintal? mais u'a postura interior que um espaço externo...
A serenidade é pra mim u'a relação com a vida... Abraço com carinho, jorge
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